Quando um furo vira barriga


28/06/2022


Fichel Davit Chargel, do Conselho Consultivo da ABI

O furo jornalístico é um velho conhecido. Mas a barriga caducou, ficou velha. Algumas foram marcantes em sua época. Arrancaram muitas risadas, de um lado, de outro causaram constrangimento e vergonha.

Em 12 de agosto de 1967, o jornal O Globo publicou, na primeira página, uma foto com texto-legenda e chamada para a página 9, com o seguinte teor:

Maurice Chevalier
chega hoje ao Rio

“A atriz Naura Hayden, que se encontra entre nós filmando “As Três Mulheres de Casanova”, sob a direção de Vitor Lima, informou ontem a O GLOBO que, a convite seu, chegará hoje ao Rio o famoso cançonetista francês Maurice. A atriz escusou-se de fornecer outros detalhes, acrescentando apenas que Chevalier, hoje quase octogenário, viria para uma curta temporada de recreio e que provavelmente recusaria qualquer proposta para exibir-se profissionalmente. A última vez que o criador de “Valentine” esteve no Rio foi em 1963 (Página 9)

No alto da página 9, o título em três colunas e vários intertítulos, destacava-se a matéria, na qual se contava a história do famoso cantor francês.


No dia seguinte, sem dó nem piedade, o jornal Luta Democrática, de propriedade de Tenório Cavalcanti, publica no alto da primeira página um texto legenda com o título “O MAIOR CHEVALIER DO MUNDO!”


A foto mostra um cachorrinho de chapéu de palha, no estilo usado por Chevalier, seguida pelo texto: “Procedente de Paris, chegou ontem à Guanabara, confirmando um furo de reportagem de um jornal carioca. “Maurice Chevalier II, um atilado cãozinho de propriedade da atriz Naura Hayden que se encontra entre nós filmando “As Três Mulheres de Casanova”. Bem-humorado, tal e qual o seu homônimo e usando o clássico chapéu de palha. “Chevalier” foi logo dizendo ao repórter daquele órgão noticioso – “Antes da entrevista, meu chapinha, vê se me arranja um poste legal, tá?” O Chevalier que chegou foi presenteado pelo famoso cançonetista francês à atriz Naura, que permanecerá na Guanabara por mais três meses. Este não canta, nem é ator, mas já devia ser conhecido “por todo globo terrestre”.

Essa foi uma barrigada de primeira. E mesmo não se falando mais nela, continua sendo cometida por aí. Para os focas, fica o alerta: um furo pode virar uma barriga. Mas o contrário não ocorre jamais.