Morre aos 76 anos o apresentador Berto Filho


Por Claudia Sanches

14/03/2016


Morreu no início da tarde deste sábado (12) o jornalista Berto Filho, considerado um dos apresentadores mais importantes do “Jornal Nacional”. Berto completaria 76 anos de idade neste domingo (13).O profissional lutava contra um câncer no estômago e na garganta desde o ano passado. Constante colaborador do Retiro dos Artistas, no bairro de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, ele estava morando na instituição, depois de perder a mulher Marisa, também para um câncer. O jornalista foi velado e sepultado no Cemitério do Caju, neste domingo.

Com a perda da esposa com quem vivia há 55 anos e a reincidência do câncer, Berto voltou a ser tratado no Instituto Nacional do Câncer em Vila Isabel (Inca), onde fez uma nova bateria de exames, além de radioterapia e quimioterapia.

“Ícone do telejornalismo brasileiro”, lembra Hummel

O jornalista Marcos Hummel, contemporâneo de Berto, soube da morte do colega através de amigos nos Estados Unidos. Hummel tentou se comunicar com Berto na semana passada no Retiro dos Artistas, mas ele estava impossibilitado de falar. O apresentador conta que dividia as bancadas de vários telejornais com o companheiro, e lembra que o colega de profissão era uma pessoa muito correta, e que tiveram a “sorte” de trabalhar com muitos profissionais competentes na década de 70 e 80 na TV.

“Tivemos a sorte de nos reunir num momento muito importante no telejornalismo brasileiro. Ele vai deixar saudades pelo profissionalismo e pelas amizades que fez em sua trajetória profissional, como o Boni e Cid Moreira. Revezamos muito o “Jornal Nacional” e o “Jornal Hoje”. É uma representatividade no nosso meio, temos que cultivar sua memória. São pessoas que merecem muito respeito pelo trabalho que fizeram pelo jornalismo e pelo país. Agradeço a oportunidade de ter trabalhado com ele”.

O apresentador Celso Freitas disse que 0 câncer calou e levou uma das vozes mais marcantes do Brasil e conta que dividiu com o companheiro o drama da doença.

“Convivi com o Berto na época em que trabalhamos juntos na Globo. Mas foi nos últimos anos que compartilhei suas angústias como a doença de sua irmã, e da mulher Marisa e o seu sofrimento com a doença. Além do talento da interpretação o amigo tinha uma extrema habilidade ao descrever a carreira da irmã e a perda da companheira.  Vez por outra trocávamos e-mails. Em meados de janeiro recebi o último com o desabafo: “Perdi a voz a coisa é sinistra”. Trocamos algumas palavras semanas há duas semanas. Com voz baixa e rouca guardo uma frase: “Somos seres falíveis”.

berto_filhoCarreira

Dono de uma voz inconfundível ele era reconhecido facilmente pelo público que, durante anos, acompanhou seu trabalho na Rede Globo, onde esteve entre os anos de 1974 e 1985, tendo trabalhado em todos os jornais da emissora.

No “Fantástico”, Berto Filho atuou entre 2004 e 2008, quando ocorreu sua última passagem pela emissora e teve o contrato rescindido. Além da TV Globo, Berto fez história na Rede Manchete de Televisão. Ele foi contratado pelo canal de Adolpho Bloch em seus anos finais. Em 1998, o jornalista era responsável por programas como o ‘Manchete em Primeira Mão’ e o ‘Jornal da Manchete’ até seus últimos dias, participando da transição do canal com a RedeTV!, até hoje no ar.

Abandono

apresentador Berto FilhoNos últimos anos, Berto Filho se dedicava à escrita de uma autobiografia com ensinamentos de sua carreira com o título de Trevo de Quatro Folhas.

O presidente da ABI Domingos Meirelles conta que o conheceu nessa época em que estava começando a escrever o livro de memórias, em dezembro de 2014 às vésperas do Natal. Segundo Meirelles, Berto ficou muito emocionado ao vê-lo e “chorava como uma criança e agradecia por tê-lo visitado. “A minha presença, naquele dia, era o melhor presente de Natal que recebera nos últimos anos”,recorda Meirelles.

Na época o ex-apresentador do “Jornal Nacional” morava no Recreio dos Bandeirantes, próximo a uma comunidade. Dois meses depois, Meirelles soube que havia mudado para o Retiro dos Artistas.

“Estava me organizando para visitá-lo, a pedido do Celso Freitas, quando recebi um e-mail: “O Berto morreu”. “Acho que ele descansou. Devia constar no atestado de óbito: “morreu de tristeza, abandonado pelos amigos”.