15/08/2024
Por Sonia Santos (*)
Da formação jornalística nos anos oitenta na Faculdade Hélio Alonso, ao ambiente universitário nos dias de hoje, atravessei muitas mudanças na sociedade brasileira; as tecnológicas, as sociais e as políticas. Percebe-se novas epistemologias advindas dos movimentos dos povos excluídos do país. A periferia transborda as suas fronteiras indo em direção ao centro ciente da falta de entendimento e interesse às questões pertinentes às suas causas.
O lema Nós por Nós traduz a força das atitudes da massa humana que vive nos espaços limiares da sociedade. Se safando como pode, essa gente sonha com um mundo mais incluso, mais unido em prol às causas comuns. UBUNTU! Gritam ao coletivo. A expressão ecoa na busca por fortalecimento intelectual e econômico dos negros e negras, incentivando a produção de livros, artesanato, comércio, espaços novos de lazer que acolhem todos os segmentos sociais, conferindo maior visibilidade à cultura afro-brasileira.
No rol dessa demanda, três intelectuais profundamente engajados com a realidade brasileira e cientes das barreiras enfrentadas pelo nosso povo na ascensão social e intelectual, lançaram uma iniciativa inovadora: uma incursão de pesquisadores afro-brasileiros no curso de Letras Clássicas da Universidade de Coimbra. O Prof. Brian Kubuuka da Universidade Estadual de Feira de Santana e prof. auxiliar da Universidade de Coimbra idealizou o projeto e convidou dois proeminentes ativistas periféricos cariocas para ajudá-lo: Jairo Carioca de Oliveira, psicanalista periférico, Dr. h. c. Psicologia pela Logos University Internacional, Doutorando e Mestre em Educação (PPGEduc /UFFFJ), e Ronald Lopes, Psicanalista, Mestre e Licenciado em História pela UNIRIO também coordenador de coletivos de pesquisa em psicanálise e educação. Ambos ativaram suas redes, dedicando-se intensamente ao projeto de doutorado em Coimbra. Após um rigoroso processo seletivo, dez afrodescendentes foram selecionados incluindo eu, com alguns candidatos já buscando seu segundo doutorado.
Reconhecendo a importância de nossa representação além das fronteiras periféricas, estamos entusiasmados com a oportunidade e levar o diálogo entre afro-brasilidades e outras culturas ao núcleo da formação intelectual portuguesa. Iniciaremos reuniões online, em setembro, e, no próximo semestre, precisaremos de apoio logístico e financeiro para cobrir despesas com passagens, moradia, alimentação e adaptação cultural, além de uma boa articulação com a direção acadêmica. Estou particularmente honrada em representar a ABI nesta jornada que ampliará as fronteiras do conhecimento afrodescendente.
(*) Sonia Santos é jornalista e integra a Diretoria de Igualdade Étnico-Racial da ABI.