10/02/2005
O repórter fotográfico Antonio Scorza explica bem a diferença entre texto e imagem numa cobertura de guerra:
“Quando há um enfrentamento, tudo acontece muito rápido. Disparar uma arma dura apenas alguns segundos. O repórter pode esperar o desenrolar da situação, inclusive para obter maiores informações. O fotógrafo, por outro lado, precisa registrar o momento do disparo. Se ele se atrasar, tudo o que ele terá será a arma fumegante ou um tanque circulando”.
Antonio Scorza/AFP |
Mujahedin exibe as botas de motorista morto em Abu Gharib (oeste de Bagdá), abril de 2004. |
Scorza foi o autor da foto exclusiva da AFP, capa em vários jornais do mundo, em que um mujahedin (combatente muçulmano) aparece segurando as botas de um motorista ocidental morto após ataque a um comboio de abastecimento de combustíveis na estrada entre Bagdá e Fallujah. Este dia, em que casualmente se encontrava na rota onde aconteceu o ataque, ele diz ter sido seu grande momento profissional e o mais arriscado da cobertura.
Para ele, o segredo de uma boa foto é a antecipação dos acontecimentos, tanto para decidir como se proteger quanto para se ter um bom enquadramento.
A proteção é fundamental porque numa cobertura de guerra, explica Scorza, além de perder a visão periférica por estar com a câmera junto ao rosto, o fotógrafo usa lentes curtas, que dão maior mobilidade, mas deixam o profissional mais vulnerável por precisar se aproximar da situação a ser registrada. Além disso, lembra ele, à distância, a lente da câmera se parece com um RPG (lançador portátil de granadas), tornando o fotógrafo ou cinegrafista um alvo preferencial.
“Vários fotógrafos e cinegrafistas foram mortos por este motivo”, revela.
A recomendação, nestes, casos é deixar claro quem você é.
“Quanto mais o jornalista se identificar, melhor”, diz ele, que ressalta a importância de o correspondente se preparar em cursos específicos que oferecem treinamento para jornalistas que cobrem conflitos.
Embora não tenha participado de nenhum, ele salienta que os conhecimentos passados por colegas que tiveram a oportunidade de faze-los foram muito importantes.
Concentrados nos Estados Unidos e na Europa, estes cursos foram criados por ex-militares para minimizar os riscos de correspondentes de guerra serem feridos ou mortos durante a cobertura. Ali os jornalistas aprendem a escapar do fogo cruzado, como reconhecer as trajetórias das balas, as últimas inovações tecnológicas da indústria bélica, a procurar áreas protegidas durante a cobertura, além de primeiros socorros, como evitar e eventualmente negociar um seqüestro, prevenir-se de armas químicas, etc.
Com duração média de cinco dias, têm um custo salgado: entre dois e cinco mil dólares.
Um dos mais conhecidos, o Ake (Awardeness, Knowledge anda Excellence), foi criado em 1991 por ex-militares das forças de elite do exército britânico. A princípio, o curso era oferecido para executivos e diplomatas que seriam enviados para áreas hostis, mas passou a ser ministrado também para jornalistas depois de um período especialmente mortal para jornalistas em meados da década de 90, especificamente durante a guerra da Somália, em 1993.
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