Sindicato avalia situação e gerência do Grupo A Tarde


Por Edir Lima

05/02/2016


atardeA venda do Grupo A Tarde, da Bahia, da família de Ernesto Simões Filho (1886-1957), jornalista e empresário baiano que foi ministro da Educação no governo Getúlio Vargas, à holding paulista Piatra SP Participações S/A, foi muito comemorado pelos funcionários e fornecedores da empresa. O motivo se deve ao estado pré-falimentar do jornal, que teria capacidade de operar por apenas mais 60 dias.

Segundo o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado da Bahia, o Grupo A Tarde vinha enfrentando sua pior crise financeira e econômica nos últimos três anos, fruto de gestão equivocada desenvolvida na década anterior. A presidente da entidade, Marjorie da Silva Moura, ressaltou que, apesar do alívio, existe a apreensão sobre o prazo de 90 dias oferecido pelos novos donos para definir como a empresa será gerida a partir de agora.

“A direção do Sindicato dos Jornalistas da Bahia está atenta, juntamente com sua assessoria jurídica, mantendo contatos periódicos com o Ministério Público Trabalhista, tendo solicitado audiência com o procurador que mediou as demissões em dezembro para formalizar a situação atual da empresa”, frisou.

Marjorie da Silva Moura lembrou que, nos últimos dois anos, os funcionários deixaram de ter recolhido o FGTS e, no último semestre de 2015, passaram a sofrer com cada vez maiores atrasos nos pagamentos de salários e benefícios.

“Os trabalhadores aguardavam com ansiedade a perspectiva da venda da empresa diante da falta de condições dos controladores anteriores em administrar o negócio. Esta situação culminou com a demissão em massa de 153 funcionários, sendo 35 jornalistas, no dia 1º de dezembro do ano passado, mediante acordo firmado no Ministério Público do Trabalho entre a empresa e os sindicatos que representam as diversas categorias que trabalham na empresa.

A presidente do sindicato acrescentou que a crise financeira da empresa se deve muito ao boicote das empresas do setor imobiliário. Ela lembra que o jornal teve nos últimos anos sete jornalistas processados por um conglomerado imobiliário por matérias sobre a devastação de reservas de Mata Atlântica ao longo da maior avenida de Salvador e passou a sofrer um boicote publicitário por parte deste segmento.

“Aliada a crise do setor de impresso e a redução de anúncios publicitários em geral, vinha enfrentando grandes dificuldades que impediram maior independência editorial. É portanto com alívio que o Sinjorba recebeu o anúncio de que a direção da empresa controladora não tem posição política e prima pela divulgação e publicação da verdade, meta em comum com os jornalistas no exercício cotidiano profissional”, comentou a dirigente.

Com tiragem de cerca de 40 mil exemplares diários, o jornal possui dívidas com bancos, fornecedores e débitos trabalhistas estimados em R$ 150 milhões. O passivo será assumido pelos novos donos. Segundo a Folha de S.Paulo, o grupo foi comprado por R$ 25 milhões, que serão pagos em cinco anos.

O negócio inclui, além do jornal, a aquisição da rádio “A Tarde FM”, do jornal popular “Massa!”, do portal “A Tarde Online” e da gráfica pertencente à empresa.

A Piatra SP Participações é administrada pelos empresários Felício Rosa Valarelli Junior, da WYX Holding, e Roberto Lázaro, do Grupo DX Investimento, especializado na compra de empresas em dificuldade financeira. Os novos donos disseram que vão trabalhar para sanear as finanças da empresa e que manterão a independência editorial do jornal.