Lula: brasileiro tem sede de discutir comunicação


24/11/2010


Faltando pouco para deixar o cargo, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu pela primeira vez uma entrevista exclusiva a dez blogueiros, nesta quarta-feira, 24 de novembro, em Brasília. No encontro, que durou duas horas, fez críticas à imprensa, falou sobre regulação da mídia e a entrada de capital estrangeiro no setor, reforma política, entre outros assuntos. Ele anunciou que, ao sair da Presidência, pretende ficar quatro meses à toa, para depois se dedicar a fazer coisas que ele sempre quis, mas não tinha tempo de realizar. Disse que vai criar um blog e se lançar no Twiter.
 
 
Conforme foi veiculado pelo Blog do Planalto, no início da entrevista, respondendo a uma pergunta do blogueiro Renato Rovai (Blog do Rovai) o Presidente destacou o empenho do Governo na realização da Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), realizada em dezembro de 2009. Ele disse que as propostas tiradas no encontro servirão de base para o projeto que será encaminhado ao Congresso Nacional, e que o Palácio do Planalto está “preparando o caminho” para a sua aprovação.
 
 
Ao se referir à cobertura da imprensa sobre o acidente com um avião da TAM, no aeroporto de Congonhas, em 2007, que matou 199 pessoas, Lula contou que esse foi o momento mais traumático que viveu na sua vida. Ele disse que foram veiculadas muitas informações desencontradas, e que somente quando ligou a TV percebeu o tamanho da tragédia.
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O Presidente Lula falou que ficou chateado com o noticiário de alguns setores da mídia que indicavam que a culpa do acidente teria sido do Governo. “O dia em que sofri mais foi no acidente com o avião da TAM em Congonhas. Nunca vi tanta leviandade”, disse o Presidente lembrando que as investigações apontaram que erro havia sido cometido pelos pilotos. “Foi o dia mais nervoso da minha vida. Não quero que isso se repita”, declarou.
 
 
Censura

 
O Presidente Lula criticou o projeto de lei apresentado  do Senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), conhecido como “AI-5 Digital”, e disse que acha uma “estupidez” querer controlar a internet. Sobre a questão de que o seu Governo estaria pregando a censura aos meios de comunicação, o Presidente disse que “não existe maior censura do que a ideia de que a mídia não pode ser criticada (…). Quando você acusa uma pessoa, você tem de ter provas. Se der errado, peça desculpas. No Brasil, parece que é feio pedir desculpas. Eu lembro da Escola de Base de São Paulo, que é um marco”.
 
 
Lula disse que não tem lido jornais ou revistas, mas que assim que terminar o seu mandato voltará a fazer a leitura dos veículos de imprensa: “Quando eu deixar a Presidência eu vou reler, porque eu parei de ler revista, parei de ler jornal. Pelo fato de não os ler, eu não fico nervoso. Eu vou reler muita coisa porque eu quero saber a quantidade de leviandades, de inverdades que foram ditas a meu respeito. Apenas para gravar na história. Porque não foi fácil.”
 
 
O Presidente também defendeu o controle do capital estrangeiro na mídia. O caso vem sendo debatido no Congresso com o apoio das entidades representativas do setor. A opinião do Presidente sobre o assunto é a seguinte: “Precisamos ter certo controle sobre a participação dos estrangeiros [na mídia]. Isso é a minha tese. (…) Eu sou o resultado da liberdade de imprensa deste país, com todos os defeitos. Não temos de julgar. O que eles [mídia] se enganam é que pensam que o povo é massa de manobra como era no passado. E agora eles têm de lidar como uma coisa chamada internet. Quando um cidadão conta uma mentira, ele é desmentido em tempo real e tem de se explicar.”
 
O blogueiro William Barros, do blog Cloaca News, quis saber do Presidente a sua opinião sobre a regulamentação da mídia. Lembrando a repercussão que o tema tem despertado em vários setores da população do País, Lula disse afirmou que “a sociedade brasileira tem tanta sede de discutir comunicação quanto um nordestino do semi-árido de encontrar uma moringa de água gelada”.  
 
 
Em relação à regulação da mídia, tema polêmico que tem sido criticado tanto por jornalistas, quanto por entidades representativas dos meios de comunicação, o Presidente Lula ressaltou que regulação dos meios de comunicação existe no mundo inteiro, e que “não tem mais como fugir deste debate no Brasil. A Dilma é quem vai fazer esse debate, e certamente vai mandar para o Congresso Nacional, e aí vocês entrarão em campo, meus caros”, afirmou o Presidente.
 
 
 
Ao final da coletiva, o Presidente Lula disse que ficou frustrado com a cobertura da TV Globo nas últimas eleições, referindo-se ao caso da bolinha de papel jogada no então candidato José Serra (PSDB), em uma caminhada no Rio de Janeiro, durante a campanha.
 
 
“Fiquei decepcionado, porque tentaram inventar uma outra história, tentaram mostrar um objeto invisível, um objeto que nunca foi visto”, afirmou. E acrescentou que estava decidido naquele dia a não dar entrevista sobre o assunto, mas não gostou da atitude do candidato do PSDB: “Aquele dia da bolinha de papel eu não ia dar entrevista, mas foi uma desfaçatez (…) O Serra tem que pedir desculpas para o povo”, disse o Presidente.

Participaram da entrevista os blogueiros Altamiro Borges (Blog do Miro), Altino Machado (Blog do Altino), Conceição Lemes (Viomundo), William (Cloaca News), Eduardo Guimarães (Cidadania), Leandro Fortes (Brasilia, Eu Vi), Pierre Lucena (Acerto de Contas), Renato Rovai (Blog do Rovai), Rodrigo Vianna (Escrevinhador) e Túlio Vianna (Blog do Túlio Vianna).

 
 
* Com informações do Blog do Planalto.