Luta contra censura premia jornalistas


07/10/2010


Repórteres e editores da Etiópia, Irã, Venezuela e Rússia foram contemplados com o Prêmio Internacional de Liberdade de Imprensa 2010, do Comitê de Proteção aos Jornalistas (CPJ). Os agraciados são o etíope Dawiti Kebede, o iraniano Mohammad Davari, o venezuelano Laureano Márquez, a russa Nadira Isayeva. Os quatro jornalistas foram premiados devido a colocarem em risco a própria segurança e a liberdade, para relatar a realidade em seus respectivos países.
 
Na mesma ocasião, o Presidente do Open Society Institute, Aryeh Neier, vai receber o Prêmio Burton Benjamin, pelo reconhecimento da sua trajetória em defesa da liberdade de imprensa e dos direitos humanos. O prêmio é uma homenagem a Burton Benjamin, produtor de notícias da CBS e ex-Presidente do CPJ, que morreu em 1988.
 
 
A cerimônia de entrega da premiação vai ser presidida por Sir Howard Stringer, da Sony Corp. O apresentador será Brian Williams, membro da diretoria do CPJ e diretor editorial do programa “Nightly News” da rede NBC. O evento acontecerá no Hotel Waldorf Astoria, em Nova York, no dia 23 de novembro.
 
De acordo com o diretor-executivo do CPJ, Joel Simon, os vencedores do prêmio enfrentaram encarceramento, ameaças, violência e em alguns casos até mesmo tortura, para exercer as suas funções jornalísticas:
— Cada um realizou uma contribuição vital para a cidadania de seu país. Divulgaram injustiças, denunciaram atos de corrupção e mantiveram um olhar cético sobre o alcance das medidas oficiais. Nós os honramos e apoiamos tanto por sua independência como pelo seu valor, afirmou Simon.
 
 
Perfil dos premiados:

Dawit Kebede Tem 30 anos e foi um dos primeiros jornalistas a ser preso por seu trabalho informativo independente durante o período de violência política na Etiópia nas eleições de 2005. E foi um dos últimos a ser libertado, após um indulto presidencial quase dois anos depois. Ao contrário de muitos de seus colegas que optaram pelo exílio, Kebede decidiu permanecer na Etiópia depois de sair da prisão Kality, em Addis Ababa, onde havia sido alojado em um pavilhão coletivo junto com 350 presos comuns. “Há três coisas que as pessoas precisam saber sobre mim”, afirma Kebede. “Primeiro, para mim é impossível viver sem a vida que levo como jornalista. Segundo, a menos que se torne uma questão de vida ou morte, nunca vou abandonar a Etiópia. E, terceiro, não sou opositor. Como repórter, qualquer que seja o regime que governe a Etiópia, nunca hesitarei em escrever sobre temas que impliquem uma crítica para a melhoria do país”.
 

Nadira Isayeva
Isayeva, de 31 anos, enfrentou a fúria dos serviços de segurança na região russa do Cáucaso Norte por sua cobertura sobre a violência e o islamismo militante na área. Como editora-chefe do semanário Chernovik na república meridional do Daguestão, criticou as agressivas táticas das agências estatais que lutam contra o terrorismo. Em 2008, as autoridades deram início a uma ação penal, com base na legislação antiextremista, depois que ela publicou uma entrevista com um ex-líder guerrilheiro que acusou as autoridades locais de corrupção e de submissão ao Kremlin. Isayeva acredita que o processo é uma represália pelo trabalho informativo do Chernovik. Se condenada, pode encarar uma pena de até oito anos de prisão.
 

Laureano Márquez
Jornalista, escritor, ator e humorista, Márquez encontrou abundante material de trabalho no cenário político venezuelano. Também é autor de três livros de humor, incluindo Código Bonchinche, best-seller de 2004.
         

Mohammad Davari
Davari de 36 anos, editor-chefe do site de notícias Saham News, expôs os terríveis abusos no centro de detenção Kahrizak, gravando declarações em vídeo de detidos que afirmavam ter sido vítimas de violação, abuso e tortura. O centro foi fechado em julho de 2009 depois de uma manifestação pública, mas em setembro do mesmo ano a cobertura havia colocado Davari na prisão de Evin, onde ele cumpre uma condenação de cinco anos por “motim contra o regime”. Sua mãe escreveu ao secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, garantindo que seu filho foi torturado no centro de detenção. Atualmente em confinamento solitário, Davari não tem recebido permissão para ter contato com sua família por mais de oito meses. O jornalista pagou um preço altíssimo por realizar o seu trabalho. Quando era um jovem estudante, Davari foi voluntário para combater na guerra Irã-Iraque, na qual sofreu ferimentos em um olho e uma perna. 
 

Aryeh Neier
O CPJ homenageará o norte-americano Aryeh Neier com o Prêmio em Memória de Burton Benjamin por sua ampla e distinta trajetória para promover a liberdade de imprensa. Neier é um pilar na comunidade de direitos humanos internacional e dos Estados Unidos. Permaneceu por oito anos na União Americana de Liberdades Civis. Em 1978, fundou a Human Rights Watch e dirigiu a organização como diretor-executivo durante 12 anos, antes de ir presidir a Open Society Institute. Neier forneceu valiosos conselhos para a criação do CPJ, onde foi membro da diretoria por muitos anos. Escreve freqüentemente no New York Review of Books e tem publicado em numerosos veículos de comunicação, incluindo The New York Times Magazine e Foreign Policy. Durante 12 anos escreveu uma coluna sobre direitos humanos no The Nation.
 
 
 
* Com informações do CPJ.