Relíquia do modernismo brasileiro


08/09/2009


Na manhã deste sábado, dia 5, o edifício-sede da ABI recebeu a visita de arquitetos, historiadores, artistas plásticos, professores e estudantes de diferentes partes do mundo.

Construído entre os anos de 1936 e 1939, durante a presidência de Herbert Moses, o prédio, que leva a assinatura dos irmãos Marcelo e Milton Roberto, ícone da arquitetura moderna brasileira, foi tombado em 1965, pelo Instituto do Patrimônio Histórico Estadual.

A visita integra as atividades do Projeto de Documentação e Conservação de Prédios e Quarteirões do Movimento Moderno (do.co.mo.mo international), uma ONG que nasceu na Holanda, em 1988, tendo Paris como atual sede mundial:
— No Brasil, alguns professores se organizaram e fundaram a sede nacional na Bahia. A cada dois anos, é realizado o encontro nacional em diferentes cidades. Desta vez, o encontro está sendo realizado no Rio de Janeiro. Dividimos o roteiro em duas partes: prédios residenciais e institucionais, e o edifício-sede da ABI que não poderia ficar de fora, devido ao seu reconhecimento internacional — diz a arquiteta Daniela Ortiz.

Segundo Daniela, a construção passou a ser conhecida em todo o mundo após ter figurado no livro “Brazil Builds”, publicado pelo Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMa) em meados dos anos 40:
— Mas a grande maioria das pessoas conhece o edifício apenas externamente, por meio de fotografias.

Acústica

Guiados por Daniela Ortiz e pelo funcionário da ABI, Neílson Lopes Paes, o grupo iniciou a visita pelo Auditório Oscar Guanabarino, situado no 9º andar, onde Daniela chamou a atenção dos presentes para o revestimento das paredes do auditório por azulejos feitos em madeira, detalhe que, segundo a arquiteta, “mostra a preocupação que os irmãos Roberto tiveram em relação à acústica do local”.

Em seguida, conheceram o Salão de Estar, no 11º andar. Batizado com o nome do compositor Heitor Villa-Lobos, ilustre frequentador do espaço destinado ao lazer e ao convívio dos associados, com mesas de sinuca, televisores e exemplares dos principais jornais do País. Da varanda, os visitantes se entusiasmaram com a imponência dos prédios da Biblioteca Nacional, Teatro Municipal e Museu Nacional de Belas Artes.

A arquiteta argentina Ines Persia comentou a semelhança entre o edifício-sede da ABI e as construções de sua cidade natal, San Juan, reconstruída por expoentes do modernismo argentino em 1950, após o terremoto de 1944:
— Moro nas proximidades da Cordilheira dos Andes e lá o sol é muito intenso. As edificações utilizaram a mesma solução climática empregada no prédio da ABI, com o brise-soleil construído na vertical, permitindo que a iluminação natural penetre o ambiente de uma forma suave. 

A visita prosseguiu no 7º andar, onde estão localizados a Presidência, a redação do ABI Online e o setor administrativo da entidade. A arquiteta argentina Cristina Monfort destacou o formato curvilíneo da parte externa do banheiro feminino, revestido em madeira sucupira do Pará:
— No primeiro momento do Modernismo, os arquitetos se inspiraram muito no estilo de construção dos navios, de onde se originam essas curvas.

Prazer

Ao final da visita, Kátia Bittencourt, vinculada ao setor de Projetos e Obras da Universidade Federal Fluminense (UFF), expôs sua impressão ao visitar a sede da ABI pela primeira vez:
— Trata-se de um edifício em que o visitante sente prazer em entrar, devido aos amplos espaços internos e a excelente ventilação e iluminação. Ele impressiona ao conjugar uma arquitetura sóbria, ao mesmo tempo funcional e muito bonita. 

No hall de entrada do prédio, a artista plástica e advogada Marilza Cardoso se mostrou impressionada com a simplicidade e qualidade estética do edifício-sede da ABI:
— Gosto muito das construções antigas. Mesmo com pouco conhecimento e equipamentos precários, os arquitetos realizaram um trabalho de excelente qualidade, com uma riqueza de detalhes que mostra o cuidado ao construí-lo.