Os 50 anos do primeiro título do mundial (II)


20/06/2008


Depois do empate frente à Inglaterra, havia uma grande expectativa com relação à partida contra a URSS. Falavam maravilhas do futebol científico praticado pelos soviéticos, assim denominado em razão do aprimoramento técnico e tático desenvolvido por seu treinador Katchalin.

Paulo Amaral nos falou sobre a preocupação de Vicente Feola:
— Antes do jogo contra a URSS, quando o Ernesto Santos ia passar suas observações sobre a equipe soviética, o Feola disse: “Paulo e Dr. Hilton, hoje vocês não tiram o Garrincha e o Pelé de jeito nenhum.”

Feola cumpriu a palavra e o Brasil mostrava ao mundo suas estrelas únicas existentes no universo do futebol: Garrincha e Pelé. Mane, logo de início, não tomou conhecimento da “Cortina de Ferro” e, após deixar alguns “joões” para trás, bombardeou a trave esquerda da meta de Yachin (à esquerda). Aos dois minutos de jogo, o raçudo Vavá penetrou entre os zagueiros adversários, soltou um torpedo e marcou o primeiro gol brasileiro (à direita).

Com seu maravilhoso futebol, a seleção brasileira não tomava conhecimento do rígido sistema soviético no Estádio Nya Ulevi. As milagrosas defesas de Yachim e a trave impediam a ampliação do placar. Até que, aos 31 minutos da etapa final, novamente Vavá encerrava o marcador.

Na opinião de Paulo Amaral, a vitória sobre o País de Gales foi o passo decisivo para o título:
— Nós sentimos que ganharíamos a Copa após o jogo com o País de Gales, porque o Brasil dominou o jogo totalmente. Eles se fecharam na defesa, até que saiu o gol antológico do Pelé.

A equipe galesa não fazia a menor questão de vencer e montou o maior bloqueio já visto num jogo de futebol. O domínio brasileiro era absoluto, mas nulo, já que sem gols. Aos 28 minutos do segundo tempo, luziu a arte inigualável de Pelé. Três fantásticos artistas da bola participaram da jogada. Garrincha para Didi, que estendeu a Pelé, que virou rápido, com o pé direito deu um lençol no marcador e, ao ficar de frente para a meta de Kelsey, com o pé esquerdo colocou a bola rasteira no canto direito no único espaço existente a caminho da rede. A emoção do gol fez com que Pelé no fundo da meta galesa fosse sufocado por alguns companheiros (à esquerda).

Agora faltavam apenas dois obstáculos para a realização do grande sonho. Enfrentamos os franceses na semifinal. A França vinha de excelentes exibições e tinha o artilheiro do mundial Fontaine e o craque Kopa. Mais uma vez a nossa seleção não tomou conhecimento da fama do adversário e, transcorrido um minuto e meio, Garrincha cedeu a Vavá, que abriu a contagem (à direita). A França chegou a assustar quando Fontaine empatou aos oito minutos. Quando faltavam seis minutos para o final do primeiro tempo, Didi apresentou ao público, no Estádio de Solna, em Estocolmo, a sua mortal “folha seca”. Disparou de pé direito de fora da área e fez a bola morrer no fundo da rede de Abbes. O árbitro inglês Mister Griffiths ainda invalidou dois gols brasileiros, de autoria de Garrincha e Zagalo.

Didi, no meio-campo, comandava a afinadíssima orquestra brasileira. Chegou a passar a bola entre as pernas de Kopa. Dribles, passes perfeitos, velocidade, e os gols foram se sucedendo até chegar à goleada de 5 a 2. Pelé marcou o terceiro, quarto e quinto gols, respectivamente aos sete, 19 e 30 minutos. Piantoni, aos 38, fez o segundo gol francês. Restava a Suécia para que o sonho de milhões de brasileiros se realizasse.