O fascínio de ser parte da História


04/03/2008


Cláudia Souza
07/03/2008

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O destino de Christiana Carvalho, de 52 anos, foi selado em 1975, quando cursou Fotografia no último período da Escola de Desenho Técnico. A opção pela nova carreira ganhou contorno definitivo com o apoio da família:
— Mudei os projetos profissionais quando descobri a fotografia. Como minha mãe era atriz, o teatro foi o cenário para as minhas primeiras experiências com fotos. Em seguida, fiz cursos no Cine Foto Bandeirantes e na Escola Nikon do Brasil. Registrei diversos espetáculos de dança e peças em São Paulo, como “O céu pode esperar”, “Equus”, “Rei Lear” e “O avarento”.

Em 1977, Christiana ingressou no fotojornalismo como freelancer em jornais e revistas como a Ícaro e a National Geographic:
— Na época era mais tranqüilo entrar no mercado de trabalho. Fazia-se amizade rapidamente com os colegas, surgiam convites de trabalho, tudo com muita leveza, sem exigências e a disputa de hoje — diz ela.

Na passagem pela National Geographic, o interesse pela natureza cresceu. A fotógrafa decidiu, então, embarcar em uma expedição do navio sueco “Lindblad Explore” e, durante dez anos, formou um grande arquivo com imagens de povos, animais e vegetação exóticas na Antártica, na Austrália e em países africanos e asiáticos:
— Com este trabalho, me tornei correspondente de várias publicações nacionais e estrangeiras, como a revista People Magazine. E morei no exterior durante 14 anos, depois que me casei com o geógrafo australiano que organizou a expedição.

De volta ao Brasil no início da década de 90, Christiana enfrentou a crueza do momento em relação à sua arte:
— Neste período, a fotografia brasileira não tinha valor. Cultuavam-se apenas os estrangeiros, a fotografia de autor tinha sido deixada de lado. Hoje, felizmente, assistimos ao retorno do status desse trabalho. As revistas, por exemplo, reservam mais espaço para fotos criativas dos nossos profissionais, evitando pautas copiadas de publicações de outros países.

Em 2000, Christiana voltou a fotografar teatro, iniciou trabalho de still para cinema, realizou exposições individuais e participou de mostras coletivas no Brasil e exterior. Suas imagens passaram a integrar importantes acervos — Masp, MIS, Coleção Pirelli — e bancos de imagens de agências — como Frank and Lane, Samba Foto e Argos.

Digital

Atualmente ela se dedica a projetos que envolvem arquitetura, como a exposição “Galeões do asfalto”, em cartaz até 31 de março na LGC Arte Contemporânea, no Centro do Rio de Janeiro:
— Durante dois anos, em meio a engarrafamentos intermináveis, observei a luz, as cores e as formas que incidiam sobre as malhas de proteção de dois prédios em construção, que resultaram em 35 fotografias digitais, impressas em papel alemão, feito de algodão. Pareciam maravilhosos galeões com velas enfunadas, encalhados no asfalto. As velas infladas ao vento, em movimento vertiginoso, pareciam tentar arrastar sólidos retangulares que se vislumbravam no interior de cada um.

A fotografia digital é um dos avanços que Christiana destaca na sua área de trabalho, lembrando, porém, que ainda há inúmeros desafios e dificuldades na profissão:
— É fascinante estar junto aos acontecimentos e ser parte da História através da fotografia. Contudo, a remuneração não é satisfatória e há gente demais no mercado e pouca qualidade. A fotografia digital, por exemplo, é versátil, dispensa laboratório, mas requer aprendizado contínuo, qualificação e horas em frente ao computador. Fiz dois cursos para me adaptar à tecnologia. E aqueles que pretendem se dedicar à carreira devem saber que nem sempre o trabalho é glamoroso, não há lugar para timidez, e, além de amor, é preciso ter talento. 


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