Marcelo Beraba – De olho na qualidade da informação


24/08/2006


José Reinaldo Marques
25/08/06

             Folha Imagem

Formado pela Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Marcelo Beraba iniciou a carreira como repórter, no Globo, em 1971. Foi também editor-executivo do Jornal do Brasil e do “Jornal da Globo”, na TV. Na Folha de S. Paulo — onde atualmente é ombudsman, além de dirigir a sucursal carioca do jornal — exerceu os cargos de chefe de Reportagem, editor de Cidades e Política e Secretário de Redação.

Durante o período em que trabalha como ombusdman, a Folha registrou um aumento significativo de mensagens dos leitores — 10.688 em 2005, contra 5.881 em 2004 —, mas ele não credita isso à sua atuação:
— Meu mandato coincide com a crise das empresas jornalísticas — que, na minha opinião, resultou em perda de qualidade — e com um debate permanente em torno da cobertura da política nacional e dos escândalos no Congresso e no Executivo. Minha principal preocupação tem sido cobrar do jornal coerência com o compromisso que assumiu publicamente, ou seja, o de praticar um jornalismo apartidário, crítico, pluralista, moderno e de qualidade. 

Beraba acha que a web também influenciou no aumento do contato dos leitores com o jornal:
— A Internet facilitou muito a comunicação. E há também uma maior consciência crítica dos leitores, que cobram cada vez mais qualidade de informação, equilíbrio nas coberturas e pluralidade na exposição de análises e comentários.

Isso, claro, também se reflete no jornalista:
— O exercício da função e, principalmente, o contato diário com os leitores, me obrigaram a ler e a pensar os jornais — e a imprensa em geral — com mais distanciamento crítico do que eu tinha antes. O trabalho de produção jornalística nem sempre nos permite refletir. A função de ombudsman exige esta reflexão permanente.

Ainda que raramente receba um elogio dos leitores, que quase sempre o procuram quando têm alguma queixa, Beraba acha importante manter um canal de interlocução do veículo com o público:
— Seria um avanço se outros jornais adotassem o ombudsman, com a garantia de autonomia e independência em relação à Redação e à Direção da empresa. Sei que é difícil assimilar a crítica diariamente, mas, se feita com

honestidade, ela é um ótimo caminho para a melhoria de qualquer veículo de comunicação. No Brasil, temos jornalistas na função apenas em três jornais (Folha, O Povo, de Fortaleza, e Jornal da Cidade, de Bauru), duas rádios (Bandeirantes, de São Paulo, e Radiobrás) e uma TV (Cultura, de São Paulo).

residente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) — que, segundo ele, passa por um processo de profissionalização —, Beraba comenta:
— Acho que o jornalismo investigativo brasileiro evoluiu muito em termos técnicos nos últimos anos, mas perdeu espaço nos meios. A cobertura dos escândalos provocados pelas denúncias do ex-Deputado Roberto Jefferson, por exemplo, mostra que fizemos pouco trabalho de investigação própria. Estivemos quase sempre na dependência dos trabalhos das CPIs, do Ministério Público e da Polícia Federal.