O orgulho de ter o trabalho reconhecido


29/01/2007


Rodrigo Caixeta
02/02/2007

 

Dirceu Portugal começou bem 2007. Logo nos primeiros dias do ano, o paranaense foi surpreendido com a notícia de que uma de suas fotos fora escolhida para participar da retrospectiva de melhores imagens de 2006 promovida pela rede de TV norte-americana NBC. A primeira reação do fotógrafo foi de extrema alegria e satisfação, seguida de um orgulho enorme de ter um trabalho reconhecido por pessoas que estão fora de sua convivência diária:
— O reconhecimento é mais saboroso. É uma sensação inexplicável saber que fui o único jornalista brasileiro a ter uma foto escolhida na competição. A princípio, não esperava que as fotos feitas no interior da delegacia de Campo Mourão, no interior do Paraná, durante uma rebelião de presos, em maio passado, tivessem tanta repercussão.

Ele conta que as imagens foram feitas em um domingo, por volta das 22h, quando todas as capas dos diários já estavam fechadas. Poucas horas depois, enviou-as à Agência Estado, com a qual tem contrato, e em pouco tempo as fotos já estavam espalhadas em jornais nacionais e internacionais. Na primeira semana de destaque das imagens, diz Dirceu, a AOL Pictures selecionou dez fotografias e uma das que fez na delegacia ficou em terceiro lugar na votação:
— Aquele terceiro lugar foi como o primeiro. O esforço e a dedicação de buscar sempre o melhor na fotografia estavam sendo reconhecidos e recompensados. Nas semanas seguintes, após ver mais de 60 publicações das fotos em jornais norte-americanos, europeus, japoneses, comecei a observar a importância daquelas imagens que retratavam o caos no interior da carceragem.

O prazer que Dirceu sentia fotografando, algumas vezes com máquinas dos amigos, fez com que sua mãe o presenteasse, no 17º aniversário, com uma Yashica “quase descartável, mas que permanece fazendo fotos maravilhosas até hoje, 18 anos depois”. Ele logo percebeu, no entanto, que fotografar não era apenas apertar botões e decidiu fazer o curso de Jornalismo na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG):
— Nos primeiros meses de aulas de laboratório, o encanto era ver a fotografia surgir no fundo de um recipiente, após a mistura de água e química. Era fantástico. Mas eu queria mais e acabei recebendo uma proposta para trabalhar como repórter-fotográfico no Jornal da Manhã, em Ponta Grossa. A arte de fotografar também me incentivou a escrever sobre as imagens. Um dia, fui ao editor-chefe do jornal e pedi uma oportunidade para me dedicar ao texto também. De início, tive um espaço diário chamado “Observatório”. As duas oportunidades foram alicerces da minha carreira. Queria fotografar e escrever, contar a história.

Vício

Depois de formado, Dirceu trabalhou em rádio e assessoria de imprensa e há três anos é correspondente da Gazeta do Povo, em Campo Mourão, onde diariamente seleciona as pautas, faz as fotos, redige o texto, dirige o carro — “preparo até o meu café”, brinca. O jornalismo, diz ele, sempre foi e será seu bom vício. Certa vez, conta, acompanhando um repórter, foi investigar uma denúncia de que um Vereador estava distribuindo cestas básicas em seu gabinete, na Câmara, aos eleitores e viveu um dos piores momentos de sua carreira:
— Como a presença da imprensa sempre deixa os ânimos acalorados no caso de denúncia, tive de me esquivar dos socos desferidos por seguranças, mas fotografei o necessário. Ao final, sem escoriações, denunciamos a entrega das cestas básicas. Por várias vezes corri riscos, mas nunca desisti do objetivo de sempre tentar fazer o melhor, seja na fotografia ou no texto.

Atualmente, o repórter-fotográfico planeja escrever um livro com suas matérias contadas através de histórias e fotografias. Outra de suas metas é ingressar em uma emissora de TV, para atuar como repórter de rua. Aos interessados em ingressar no fotojornalismo, Dirceu avisa que é preciso ter o gosto e o vício pela profissão:
— Se o jornalismo não correr pelas veias, não tem como fazer bem-feito. Vocação é tudo. 

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