Murdoch tinha acesso ao Gabinete de Cameron


19/07/2011


Em depoimento prestado ao Comitê de Mídia, Cultura e Esportes do Parlamento britânico, nesta terça-feira, 19 de julho, o megaempresário das comunicações Rupert Murdoch não negou o seu envolvimento com o Primeiro- Ministro, David Cameron, afirmando que teve vários encontros com o Premier e que o seu acesso ao Gabinete era feito pela porta dos fundos, conforme lhe foi recomendado.
 
 
Ao comentar para o ABI Online as ligações estreitas de Murdoch com a classe política londrina, o diretor do Reuters Institute, da Universidade de Oxford, John Lloyd, afirmou que a maioria dos políticos no Reino Unido teve o cuidado de manter Murdoch ao seu lado, tanto quanto podiam:
— Ele era o empresário da mídia mais poderoso, e ao mesmo tempo o mais político: alternava-se entre conservadores (Margaret Thatcher) e trabalhistas (Tony Blair). O seu apoio foi muito útil, disse John Lloyd.
 
 
Na opinião de Lloyd, outro detalhe importante por trás desse jogo de interesses é o fato de que os partidos britânicos, como em toda a Europa, estão em declínio, por isso os políticos precisam da mídia ainda mais do que antes:
— Houve, na verdade, uma escolha pouco vantajosa para os políticos, a menos que eles queiram ter uma briga com Murdoch e a imprensa, fato que os levaria a perder, como aconteceu com o líder trabalhista Neil Kinnock, na década de 80, ponderou Lloyd.

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“Sinto muito”
 
 
Durante todo o tempo do depoimento que prestaram ao Comitê, Murdoch e seu filho James, que preside a News International, tentaram minimizar as suas responsabilidades no escândalo dos grampos telefônicos ilegais praticados pelo tablóide dominical News of the World, conforme noticiaram o Globo Online e agências internacionais.
 
 
Murdoch disse que o jornal representava apenas 1% dos negócios da News International, braço britânico da News Corporation que é a cabeça do conglomerado midiático do magnata australiano:
— Não é uma desculpa, mas o News of the World é menos de 1% da nossa companhia. Eu contrato pessoas em quem confio. Os responsáveis (pelos grampos) foram pessoas em que confiei e que agiram errado, disse o empresário tentando jogar a culpa nos seus subordinados.
 
 
O empresário disse que quando soube que o News of the World tinha grampeado o telefone celular da jovem Milly Dowller, morta em 2002, se sentiu “chocado, horrorizado e humilhado” com a informação.
 
 
Ao depor, James Murdoch disse que “sentia muito” pelo que aconteceu com as vítimas dos grampos ilegais do News of the World, mas sustentou que o procedimento dos jornalistas envolvidos no escândalo não condiz com as normas da News International.
 
 
Já Rupert Murdoch argumentou que nem ele ou seu filho fizeram vista grossa às denúncias de espionagem que provocaram o fechamento do tablóide, no último domingo,16 de julho, e que até o momento já levaram à prisão dez pessoas, entre as quais a ex-editora-chefe Rebekah Brooks, que também foi interrogada pela Comissão do Parlamento, nesta terça-feira.
 
 
“Chocada”
 
 
Rebekah era editora-chefe do News of the World (2003 a 2009) quando estavam em andamento as investigações sobre o desaparecimento e a morte de Milly Dowller. Ela disse no interrogatório que o jornal entrou na história para forçar o Parlamento a mudar as leis sobre estupro e abuso sexual. Mas quando soube que o tablóide tinha grampeado o celular da menina se sentiu “chocada”. 
— A história era terrível. E, quando soube do grampo que invadiu a caixa de mensagens de Milly, a minha primeira reação foi ficar chocada. Senti nojo, como todos sentiram. A primeira coisa que fiz que foi mandar uma mensagem à mãe de Milly pedindo desculpas e dizendo que ninguém autorizado pelo jornal ou pela corporação faria uma coisa dessas. Prometi que o jornal e a polícia iriam trabalhar ao máximo para chegar à raiz do caso e punir o responsável, afirmou Rebeka.
 
 
Ela insistiu que ninguém da direção do jornal tinha conhecimento de que o detetive particular Glenn Mulcaire tinha invadido a caixa postal do telefone da jovem Milly Dowller, a serviço do jornal:
— Estou dizendo que ninguém da direção do NotW (como o tablóide era chamado pelos britânicos) autorizou esse investigador a entrar na caixa de mensagens de Milly. Isso não chegou ao meu conhecimento. Meu próprio celular já foi invadido por Glenn Mulcaire, declarou Rebekah.
 
 
Polícia
 
 
O ex-Chefe da Scotland Yard, Paul Stephenson, que se demitiu do cargo no domingo, também foi ouvido pelo Comitê de Mídia e sustentou que não houve qualquer tipo de irregularidade na contratação do ex-editor do News of the World, Neil Wallis, como consultor da polícia.
 
Wallis, que foi preso na última quarta-feira, 14 de julho, e solto depois de pagar fiança, está sendo investigado por suspeita de espionagem por meio de grampos telefônicos ilegais.
 
 
* Com informações do Globo Online e da BBC Brasil.