Livro e peça teatral falam do Barão de Itararé


17/06/2008


Há muito tempo convivendo com o texto de Apparício Torelly, o Barão de Itararé, o escritor, jornalista e cineasta Ipojuca Pontes resolveu “ressuscitar o humorista” e acaba de lançar uma peça de teatro, “A manha do Barão”, que também foi editada em livro (A Girafa, São Paulo):
— Fiz um apanhado da vida do Apparício desde garoto até a sua morte. Entrevistei pessoas que conviveram com ele, pesquisei alguns textos engraçados sobre o Brasil, a Academia Brasileira de Letras, a ABI, a imprensa e a economia, e, a partir de um gancho dramático, fiz uma panorâmica sobre a vida brasileira sob a ótica do Barão de Itararé — diz Ipojuca.

No prefácio, o jornalista José Neumanne Pinto descreve o livro como “leve, fluido e gracioso, criado por quem conhece de perto a obra do Barão, tornando-se, por isso, uma leitura prazerosa e que faz pensar”. A obra reconstitui teatralmente a rica trajetória do jornalista gaúcho, passando pela circulação do periódico humorístico A Manha e a criação do Barão de Itararé.

O autor se refere ao seu trabalho como uma trama teatral em que o Barão de Itararé retorna à vida, para passar a limpo o Estado Novo. Ipojuca afirma que o humorista “foi ferrenho inimigo da ditadura Vargas, atacando-a sempre a golpes de riso”. Essa situação está ressaltada na peça, com o Barão fazendo uma conferência ilustrada sobre a própria figura, o seu envolvimento com a imprensa e os problemas que teve com o Governo, que o levou duas vezes à prisão.

O título da peça foi inspirado em A Manha, lançado pelo Barão no início do século XX:
— Esse jornal é a grande obra de Apparício como jornalista e empresário. Ainda me lembro do dia em que, em 1945, próximo à queda do Estado Novo, a ABI lhe prestou uma grande homenagem, com a participação de gente famosa como Rubem Braga, Joel Silveira e autoridades diplomáticas. O ato aconteceu no salão nobre da Associação, acompanhado de um almoço, ao término do qual o Barão fez um célebre discurso sobre a liberdade de imprensa.


“Almanhaques”

Ipojuca lembra que, entre 1926 e 1962, A Manha fez circular seus “almanhaques” (“os almanaques da Manha”), que fizeram parte “do melhor cardápio da vida brasileira inteligente”. Em recente entrevista à própria editora que produziu seu livro, ele falou do humor do Barão:
— É difícil encontrar um leitor civilizado daqueles tempos que não tenha devorado, compulsivamente, o pão satírico do semanário que ele denominava, com propriedade, de “órgão de ataque de risos”. Sua influência foi avassaladora. Por isso se diz que tudo que se faz hoje de humor escrito no Brasil tem origem no Barão de Itararé.

Para Ipojuca, tanto Apparício, quanto Apporelly (outro pseudônimo) e o Barão — “que acabou por devorar seu criador” — foram personalidades fascinantes:
— O homem tinha um espírito renascentista, ousado, iluminista e reformador que invadiu espetacularmente o vasto território da ignorância humana. É o nosso Bernard Shaw. Além de humorista, foi empresário, escritor, poeta, jogador, caricaturista, político. Como cientista, tentou inventar uma vacina contra a febre aftosa. No campo da numerologia, tornou-se célebre por seus “horóscopos biônicos”. E na matemática, pelos “quadrados mágicos”.