Mariana Ceratti, do Correio Braziliense


16/02/2006


“Ser repórter — um bom repórter, vamos combinar! — é não ter vergonha de perguntar nada. Estar preparado para ouvir todos os tipos de respostas — e nunca acreditar de cara na primeira versão daquilo que ouvimos. Ser repórter é ser observador, curioso, bom ouvinte e batalhador. Acho que todos nós temos duas facetas: tem horas em que é preciso ser paciente. Em outras, se a gente tiver paciência ou educação demais, podemos perder certas informações. É preciso um bocado de cara-de-pau. Ser repórter é bacana na maior parte das vezes, principalmente quando a gente descobre uma grande história (que não necessariamente é aquela feita para ganhar prêmio). Mas causa um certo sofrimento quando a gente deixa de estar com a família ou os amigos porque precisamos dar plantão — no meu caso, é um por mês — ou porque a notícia pede que fiquemos até mais tarde na apuração. É engraçado como, depois de um tempo, os parentes e amigos passam a achar que nós estamos permanentemente de plantão (minha mãe me pergunta, todo fim de semana, se vou trabalhar). Felizmente, todos à minha volta entendem e apóiam o que eu faço. Ninguém demonstrou ciúme até agora.

O que me atrai no fato de ser repórter é o fato de estar permanentemente em contato com aquilo que a vida tem para mostrar. A gente tem sempre que estar preparado para ver e viver o melhor e o pior da vida. Sendo repórter, eu tive e tenho oportunidade de conversar com gente de todos os tipos e estar em lugares diferentes — chiques ou humildes, bonitos e feios — que eu não sei se conheceria se tivesse outra profissão. Talvez seja uma visão excessivamente poética ou romântica do meu trabalho, mas é como eu o vejo.”