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Sirkis lutou por um
mundo melhor


11/07/2020


Sirkis lutou por um mundo melhor

Rogério Marques é Conselheiro da ABI

A vida inteira, desde criança, vejo muita gente reclamar dos políticos, dizer que detesta política. Essas pessoas não sabem que, quase sempre, a culpa da existência dos maus políticos é delas próprias, justamente por desprezarem a política como instrumento de mudanças.

As últimas eleições, de 2018, são a maior prova disso. No Rio, preferiram eleger para o Senado um indivíduo como Flávio Bolsonaro do que um professor conceituado, honrado como Chico Alencar. Para a presidência optaram por alguém como Jair Bolsonaro, em vez de um outro professor conceituado, ex-prefeito de São Paulo, com uma vida correta, como Fernando Haddad.

Digo isso a propósito da morte de Alfredo Sirkis, nesta sexta-feira, em acidente de carro. Sirkis, jornalista, ex-deputado, escritor, ambientalista, foi um desses políticos que honram os mandatos, que nos atraem para a política. Filho de uma família da classe média — estudou em bons colégios particulares –, sempre foi um inconformado com as injustiças sociais. Lutou muito contra isso, inclusive de arma em punho, durante a ditadura militar.

Como secretário municipal do Meio Ambiente, foi o responsável por um trabalho da maior importância — o reflorestamento de milhares de hectares, em quase 50 favelas e comunidades cariocas, do subúrbio à Zona Sul. Em cada uma delas Alfredo Sirkis estará sempre presente, na forma de ipês, cedros, quaresmeiras, guapuruvus, oitizeiros.

Houve uma bela sacada do Sirkis nessa onda verde que ele espalhou por todo o Rio. A prefeitura dava as mudas, mas os responsáveis pelo replantio eram os próprios moradores. Assim, eles ganhavam uma ajuda de custo e ao mesmo tempo tornavam-se defensores do meio ambiente, do trabalho que faziam. Que além de abrandar o calor nos meses de verão, evita deslizamentos de terra durante os temporais nessa estação do ano, quase sempre com vítimas.

Um desses trabalhos eu acompanhei de perto, nos anos 90. Foi o reflorestamento de uma parte do Morro Nova Cintra, divisa de Laranjeiras, Santa Teresa e Catete, onde fica a favela Tavares Bastos. Eu gostava e ainda gosto de fazer caminhadas por lá. Mais de uma vez encontrei o Sirkis, meu vizinho em Laranjeiras, supervisionando o replantio, conversando com o pessoal da associação de moradores. Eu, que adoro árvores e plantei umas poucas, admirava o entusiasmo daquele cara que, àquela altura da vida, já tinha plantado dezenas de milhares.

Alfredo Sirkis fez o que pôde para deixar este mundo melhor do que quando nele chegou, no dia 8 de dezembro de 1950. Tenho dúvidas se conseguiu, mas que lutou muito para isso, lutou.