“Que maravilha! Nosso País tem memória! Quase não estou acreditando no que vejo e ouço e me sinto emocionado com essa quase incredulidade vinda da surpresa, bendita incredulidade. É que neste dia 11 de dezembro Noel Rosa estaria comemorando 100 anos de existência, se vivo fosse, e as homenagens a tão espetacular acontecimento surgem de todas as partes do Brasil.
Acho que não vi nada igual ainda com relação a algum expoente de nossa cultura popular e ergo aqui, com as letras deste modesto artigo, um monumento a todas essas pessoas e entidades que participam dessa celebração.
Tomara que a moda pegue e outros também sejam da mesma forma louvados. Só para citar alguns exemplos: a Rede Globo, através dos programas “Fantástico” e “Mais Você”, vem mostrando a obra de Noel na interpretação de grandes mestres da MPB; a EBC (Empresa Brasil de Comunicação) também aderiu a essa corrente através das Rádios MEC espalhadas pelo País, assim como o jornal O Dia, que desde domingo vem publicando um suplemento especial sobre Noel.
O Centro Cultural da Light, desde setembro, apresenta às terças-feiras um show sobre o Poeta da Vila e teatros e casas de espetáculo de Norte a Sul do Brasil (São Paulo, Curitiba, Salvador, Porto Alegre, Recife) estão oferecendo ao público um pouco da obra desse grande gênio do samba. Nosso próprio Jornal da ABI, na edição de setembro, publicou reportagem sobre ele.
Avaliar a obra de Noel Rosa é mergulhar em uma outra dimensão, além, muito além da terrena. Uma dimensão que possa explicar tão brilhante talento, expressão do mais absoluto sentimento da arte. E vinda de alguém que morreu com apenas 26 anos, deixando uma obra que paira no campo do mistério e do incompreensível, tamanha a sua extensão e profundidade psicológica, realizada em apenas seis anos de vida artística.
Noel rompeu com as convenções poéticas e melódicas de seu tempo e ainda deu o tom para os acordes que viriam 30 anos depois com a Bossa Nova, sendo “bossa” um termo usado por ele para designar a irreverência do carioca. A genialidade de Noel não repousa apenas em suas letras e rimas riquíssimas, nas crônicas sobre o Rio e seus personagens, na aguda análise da sociedade brasileira, na crítica político/social e observação dos costumes, na forma anti-romântica de falar do amor. A genialidade de Noel também vem de sua musicalidade, pois ele foi um excepcional músico, que nos legou composições belíssimas e de harmonias avançadas para a década de 30.
Neste ano em que se comemoram os 100 anos de seu nascimento, renovamos a convicção de que, passados mais de 70 anos em que ele nos deixou, sua presença é mais forte do que nunca, mostrando, sem dúvida nenhuma, que ele continua vivo e moderno entre nós. Como exemplificam alguns desses comentários sobre Noel: “Noel Rosa, na música popular brasileira, pode ser ou não ser o mais psicológico, o mais poético, o mais harmonioso, o mais romântico, o mais realista, o mais ritmado etc, indiscutivelmente, ele é apenas o maior compositor popular brasileiro” (Paulo Mendes Campos – Escritor e Jornalista).
“Noel é o marco fundamental da música brasileira. Letras de simplicidade absoluta, fazendo uso da palavra com propriedade extraordinária. Humor excepcional, espontâneo, sem armação. Noel é a cultura popular autêntica”. (Millôr Fernandes – Jornalista). “A obra de Noel Rosa é, sem dúvida, a mais surpreendente da música popular brasileira pois nela não há altos e baixos, somente obras-primas”. (Tim Rescala – Maestro).
“Noel Rosa é o pioneiro de uma forma, na qual a poesia popular, altamente sofisticada, embora saindo de maneira simples, junta-se a uma melodia de filigrana, de grande refinamento, dando à suas composições uma dimensão poucas vezes atingidas na história da nossa música popular.” (Paulinho da Viola – Cantor e Compositor). “Noel é o mais moderno dos compositores brasileiros”. (Audir Blanc – Compositor).
Obedecendo ao desejo de Noel, expresso nas letras de “Fita Amarela”, vamos festejar, vamos dançar e cantar bastante com a Lua por cenário por este Brasil afora, porque é assim que ele quer. Através da música, estaremos prestando nosso tributo a um artista desses que só aparecem de séculos em séculos, ou somente uma vez na vida. É necessário que os centros culturais, as secretarias de cultura (federais, estaduais, municipais) realizem palestras neste mês de dezembro (o termo agora é workshop), exibam filmes e continuem promovendo shows e peças teatrais sobre a vida, riquíssima, desse grande mestre de nossa cultura popular. E tudo o que fizermos não será demais e parecerá sempre pouco pelo que ele representa”.
“No meu enterro
Não quero flores nem espinho
Só quero choro de flauta
Com violão e cavaquinho”
* Sócio efetivo da ABI e 2º Secretário do Conselho Deliberativo