07/06/2021
Por Xico Teixeira, jornalista do Portal Favelas, conselheiro da ABI
O encontro de lideranças comunitárias neste fim de semana, no Jacarezinho, reuniu dezenas de personalidades dos morros e do asfalto para um ato de desagravo aos moradores e para um grito de justiça. O tema geral foi o abandono do estado (em todas as suas esferas de poder e a tentativa de criminalizar as lideranças populares e comunitárias da região.
Um mês depois do Massacre do Jacarezinho, em que 28 pessoas foram mortas em uma operação policial na tradicional comunidade carioca. Na quadra da Escola de Samba Unidos do Jacarezinho, representantes de entidades como Associação Brasileira de Imprensa, Defensoria Pública, Ordem dos Advogados do Brasil, Federação das Associações de Favelas do Rio de Janeiro se reuniram com lideranças comunitárias para cobrar a apuração da matança, diante da estátua de São Sebastião, padroeiro do Rio de Janeiro.
Um dos organizadores do encontro, o líder do Jacarezinho Rumba Gabriel, lembrou que na não existe tráfico de drogas nas favelas do Brasil. O que há são comerciantes, varejistas de drogas que apenas fazem o trabalho de distribuição da droga que vem de fora. Na tentativa de criminalizar lideranças comunitárias e populares, alguns veículos da mídia comercial querem associar estes legítimas lideranças ao crime organizado de comercialização das drogas.
Os verdadeiros traficantes nem estão nos morros e nas periferias e há anos foram identificados por diversos jornalistas e profissionais que estudam e trabalham com a segurança pública.
Já em 2017, o jornalista inglês Misha Glenny, em longa entrevista ao jornal El Pais, já revelava que o traficante é aquele que atua no atacado e que está nos cartéis internacionais latino-americanos e abastece os mercados mais ricos do Brasil e do Mundo. No Brasil, quem faz este serviço do tráfico de drogas costumam ser pessoas de classe média e classe alta que tem negócios legítimos operando geralmente nas áreas de transporte e agricultura e não são os varejistas das favelas.
Os lucros destes negócios (transporte e agricultura) são multiplicados quando eles utilizam essa rede de logística para transportar toneladas de cocaína através do país. Já descobriram carregamentos de cocaína dentro de carne bovina brasileira que seria exportada pra Espanha, por exemplo – afirma o jornalista Misha Glenny, autor de livros sobre o tema, um deles com a biografia do comerciante de drogas, o Nem da Rocinha.