Morales insiste no diálogo, diz Chanceler


07/10/2008


O Presidente da Bolívia, Evo Morales, vai persistir no esforço de diálogo com as forças de oposição a seu Governo, porque considera que esse é o melhor caminho para a superação da grave crise institucional que o país atravessa. Essa disposição não significa, porém, que ele abrirá mão do programa de busca do desenvolvimento econômico e do progresso social, sobretudo para fazer justiça às comunidades indígenas, que representam mais de 60% da população e sempre foram sacrificadas pelas políticas das elites que dominaram o país até a sua eleição.

As afirmações foram feitas na manhã desta terça-feira, dia 7, pelo Ministro das Relações Exteriores e Cultos da Bolívia, Embaixador David Choquehuanca Céspedes, em encontro realizado no Consulado-geral da Bolívia no Rio de Janeiro, o qual reuniu diretores e membros de instituições da sociedade civil, entre as quais a ABI, representada por seu Presidente, Maurício Azêdo, e pelo Conselheiro Mário Augusto Jakobskind. Ao lado do Chanceler, tiveram assento o Embaixador da Bolívia em Brasília, Maurício Dorfler, o Diretor-Geral de Relações Bilaterais do Ministério das Relações Exteriores da Bolívia, Jean Paul Guevara, e a Cônsul-Geral Shirley Orozco Ramírez.

Céspedes sublinhou que a cultura das populações indígenas da Bolívia difere da ocidental, que é norteada pela preocupação e pelo esforço para se viver melhor, enquanto os indígenas têm como objetivo viver bem, através da harmonia entre as pessoas, entre as regiões do país, entre os bolivianos e outros povos e, sobretudo, entre os homens e a natureza. Ele relatou que, dentro dessa visão, a Bolívia tem registrado importantes avanços, com o estabelecimento da soberania do país sobre seus recursos minerais e naturais, como as florestas, que sempre foram devastadas para atender às encomendas estrangeiras. Entre os êxitos alcançados pelo Governo Evo Morales, Céspedes mencionou o aumento das reservas cambiais do país, que saltaram de US$ 2 bilhões para US$ 7 bilhões, e a redução da dívida externa, que baixou de US$ 4 bilhões para US$ 2 bilhões.

Entendimento

Como prova da disposição de entendimento do Presidente, Céspedes citou a convocação da chamada mesa de diálogo, em que governo e oposição discutiram durante várias semanas as questões institucionais que geraram conflitos ainda não superados totalmente. Ao fim das reuniões, quatro dos sete departamentos — as províncias do país — firmaram o acordo concertado, mas três se negaram a assiná-lo, numa demonstração de que querem manter os enfrentamentos que culminaram com os massacres do departamento de Pando, nos quais morreram dezenas de partidários de Morales. A despeito disso, o Presidente continua aberto ao diálogo, sem recuar, porém, no propósito de apurar os massacres ocorridos em Pando e punir seus responsáveis. Ao mesmo tempo, Morales mantém a mobilização popular em torno das reformas que propõe. Com esse fim, está programada para a próxima segunda-feira, dia 13, uma marcha de dezenas de milhares de seus partidários, que se deslocam há várias semanas, a pé, da região de Oruro para uma manifestação na capital La Paz.

Entre os participantes do encontro no Consulado-geral estavam o sociólogo e cientista polítco Emir Sader, que presenteou o Chanceler com um livro em que vários estudiosos brasileiros discorrem sobre questões atuais da Bolívia; os ex-Deputados Raimundo de Oliveira, ex-Presidente do Clube de Engenharia, e Modesto da Silveira, sócio da ABI; a professora Zuleide Faria de Melo, Presidente Nacional do Partido Comunista Brasileiro; o advogado Ivan Pinheiro, Secretário do Diretório do PCB no Estado do Rio; e representantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra — que entregou a Céspedes um boné do MST —, do Sindicato dos Petroleiros do Estado do Rio e da Casa da América Latina, entre outras entidades.

Durante sua exposição o Chanceler atendeu na sala ao lado a um telefonema do Presidente Evo Morales. Na volta, explicou, com bom humor:
— Há chamados que a gente não pode deixar de atender.