Peculiar sensibilidade para falar dos sem-terra


21/02/2008


José Reinaldo Marques 
22/02/2008

O “Em foco” desta semana é dedicado ao trabalho de Olívio Lamas, que morreu em 23 de junho de 2007, em sua casa, às margens da lagoa de Ibiraquera, em Imbituba-SC, deixando esposa, seis filhos e três netos. O repórter-fotográfico tinha 40 anos de profissão e 58 de idade. “Foi um dos mais brilhantes profissionais do jornalismo brasileiro”, diz o amigo e jornalista Carlos Stegemann, atualmente Diretor de Relações Institucionais da Associação Catarinense de Imprensa (ACI).
 
Em homenagem ao fotógrafo, em 2007 a ACI e o Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina, com o apoio da Fenaj, promoveram a primeira edição do Troféu Olívio Lamas de Fotojornalismo. As imagens vencedoras — que no início deste ano foram expostas em Florianópolis — e o histórico do prêmio podem ser acessadas nos sites www.palavracom.com.br e www.sjsc.org.br. Os três primeiros colocados no concurso foram os fotojornalistas Hermes Bezerra (Diário Catarinense), Rubens Flores (Diário do Litoral) e Júlio Cavalheiro (Diário Catarinense). 

Ética e cidadania

Gaúcho de Rio Grande, Olívio Lamas iniciou sua formação profissional em Porto Alegre, onde trabalhou nos jornais Zero Hora, Correio do Povo e Folha da Manhã. Segundo Carlos Stegemann, uma das suas principais características era sempre estar pautado pela ética, em prol dos direitos civis:
— Com um trabalho de profundo conteúdo social, Lamas conquistou importantes prêmios, como o Esso de Fotojornalismo e o Vladimir Herzog de Direitos Humanos. Além disso, teve destacada militância em defesa da ética e da cidadania.

Ao longo das quatro décadas de carreira, Lamas cobriu duas Copas do Mundo, muitos GPs de Fórmula-1, algumas campanhas eleitorais e incontáveis movimentos sociais. Trabalhou oito anos em São Paulo, onde foi editor de Fotografia da sucursal do Globo e Diretor do Sindicato dos Jornalistas Profissionais daquele Estado. Depois mudou-se para Santa Catarina, onde assumiu a função de editor de O Estado e atuou como freelancer para o Jornal do Brasil e a revista Globo Rural.

Escolha

O material fotográfico de Olívio Lamas apresentado aqui foi produzido na cobertura de sucessivas invasões de terra, no inverno de 1989, no extremo Oeste catarinense, e foi selecionado especialmente para o ABI Online por Carlos Stegemann, também responsável pelas legendas:
— De origem muito humilde, ele exprimia sua peculiar sensibilidade quando fotografava os menos favorecidos. As imagens que editei são uma ínfima parte de um acervo magnífico da produção deste que foi um dos maiores nomes do fotojornalismo brasileiro.

O Diretor da ACI acha que esse trabalho pode ser comparado a ensaios de notáveis profissionais da imagem, como os do brasileiro Sebastião Salgado no ensaio sobre trabalhadores do mundo inteiro que resultou no livro “Workers”:
— O Lamas valorizou a estética da informação usando aquilo que, em primeira instância, seria entendido como obstáculo: neblina abundante, luz escassa entremeada pelas árvores — confundindo o fotômetro, permanentemente — e até uma desconfiança inicial das lideranças do movimento, que não permitiam nosso ingresso desacompanhado pelo acampamento.

Valorização

Stegemann diz que o que mais valorizou essa experiência de Olívio Lamas foi a luta contra o tempo:
— Na época ainda não convivíamos com a tecnologia digital e era preciso revelar e ampliar o material produzido, para depois transmitir telefotos. Ocorre que dependíamos da boa vontade dos colegas da sucursal do Diário Catarinense em Chapecó, a mais de 120 quilômetros do local conflagrado.

Orlando Britto, editor de Fotografia do JB em 1989, foi um dos que soube muito bem valorizar o material produzido por Lamas, o que resultou em contínuas edições de qualidade, o que, para Stegemann, “reafirmou um padrão do próprio jornal”. 


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