O Expresso conquista a América (II)


20/03/2008



    Djalma, Maneca, Friaça, Ademir e Chico

A equipe do Vasco obteve quatro vitórias e dois empates na campanha da conquista do título do Torneio dos Campeões, como conta o jornalista Roberto Sander no livro “Anos 40, viagem à década sem Copa”: 

“A verdade é que o Expresso só era o da vitória em gramados tupiniquins. Uma idéia que se manteve logo na estréia, mesmo com o time vencendo. Contra qualquer prognóstico, o Vasco não encontrou facilidade para derrotar um dos adversários mais fracos da competição. Não é de hoje a falta de qualidade do futebol boliviano e, mesmo assim, o jogo contra o El Litoral, ironicamente representando um país sem litoral — tomado justamente pelos chilenos —, foi duríssimo. O acanhado placar de 2 a 1 (dois gols de Lelé contra um de Sandoval) refletiu o que aconteceu em campo. O Vasco não jogou bem e viu as dificuldades crescerem na partida depois que Ismael foi expulso no segundo tempo. Foi uma estréia sem brilho contra uma equipe inexpressiva que de forma alguma credenciou o time para a partida seguinte, que seria contra o Nacional de Montevidéu, campeão uruguaio e um dos favoritos.

E foi exatamente diante de um desafio maior que o Vasco se mostrou Vasco. O time que encantava em terras nacionais passava a justificar, no exterior, a fama ainda pouco conhecida por nossos vizinhos. O Expresso entrava nos trilhos da vitória com uma contundente e convincente goleada sobre os representantes da já consagrada camisa celeste. O placar de 4 a 1 sobre o Nacional foi a senha de que a equipe poderia almejar muito mais. Foi uma epopéia construída, a partir dos 11 minutos do primeiro tempo, com uma incrível arrancada de Ademir Marques de Menezes. O Queixada deixou para trás uma zaga uruguaia espantada com a sua velocidade e vigor. O gol de empate do Nacional, marcado por Walter Gomez, 14 minutos depois, não abalou o Vasco, que prosseguiu dominando a partida. Apesar disso, esse domínio só se traduziu em gols no segundo tempo (pelo menos em gols válidos, já que Friaça teve um gol invalidado ainda na primeira etapa). Maneca, Danilo e Friaça completaram o placar.

O Vasco saiu de campo mais respeitado, visto com outros olhos pelos adversários. Tudo estaria perfeito se não fosse uma lamentável baixa. Ademir, que voltava ao Vasco depois de se recusar a renovar contrato com o Fluminense, deixou o gramado com o pé fraturado. Estava irreversivelmente afastado da disputa.

Entretanto, os danos pela perda de seu maior artilheiro não superaram a enorme injeção de confiança que a vitória sobre o Nacional proporcionou. Na partida seguinte, o Vasco novamente se impôs, dessa vez diante do Municipal, de Lima. Implacáveis 4 a 0 (dois gols de Friaça, um de Lelé e outro de Ismael) deixaram tontos os peruanos e colocaram o Vasco em outro patamar. Mas ainda era grande o cartaz dos argentinos do River, apesar da derrota inesperada de 3 a 0 para o Nacional. Já o Vasco prosseguia sua campanha invicta vencendo a retranca dos equatorianos do Emelec. Retranca furada a duras penas no segundo tempo, com um gol de Ismael.

 Friaça marca o gol de empate com o Colo-Colo

Na seqüência, o desafio do Vasco era superar os donos da casa. O Colo-Colo tinha a torcida a favor, a equipe reforçada e o pensamento de que a vitória era uma questão de honra. Não é de hoje que é muito complicado ter pela frente um time que coloca na ponta das chuteiras todos os anseios da nação. O ambiente não chegava a ser hostil, mas mostrava que o Vasco teria que se desdobrar para obter um resultado satisfatório. A previsão era de um jogo encardido e temia-se que recursos antiesportivos pudessem ser usados pelo adversário (faltas mais ríspidas, pressão em cima do árbitro etc.) Porém, nada de grave aconteceu apesar de a partida ter sido dificílima. Zero a zero no primeiro tempo. E, logo no primeiro minuto do segundo, os chilenos ficaram em vantagem. O Vasco teve que lutar muito para conseguir o empate. Isso ocorreu aos 22 minutos, com um gol de Friaça, o quarto dele no campeonato, que garantiu ao centroavante a artilharia do time — condição até então dividida com Lelé. O resultado final deu ao Vasco a convicção de que o título estava muito próximo. Mas, para erguer a taça, teria que parar ‘La Maquina’, que vinha mordida pela derrota para o Nacional.”

Na próxima semana, a grande final e a repercussão da conquista do título do Torneio dos Campeões.