Protestos marcam fim da versão impressa do JB


31/08/2010


Dezenas de pessoas se reuniram na Cinelândia, Centro do Rio, para protestar contra o fim da versão impressa do Jornal do Brasil, que circulou pela última vez nesta terça-feira, 31.
 
Jornalistas, a maioria ex-empregados do JB, representantes de entidades sindicais e alguns leitores lamentaram a crise financeira que encerrou os 119 anos do veículo que marcou a história do jornalismo brasileiro e do País.
 
O fim da edição impressa interrompe o ciclo do jornal que chegou a ser um dos mais influentes do Brasil e ganhou destaque com a postura corajosa em defesa da democracia e das liberdades.
 
O empresário Nelson Tanure,  detentor do direito de licenciamento da marca, decidiu manter o jornal apenas na rede como um apelo ecológico:
—Os custos econômicos e ambientais do papel são insustentáveis. São inclusive desnecessários. No primeiro ano da versão digital as áreas florestais preservadas corresponderão a 1,2 mil (estádios) Maracanãs”, assegura o JB, que calcula que em cada edição dominical impressa sacrifica 200 árvores, 10 mil litros de água e 40 megawatts de energia, informa a Direção do JB no site.
 
A última edição impressa circulou nesta terça-feira, 31, de forma precária, se esgotando rapidamente. Algumas bancas não receberam um único exemplar. A circulação atual de pouco mais de 20 mil exemplares contrasta com a tiragem média que costumava ultrapassar os 200 mil jornais diários.
 
Em seu último número, o jornal anunciou um artigo do Presidente Lula para a primeira edição 100% digital, destacando que o projeto para o formato digital foi apresentado na última semana ao Secretário de Comunicação Social da Presidência, jornalista Franklin Martins, que considerou o processo natural:
—Há alguns anos pensava diferente. Não sabemos exatamente como será o futuro, mas acredito que, em 25 anos, mais ou menos, todos os jornais abandonarão o papel e vão se transferir para o meio digital.
 
A Presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro (SJPMRJ) jornalista Suzana Blass, manifestou opinião contrária a do Ministro, durante o protesto na Cinelândia:
—Ninguém deve se conformar com o fim do Jornal do Brasil porque a versão on-line do veículo só terá valor jornalístico se for produzida por uma equipe constituída por um número expressivo de jornalistas bem remunerados e qualificados.
 
De acordo com o Sindicato, embora a Direção do jornal informe que cerca de 100 profissionais vão trabalhar na versão on-line, há informações de que a atual redação foi reduzida a 25 profissionais, além dos cinco que trabalhavam nas colunas sociais. E que, nos últimos 30 dias, um número equivalente de jornalistas foi demitido ou pediu demissão.
 
—O jornalismo on-line é uma incógnita e a tendência é que fracasse se for produzido por apenas 20 ou 30 profissionais, sem nenhuma estrutura, como todos imaginamos que vai acontecer, criticou Suzana Blass.
 
Presente à manifestação na Cinelândia, o Deputado federal e jornalista Fernando Gabeira (PV), que chefiou o Departamento de Pesquisa do JB, disse que aceitaria trabalhar de graça até que o novo veículo se firmasse financeiramente.
   
Norma Hauer, 85 anos, uma das mais antigas leitoras do Jornal do Brasil ressaltou a importância histórica do veículo:
—Meu pai assinava o JB. Aprendi a ler folheando as páginas do jornal. A versão on-line não é a mesma coisa. A perda para os jornalistas será menor porque cada um dos ex-empregados pode ir trabalhar em outros veículos no Rio de Janeiro, como O Dia e o Extra. Mas nós leitores não temos como ir para outro jornal. Eu nunca poderia imaginar que o Jornal do Brasil fosse acabar um dia. Isso doi, é muito triste.
 
As manifestações contra o fim da versão impressa do JB seguem na noite desta terça-feira, a partir das 18h, no restaurante Capela, na Lapa, durante o lançamento do livro “Jornal do Brasil: memórias de um secretário. Pautas e fontes”, do jornalista Alfredo Herkenhoff.
 
Nesta quarta-feira, dia 2, o fechamento do Jornal do Brasil será tema de debate organizado pelo SJPMRJ e a Associação dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos do Rio de Janeiro (Arfoc-RJ), às 19h, no auditório João Saldanha, na sede do Sindicato(Rua Evaristo da Veiga, nº 16, 17º andar – Centro do Rio). Na ocasião será apresentada a mostra “Avenida Brasil 500 — JB o fim de uma Era”, com imagens do fotógrafo Rogério Reis.
A partir desta quarta-feira, 1º de setembro, a leitura do JB na versão digital passa a ter conteúdo aberto, e para a leitura de matérias e informações em todo o site, o custo da assinatura mensal é de R$ 9,90.