Livro sobre a Palestina é lançado na ABI


16/06/2011


 
Foi concorrida a noite de autógrafos do lançamento do livro “La llave entre las piedras” do jornalista, escritor, humorista e compositor paraguaio Mário Casartelli, na terça-feira, 14 de junho, na ABI. A obra aborda a questão árabe-israelense, que foi tema do debate realizado em seguida ao lançamento. O evento foi promovido pela Diretoria de Cultura e Lazer e atraiu jornalistas, cineastas, entre outras personalidades da cena política e cultural do Brasil.
 
 
Convidados pelo Diretor de Cultura e Lazer da ABI, Jesus Chediak, o programa contou com a presença dos cineastas Dejean Magno Pellegrini e Silvio Tendler, da atriz e cantora Watusi e da Presidente do Comitê Estadual do PC do B no Rio de Janeiro Ana Rocha. Os Conselheiros Domingos Meirelles, Sérgio Caldieri e Mário Augusto Jakobskind também compareceram ao evento.
 
 
A mesa de debates foi composta pelo cineasta Silvio Tendler, Mário Augusto Jakobskind, o autor do livro, Mário Casartelli, a mediadora foi a jornalista Cláudia Furiati.
 
 
Na abertura, Jesus Chediak destacou a importância do diálogo entre os dois lados envolvidos no conflito e o objetivo principal do encontro:
— Hoje se passa para a sociedade uma idéia muito errônea em relação ao povo de Israel. O povo de Israel é um povo com uma história muito bonita, que todos nós respeitamos muito, inclusive eu diria que o próprio Ocidente se estrutura em cima do semitismo. E como o Brasil tem a vocação pela paz e pela harmonia, esse é um encontro de paz e harmonia entre árabes e judeus. Isso é fundamental, e esse é o nosso principal objetivo.
 
 
Homenagem
 
 
O evento teve início com a exibição do curta “Matzeiva Juliano Mer-Khamis”, de Silvio Tendler, que conta a história de Juliano Mer Khamis, um palhaço judeu, que se apresentava em um teatro na cidade de Jenin, na Cisjordânia, um dos palcos dos conflitos entre israelenses e árabes.
 
 
Juliano foi assassinado há dois meses na Palestina, e sua história serve de exemplo aos que buscam a paz na região, como afirma Silvio:
— Eu acho que ele é o personagem mais emblemático do que pode ser a paz. Na verdade eu faço essa homenagem a ele para mostrar que os fundamentalismos não têm limites. O Juliano morava em Haifa, era um grande ator em Israel, ia toda semana pra Jenin, pra se apresentar para aquelas crianças. Se chama “Matzeiva Juliano Mer-Khamis”, porque Matzeiva em hebraico quer dizer lápide, que é como se fosse uma lápide mesmo, uma homenagem.
 
 
O jornalista Domingos Meirelles reforçou a mensagem positiva passada pelo filme e o importante papel da ABI de levantar discussões com o objetivo de promover a paz:
— Para a ABI é sempre um motivo de orgulho a apresentação de documentários com esse perfil, ainda mais porque está de acordo com a tradição desta casa que sempre foi a favor da defesa das liberdades.
 
 
Debate
 
Após a exibição do filme, Mário Csartelli explicou a razão do título dado ao livro, “La llave entre las piedras” (a chave entre as pedras), inspirado no protesto que acontece em todos os dias 15 de maio, quando palestinos lembram da perda de suas casas, demolidas após a criação do estado de Israel. Na manifestação, todos caminham com chaves simbólicas nas mãos, que representam os lares perdidos no dia do “Al Nakba”, que significa “a catástrofe”, como os palestinos se referem ao dia da fundação do Estado de Israel.
 
 
O autor expôs os problemas e as conseqüências do desvirtuamento do sionismo:       
— Como teoria, o sionismo foi uma coisa interessante, bonita, congregar todo um povo num só lugar. Mas aconteceu que essa teoria foi se desvirtuando. Lastimosamente, o sionismo, que foi muito bom por um lado, se converteu depois em uma ideologia de extrema direita. Que terminou praticando o terrorismo de estado.
 
 
Em seguida, Jakobskind lamentou as decisões tomadas por Israel e seu atual Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu, apoiadas por outros líderes internacionais:
— Agora fique Berlusconi, fique Netanyahu, fique a extrema direita do mundo remando contra a maré. Até lamento que o Estado de Israel tenha esse tipo de posicionamento, por que o que ocorre no Estado de Israel nesse momento está acirrando no mundo um foco de anti-semitismo.
 
 
O jornalista completou:
— Claro que a barbárie que aconteceu na Segunda Guerra mundial sensibiliza todo mundo, então, os dirigentes de Israel se aproveitam dessa questão para fazer chantagem. Então tudo que acontece em relação a Israel, todas as críticas, são tachadas automaticamente de anti-semitas.
 
 
 
Futuro
 
 
Silvio Tendler lembrou de um encontro com um israelense que fazia parte do grupo de Yitzhak Rabin, o primeiro a negociar a paz diretamente com um palestino em 1993, em Oslo, Noruega:
— Ele falou uma coisa que pra mim é pra vida: “a gente não pode ficar hipnotizado pelo passado.” Então, eu acho que se a gente quer sair deste impasse, é um pouco o que eu tentei fazer com Utopia e Barbárie, e o que eu tento fazer com a vida. Discutir o futuro. Não ficar olhando pro passado.  
 
 
O cineasta defendeu também a criação do Estado Palestino como forma de neutralizar a ideologia de extrema direita que tem direcionado as decisões do governo de Israel:  
— A partir do momento que os Palestinos tiverem a pátria deles, a vida vai ser diferente, aí nós da esquerda vamos poder avançar. Hoje a gente vive absolutamente paralisado por um estado de pânico da população judia em Israel que acha que vai ser jogada no mar, que Israel vai acabar, e isso dá a vitória eleitoral sempre para a direita.
 
 
Reconhecimento
 
 
A ex-bailarina, atriz e cantora Watusi sublinhou a importância do diálogo, e de analisar a questão sem qualquer tipo de preconceito:
— O que falta ao ser humano é você entender o outro através do seu olhar. Acho isso muito importante. Cada um tem sua maneira de ver, sua maneira de pensar, e nós estamos muito numa situação de olhar para o nosso próprio umbigo, e não damos oportunidade para que outros exponham qual é a sua situação. As religiões na verdade têm essa coisa de que cada um acha que a sua é mais importante do que a outra. Na verdade a grande democracia do mundo é defender o povo.
 
 
A Presidente do Comitê Estadual do PC do B, Ana Rocha, salientou a defesa da paz na região e do direito do povo palestino a ter seu próprio território:
— O que está em voga é a paz naquela região, que hoje é alvo de um interesse imperialista, e o governo de Israel muitas vezes é usado por esses interesses para agredir os moradores daquela região. Nós defendemos a paz no Oriente Médio, a soberania dos povos, a autonomia do povo palestino e seu direito a ter também um Estado.