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O “cara da casa de vidro”


28/04/2021


Jornalista Cristina Serra (Imagem: Arquivo)

O “cara da casa de vidro”

Por Cristina Serra, jornalista, conselheira da ABI

O repórter Sérgio Ramalho, do site The Intercept, teve acesso a um relatório do Ministério Público do Rio de Janeiro com o resumo dos grampos telefônicos de comparsas de Adriano da Nóbrega. Como se sabe, Adriano era o chefe da milícia Escritório do Crime e foi morto em operação policial, na Bahia, que mais parece queima de arquivo. As conversas indicam conexões muito mais profundas entre o ex-PM e Bolsonaro do que se sabia até então.

Após a morte de Adriano, seus cúmplices teriam procurado um homem, mencionado nos grampos como o “cara da casa de vidro”. Fontes do MPRJ ouvidas pelo site dizem tratar-se de Bolsonaro e a “casa de vidro” seria uma referência à fachada envidraçada do palácio da Alvorada. O homem também aparece no relatório como “Jair” e “HNI (PRESIDENTE)”. HNI é a sigla para Homem Não Identificado.

As conversas começaram na data da morte de Adriano e foram interrompidas dias depois, quando surgiram as supostas menções a Bolsonaro. O MP estadual não tem poder para investigar o presidente e um caso como esse teria que ser encaminhado à Procuradoria Geral da República.

Adriano da Nóbrega seria peça chave para o esclarecimento de crimes que, de alguma forma, embaralham no mesmo enredo a milícia que chefiava, alguns de seus parentes, o amigo de longa data Fabrício Queiroz e o clã presidencial. Todos juntos e misturados no esquema das rachadinhas.

Esclarecer essas conexões deveria ser prioridade absoluta de investigadores, imprensa, autoridades e instituições no Brasil. Porém, as investigações que envolvem o sobrenome Bolsonaro parecem contaminadas pela lentidão e por generosa condescendência em instâncias do aparelho estatal. Não por acaso, Bolsonaro sente-se à vontade para debochar dos 400 mil mortos pela pandemia usando a expressão “CPF cancelado”, a gíria miliciana para pessoas assassinadas.