O Nordeste contra o Dragão da Maldade


20/10/2022


Por Octávio Costa, presidente da ABI, em Ultrajano

Diante do pequeno avanço de Bolsonaro na última pesquisa do IPEC (o indigitado subiu um ponto e Lula caiu um), alguns colegas pediram minha previsão sobre o resultado das eleições. Não que eu seja um expert em pesquisas, mas escrevi sobre política nos últimos 20 anos, com uma passagem de 10 anos por Brasília. Ao responder, aposto todas as minhas fichas na vitória do ex-presidente Lula. E por um motivo muito simples: acho impossível o Capitão Corona virar o resultado das urnas no Nordeste. Os marqueteiros de Bolsonaro sabem disso e têm concentrado a campanha na TV e no rádio exatamente na tentativa de atrair votos daquela região do país.

A derrota de Bolsonaro no Nordeste no primeiro turno foi acachapante. Em média, Lula conquistou dois terços dos votos. E no total, abriu quase 13 milhões de votos (12,8). Na Bahia, foram 3,8 milhões de vantagem. Em Pernambuco e no Ceará, 2 milhões e 2,2 milhões, respectivamente. Em percentual de votos, o recorde coube ao Piauí, com 74,2% para Lula e apenas 20% para o ex-capitão. Na Bahia, que é o maior colégio eleitoral do Nordeste, foram 69,7% contra 24,3%. A enorme vantagem de Lula na região compensou de longe a derrota no Sudeste por cinco ponto percentuais. Em São Paulo, Bolsonaro ganhou por 1,7 milhão de votos – o que foi largamente superado pela diferença de Lula na Bahia.

Alguns analistas dizem que esse quadro pode mudar no segundo turno, diante do empenho da campanha de Bolsonaro no NE. Dizem que pastores evangélicos estão pressionando fiéis de suas igrejas a mudarem de voto. Outro fator seria o Auxílio Família e o crédito consignado da Caixa para os beneficiários do programa de emergência. Mas não custa lembrar que o Auxílio Família já estava em vigor no primeiro turno. E o benefício não se refletiu em votos para Bolsonaro. A rejeição a Bolsonaro tem origem funda no preconceito que ele sempre exibiu em relação aos nordestinos. Já Lula, pernambucano de Garanhuns, deu prioridade aos estados do Nordeste em seus dois governos.

No dia 2 de outubro, o Nordeste derrotou o dragão da maldade. E vai repetir a façanha no domingo 30 de outubro (se estivesse vivo, o baiano Glauber Rocha estaria filmando esse momento histórico). Quanto à ação de pastores evangélicos, é bom destacar que a Igreja Católica ainda é muito forte na região. Estamos falando de uma gente que faz romaria a Juazeiro do Norte, em homenagem ao padre Cícero Romão Batista, o carismático Padim Ciço, que está para ser beatificado por Roma. Falamos também de Salvador da Bahia, com suas 372 igrejas e a tradicional lavagem da escadaria da basílica de Nosso Senhor do Bonfim. Dificilmente a cúpula evangélica conseguirá virar votos na Bahia de Todos os Santos e também do candomblé e dos orixás. Salve, Iemanjá!

Dizem que o ex-presidente Lula pode ser prejudicado pela taxa de abstenção. Chega a ser engraçado. Na conta desses analistas, a abstenção afetará só o ex-presidente. Não creio. E acho que o povo nordestino voltará em peso às urnas. Afinal, estamos falando de gente de muita fibra. O sertanejo (e a sertaneja) é antes de tudo um forte, como disse Euclides da Cunha. Deu demonstração disso em Canudos, ao resistir às sucessivas investidas das tropas legalistas. Também na Balaiada, no Maranhão, a revolta popular contra os grandes proprietários de terra só foi contida após dois anos por um exército de 8 mil homens. E agora mesmo o país reverenciou Maria Quitéria, Maria Felipa e Joana Angélica, heroínas da Independência na Bahia.

Não tenho dúvida. No segundo turno, o Nordeste vai derrotar novamente o dragão do ódio e da mentira, citado em sua homilia pelo arcebispo de Aparecida, Dom Orlando Brandes. Lula será eleito e o Brasil se livrará do famigerado ex-capitão que tanto mal fez ao nosso povo nos últimos quatro anos. A democracia vai vencer. Com a benção dos orixás!