Logo na abertura do belíssimo “Ballet, Cultura Geral”, Ruth Lima adverte: “Vocês notarão que toda a terminologia do ballet é em francês”. Pobre de mim, que nunca quis, nunca tentei adentrar no francês de Diderot, Balzac, Voltaire, Dumas e tantos outros, inclusive de Proust, Molière e Rousseau. No meu tempo de estudante secundarista, a segunda língua estudada, em algumas escolas, era o latim. Mas – quê beleza! – o francês da dama do ballet Ruth Lima. Veja-se! É uma maravilha e aprende-se só de olhar.
Não a vi no palco, brilhando em sapatilhas, girando, rodopiando, arrancando suspiros dos jovens, com a sua beleza encantadora, pois quando aqui cheguei, num pau-de-arara voador, vindo de Maceió (AL), o Teatro Municipal, com suas cadeiras aveludadas, era para poucos.
Estamos em 1972, outubro ou novembro, noite adensada por vapores alcoólicos, e ao invés de adentrar o majestoso Palácio ficava sentado na varanda do Bar Amarelinho com um copo de chope na mão, fazendo contato em busca de emprego e olhando embevecido o movimento de senhoras, senhores, moças e rapazes, elegante e ricamente vestidos. Mas fiquei encantado ao ler, de cabo a rabo, dois livros da dama do ballet e primeira bailarina do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, Ruth Lima.
Ora, depois de lê-los, chego a ousar: se não fosse homem (sem preconceito, pois sou nordestino), baixinho e feioso, seria bailarino pelas mãos, os pés e a cabeça da divina Ruth Lima. Mas agora também não dá, pois além dessas qualidades desclassificadoras há outra igualmente impeditiva: a idade avançada.
Graciosa, bela e elegante no palco – vejo-a nas fotos –, Ruth Lima também o é no texto refinado, claro e harmonioso, ao contar como nasceu, cresceu e firmou-se no ballet e os passos e as piruetas que deu para chegar até nós. Foi muito esforço e dedicação e hoje procura, com carinho, transmitir seus conhecimentos aos jovens com pendores artísticos e vocação para essa dança clássica.
Ruth nos dá notícia de que o ballet nasceu na Itália, desenvolveu-se na França no reinado de Luís IV e chegou à Inglaterra e daí espalhou-se por toda a Europa. Permitam-me uma ilação: Napoleão Bonaparte, gordo e mulherengo, apoiou esse bailado, muito – acredito que para o monarca e sua corte – excitante.
Os livros de Ruth Lima, jornalista, professora e Primeira Bailarina do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, são importantes e essenciais à formação de jovens bailarinos, coreógrafos, costureiros e decoradores, pois conta a história do ballet clássico e moderno, inspirado em temas populares e na literatura de costumes. No livro “Ballet, Cultura Geral”, que deve ser lido por todos os amantes dessa dança clássica, bem como pelos que nela atuam como profissão, a autora relaciona os nomes mais importantes do ballet italiano, francês, russo e sueco, inclusive dos Estados Unidos, dando-lhes o seu merecido valor como artistas geniais.
Na música Ruth Lima cita Tchaikovsky, Haydn, Strauss, Chopin, Verdi e Heitor Villa-Lobos; e na literatura, Molière, Gogol e Pushkin, como inspiradores de muitos ballets, que nasceram na Corte e ganhou popularidade incontestável nos palcos dos teatros europeus e migrou para as Américas, encantando homens e mulheres de várias gerações e de espírito.
No Brasil, o ballet conquistou Ruth Lima e dele foi inicialmente princesa e depois rainha. Hoje, a rainha ensina sua arte, transmite seus conhecimentos a jovens princesas que, certamente, seguirão seus passos e volteios no adágio, no allegro e nas pirouettes, lindamente ensaiados.
Ruth Lima escreveu outros livros. “As Garças da Ribalta” é um deles, lindamente ilustrado com fotos maravilhosas. Numa delas, aparecem os saudosos Austregésilo de Athayde, então Presidente do Jornal do Commercio e da Academia Brasileira de Letras, e José Chamilete, diretor do JC, com quem convivi nos meus tempos do Jornal do Commercio, ao lado dos grandes amigos Aziz Ahmed e Antônio Galegari.
O interessante “As Garças da Ribalta” conta a trajetória artística de Ruth Lima, que presta uma linda homenagem ao seu incentivador no inicio da sua carreira artística: José Bernardo da Silva, um homem simples, que nasceu pobre em Alagoas, chegou às artes através da literatura e da música, foi deputado e benfeitor dos pobres e oprimidos.
Esse livro é prefaciado por Eunice Khoury e comentado por F. Silva Nobre, da Academia Cearense de Ciências e da Academia Pan-Americana de Letras e Artes. As orelhas da capa e da contracapa são assinadas por Cássio Emmanuel Barsante.
Ruth, obrigado por me mostrar as artes e riquezas do ballet clássico.
______________________________________
Pereirinha é colunista político do jornal A Tribuna, de Niterói, membro do Conselho Deliberativo e Presidente da Comissão de Sindicância da ABI.