Rocinha: contrastes e confrontos em uma favela carioca


06/07/2021


Fotografias de Alcyr Cavalcanti


SFF REABRE GALERIA DE EXPOSIÇÃO COM MOSTRA SOBRE A ROCINHA

A Sociedade Fluminense de Fotografia (SFF) inaugura nesta quinta-feira, dia 8, às 17 horas, a exposição do fotojornalista Alcyr Cavalcanti, “Rocinha: Contrastes e confrontos em uma favela carioca”. A mostra integra o 27º Congresso Mundial de Arquitetos, que acontece durante este mês na cidade do Rio de Janeiro. A exposição ficará em cartaz até o dia 31 de julho, de 9h às 18 (de segunda a sexta) e de 9h às 13h ( aos sábados), na Galeria Octávio do Prado da SFF.

 

“Desde março do ano passado que suspendemos as nossas exposições por conta da pandemia. Montamos nossos cursos on-line, mas agora estamos gradativamente retomando com as aulas presenciais e agora com a exposição do mestre Alcyr Cavalcanti”, explica Antônio Machado, presidente da SFF.

Alcyr Cavalcanti, que já trabalhou em diferentes veículos de imprensa do país, além de agências internacionais, é mestre em antropologia pela Universidade Federal Fluminense e secretário geral da Arfoc. A exposição reúne fotografias tiradas por ele ao longo da carreira, algumas das décadas de 80 e outras do momento atual.

“Não tenho a pretensão de contar toda a história da Rocinha e de suas transformações, o que seria impossível. A exposição compartilha imagens obtidas de fragmentos da realidade, de acordo com a minha ótica”, sintetiza ele.

As imagens expostas na Mostra de Alcyr Cavalcanti fazem parte de um trabalho fotográfico iniciado no final dos anos 80, quando ele trabalhava em jornais diários e posteriormente em uma pesquisa de campo ao utilizar a fotografia como método em ciências sociais.

Serviço:
Abertura da exposição: 08/07/2021 às 17h

 

De segunda à sexta, das 9h às 18h e aos sábados, das 9h às 13h.
Local: Galeria Octávio do Prado, Sociedade Fluminense de Fotografia. Rua Dr. Celestino, 115, Centro, Niterói, RJ. 

“A Rocinha parece um vulcão adormecido, mas que pode explodir a qualquer momento”

                                          Tio Lino, um morador

O objetivo da exposição é apresentar alguns aspectos da Rocinha, um espaço urbano, complexo e multifacetado, aos participantes do 27º Congresso Mundial de Arquitetos no Rio de Janeiro em julho de 2021. As imagens são o resultado  de um trabalho fotográfico desde  o final dos anos oitenta, de inicio como fotojornalista, a serviço de jornais diários e posteriormente em uma pesquisa de campo, ao utilizar a fotografia como método em ciências  sociais. Desde 1988 muitas coisas mudaram e muitas coisas permaneceram, mas o narcotráfico, sua maior economia,  continua firme e forte em centenas de becos e vielas. Os “donos do morro” após breve reinado são substituídos como meras peças de reposição, nessa estranha indústria.  As fotografias visam permitir um diálogo, enfocando seus meios de inserção e as redes de relações sociais que se estabelecem entre os moradores, os poderes locais e os poderes supralocais. Paraiso tropical para uns, inferno astral para outros a Rocinha é considerada bairro por decreto municipal, embora tenha ainda áreas com características de favelas, como falta de urbanização, saneamento básico, construções irregulares em áreas de risco, que tem motivado algumas intervenções oficiais, principalmente devido ao Programa de Aceleração do Crescimento-PAC.  Com uma imensa população estimada em mais de 145 mil habitantes, formada em seu inicio por migrantes vindos do Nordeste, a maioria sobrevive na prestação de serviços em uma  imensa área que apresenta enormes contrastes em seus dezoito sub bairros.

 

A Rocinha sempre teve um crescimento desordenado fruto de invasões sucessivas e de sua localização privilegiada, com soluções de moradia de forma desordenada, sem nenhuma urbanização. Suas centenas de becos e vielas onde a luz do sol não penetra potencializa doenças há muito extintas, como tuberculose,  hanseníase e leptospirose. A Pandemia da Covid-19 atingiu uma localidade que tem seus limites geográficos pouco definidos, com a Gávea e São Conrado,  considerados “bairros nobres”.  Atualmente  não para de crescer com novas construções. Seus limites em direção ao Parque da Cidade e ao Vidigal estão ficando cada vez mais tênues, em uma verdadeira explosão demográfica. A localidade faz parte do programa de pacificação de favelas (UPP) desde a invasão pelas forças armadas em novembro de 2011 e a posterior implantação de uma Unidade de Policia Pacificadora, que provocaram mudanças nas redes de relações entre os moradores. A politica de segurança foi colocada em xeque, depois do “Caso Amarildo” em julho de 2013, rompendo o frágil equilíbrio entre a convivência com as forças de ocupação, e a possibilidade de mudanças de estratégia por parte das autoridades.

 

Não tenho a pretensão de contar “toda a história da Rocinha”, e de suas transformações o que seria impossível, seria apenas para compartilhar imagens obtidas de “fragmentos da realidade”, segundo minha ótica. Um lugar onde trabalhadores, bandidos e heróis caminham lado a lado entre casebres inacabados e edifícios de oito andares, entre dejetos de todas as formas, a academias de ginastica e salões de beleza, entre templos que pregam a salvação para os infiéis pecadores, lembrando o Apocalipse final, a lojas de sex-shop.  Na calada da noite, em becos e vielas de difícil acesso encon

 

tramos  um número ainda considerável de pontos de venda de drogas, a varejo, hoje em dia democratizadas, para todas as classes e frações de classes sociais. Na entrada da imensa localidade, uma ponte, um arco projetado pela genialidade de Oscar Niemayer veio para facilitar o acesso, anteriormente feito pelo Largo da Macumba como é conhecido pelos moradores, apesar de ter sido renomeado Largo das Flores devido à influência da Igreja Universal do Reino de Deus-IURD, que ali construiu um templo. O Arco de Niemayer veio trazer também a esperança de uma união, uma ponte entre favela e asfalto, na certeza que dias melhores hão de vir.


Alcyr Cavalcanti jornalista profissional tendo trabalhado em vários jornais e revistas do Rio e São Paulo e Agencias Internacionais. Mestre em Antropologia pela Universidade Federal Fluminense, presidente da Associação de Repórteres Fotográficos e Cinematográficos do Brasil-ARFOC-Brasil. Em 2011 participou do Seminário Populaire, Précaire na ENSAPLUS em Paris la Villette com uma série de imagens da Rocinha, com o título Rocinha/SA . Pela editora Frutos publicou em 2013 o livro “É sexta de carnaval, o ensaio é geral”, onde analisa as relações entre o Samba, a Contravenção e o Narcotráfico.

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