OAB quer a verdade sobre arquivos da ditadura


16/04/2010


Ophir Cavalcante, Wadih Damous, Ministro Paulo Vannuchi, Sueli Belatto e Maurício Azêdo.

O Ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, defendeu nesta sexta-feira, 16 de abril, no Rio, o direito ao esclarecimento da verdade sobre pessoas desaparecidas durante o Governo militar. Ele participou do lançamento da Campanha Nacional pela Memória e pela Verdade, criada pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) com o objetivo de pressionar o Governo a abrir os arquivos do período da ditadura.

Paulo Vannuchi confirmou o seu apoio à OAB dizendo que a iniciativa fará uma “enorme diferença na luta pela abertura dos arquivos”:
— São astros queridos pelo povo, pela classe artística, são formadores de opinião e se, essa campanha for bem veiculada, terá o poder de superar as dúvidas que ainda existem em torno do assunto que deveria ter cem por cento de aprovação nacional, pois se trata de uma campanha que reivindica apenas o resgate da memória e o direito de cerca de 140 famílias de enterrarem seus mortos, declarou o Ministro. 

Dentre as personalidades que compuseram a Mesa da cerimônia estavam o Ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi; o Presidente do Conselho Federal da OAB, Ophir Cavalcante, o Presidente da Seccional, Wadih Damous; a Vice-presidente da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, Sueli Bellato; e o Presidente da ABI, Maurício Azêdo. 

A campanha — lançada na sede da seção da OAB no Rio de Janeiro — será veiculada no rádio, na TV, em revistas e jornais, e prevê também um abaixo-assinado em apoio à abertura dos arquivos, que poderá ser acessado pelo site da entidade no entidade no endereço eletrônico www.oab-rj.com.br.

Na televisão a campanha ganhou a adesão dos atores Fernanda Montenegro, Glória Pires, Osmar Prado e José Mayer que gravaram, gratuitamente, relatos de 30 segundos em que interpretam militantes mortos e desaparecidos. Os depoimentos vão ser veiculados em diversas emissoras, como TV Brasil, TV Senado e MTV, além da rede de cinemas do grupo Estação.

Por meio de nota, o Presidente do Conselho Federal da OAB, Ophir Cavalcante, desmentiu que haja revanchismo em relação aos militares na aplicação da Lei da Anistia contra os agentes da ditadura, que cometeram crimes de tortura, seqüestro e assassinato. Diz um trecho da nota: “Trata-se do resgate da história e da memória da sociedade brasileira para o fortalecimento da Constituição e da democracia do País”, afirmou.

Poema

A cerimônia de abertura do evento foi marcada pela leitura do poema “Os desaparecidos”, de Affonso Romano de Sant’Anna, pelo Conselheiro federal da OAB, Marcus Vinicius Cordeiro. Em discurso emocionado, ele lembrou o drama das famílias em busca de informações sobre parentes presos e torturados durante a ditadura e o direito de que elas conheçam o paradeiro dos desaparecidos.

O Presidente da OAB-RJ, Wadih Damus, criticou as autoridades brasileiras, porque o Brasil não seguiu o exemplo de países vizinhos concedendo às famílias dos desaparecidos o direito de saber seu paradeiro e ao País, o de conhecer sua História:
— Esse continua sendo um tema tabu aqui no Brasil. E nós (da OAB) não conseguimos entender por que essa nova geração de militares, que nada teve a ver com aqueles episódios, não se insere nessa luta, inclusive para limpar a imagem do Exército brasileiro, afirmou Wadih Damous.

Reconhecido pelo seu histórico na defesa de inúmeros presos políticos durante o regime militar, o advogado Modesto da Silveira acredita que mesmo os advogados mais conservadores devem aderir à campanha. Em conversa com jornalistas, ele disse que “por mais reacionário que seja o advogado, ele tem um compromisso com a verdade e com a lei”.

Segundo Modesto, se o Governo brasileiro continuar escondendo os arquivos vai passar pelo vexame de ver esses documentos serem divulgados em outros países, devido, principalmente, à Operação Condor, uma aliança político-militar entre os vários regimes militares da América do Sul, com apoio dos Estados Unidos.

* Com informações da assessoria de imprensa da OAB, Globo Online e Agência Brasil.