Prisão de jornalista gera crise na África do Sul


04/08/2010


A prisão nesta quarta-feira, 4 de agosto, em Joanesburgo, do jornalista do Mzilikazi wa Afrika, que trabalha no Sunday Times, aumentou a crise entre a imprensa e o Governo da África do Sul, que vem-se desdobrando há várias semanas.
 
O jornalista foi detido e algemado quando saía do prédio do jornal, no bairro de Rosenbank, por um grupo de policiais à paisana, que chegou a interromper o trânsito.  
 
Para o editor-chefe do Sunday Times, Ray Hartley, a prisão de Mzilikazi wa Afrika representa um ato de intimidação contra a imprensa por parte de “um Governo que vem propondo há algum tempo a constituição de um tribunal da comunicação social”. No meio jornalístico, há uma grande desconfiança de que por trás dessa manobra se esconde o desejo do Governo de controlar o conteúdo editorial das publicações.
 
Apesar dos protestos de vários jornalistas que tentaram impedir que Mzilikazi wa Afrika fosse preso, além de questionar o motivo da sua prisão, ele continua detido.  A justificativa do porta-voz da unidade especial de investigação da polícia (os “Falcões”), Musa Zondi, é de que o jornalista estaria usando documentos falsos.
 
A detenção de Mzilikazi wa Afrika aconteceu ao final de uma reunião do Fórum de Editores Sul-Africanos (SANEF), realizada na sede do Sunday Times, que debateu as implicações da proposta do Governo em estabelecer um tribunal da comunicação social, medida considerada pela maioria das empresas do setor uma tentativa de retaliar os veículos que expõem casos de corrupção envolvendo membros do Governo e do Congresso Nacional Africano (CNA), partido que ocupa o poder.
 
Mzilikazi wa Afrika foi um dos autores de uma reportagem do Sunday Times, publicada no último domingo, 2 de agosto, na qual foi revelado que o Comissário nacional da polícia, Bheki Cele, sem a abertura de licitação pública, teria assinado um acordo de arrendamento a longo prazo de um prédio inteiro em Pretória (pertencente a um membro do CNA), no valor de 500 milhões de randes (50 milhões de euros), para a instalação de unidades policiais.
 
O editor do Sunday Times disse que a prisão de Afrika abre um precedente perigoso nas relações entre a imprensa e o Governo:
— Espero que, para o bem do nosso país, Wa Afrika não tenha sido preso sob acusações espúrias com o objetivo de o punir por aquilo que escreveu, afirmou Ray Hartley.
 
O Presidente do Congresso do Povo, Mbanzima Shilowa, acusou a polícia de tentar silenciar a imprensa livre, “que atua sem medo, favores ou parcialidade”.
 
Os proprietários do Sunday Times garantem que estão fazendo tudo o que está ao seu alcance para defender o jornalista e garantir a sua segurança e bem-estar, acusando a polícia de ter utilizado métodos e força desmedidos no ato da prisão.
 
* Com informações do Jornal de Notícias.