Niterói quer memorial no Caio Martins


12/11/2010


Em declaração divulgada após a 45ª Caravana da Anistia, realizada na antiga capital fluminense em 18 de outubro passado, o Fórum dos Operários Navais de Niterói reiterou a sua reivindicação de criação no Estádio Caio Martins de um Centro de Memória em homenagem às vítimas da ditadura militar, que transformou aquela praça de esportes numa prisão em que foram mantidas mais de 500 pessoas após a deflagração do golpe que derrubou o Presidente João Goulart.
 
O Fórum, que reúne militantes do movimento sindical atuantes em 1º de abril de 1964, afirma que a memória daquele movimento não pode ser esquecida, especialmente pela juventude. Sua declaração tem o seguinte teor:
 
“No dia 18 de outubro de 2010, sob a presidência do Doutor Paulo Abrão, a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça promoveu no Salão Nobre da Faculdade de Direito da Universidade Federal Fluminense o julgamento de 29 processos–requerimentos dos perseguidos políticos da antiga capital do Estado do Rio de Janeiro, cidade de Niterói. Niterói foi uma das principais cidades que sofreu o maior ataque das forças reacionárias nos idos de 1964 em razão da pujança do seu movimento sindical.
 
Ao eclodir o golpe militar, o movimento dos marítimos e trabalhadores do mar foi completamente destroçado. O Sindicato dos Operários Navais do Estado do Rio de Janeiro, cujas ações tinham reflexo em todo o antigo Estado do Rio de Janeiro e até no País, foi invadido militarmente pelos fuzileiros navais e em conseqüência promovida uma verdadeira caça aos seus dirigentes, entre eles o Presidente do Sindicato Benedito Joaquim dos Santos e toda a diretoria, o seu conselho de representantes e os delegados sindicais das empresas marítimas e de navegação, bem como todas aquelas lideranças vinculadas aos estaleiros navais, principal atividade econômica da cidade.
 
A passagem da Caravana da Anistia para julgamento dos requerimentos dos perseguidos vivos ou post-mortem marca o reencontro ainda que tardiamente daqueles trabalhadores que em sua maioria resistiram à tomada do poder pelo golpe militar de 1964 e sofreram as conseqüências de um regime ditatorial, que se prolongou até à edição da Lei nº 6.683/1979, à concessão da anistia restrita, ainda que tardia, reparando em parte o sofrimento das famílias vitimadas pela repressão militar.
 
É importante ressaltar que o papel desempenhado pelo Fórum dos Operários Navais não se esgota na questão da reparação; estende-se à luta pela verdade e pela memória daquele trágico período que a nação viveu, em que militantes pela democracia sofreram perdas materiais, físicas, morais, muitos quais até hoje se encontram desaparecidos.
 
O Fórum defende e faz parte da luta pela abertura dos arquivos militares e sobretudo pela edificação do Centro de Memória em homenagem àqueles abnegados combatentes em prol da defesa dos interesses nacionais e do restabelecimento da democracia plena em nosso País, pois ainda persiste o sigilo sobre o papel das Forcas Armadas no uso institucional da tortura, amparado no Decreto nº 4.553 que impede a liberação de documentos dos arquivos militares.
 
Pelo papel que desempenharam as grandes lideranças dos marítimos, dos operários navais e dos metalúrgicos da industria naval de Niterói e adjacências, que souberam unir os principais movimentos sindicais da época, sobretudo os dos marítimos e ferroviários, concebendo o maior instrumento de ação do movimento sindical no Brasil, o chamado Pua–Pacto de União e Ação, o Fórum não pode deixar que a memória desse grande movimento seja esquecida, em especial pela juventude. Por isso, em continuidade à nossa luta, pugnamos pela criação de um centro de memória preferencialmente no Ginásio Caio Martins, que abrigou naquela época um presídio militar onde foram aprisionados mais de 500 militantes sindicais, operários e trabalhadores do campo, assim como intelectuais, jornalistas, médicos etc.
 
Frise-se que o presídio em referência foi o primeiro na Historia da América Latina em que a ação militar de derrubada do presidente eleito pelo voto popular usou os espaços de um ginásio esportivo e seu campo de futebol para encarcerar os opositores à implantação de uma ditadura.
 
Niterói, 26 de outubro de 2010. (a) Célio de Souza Ribeiro, Fórum de Niterói; Fernando José Dias, OAB/RJ 42796; João Alves de Góes, OAB/RJ 28213.”