Vaticano absolve jornalistas e condena sacerdote


Por Claudia Sanches*

08/07/2016


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Os jornalistas italianos Gianluigi Nuzzi e Emiliano Fittipaldi (Foto: Reprodução)

A Justiça do Vaticano absolveu os jornalistas italianos Gianluigi Nuzzi e Emiliano Fittipaldi, no caso conhecido como Vatileaks 2 e condenou o monsenhor espanhol da Opus Dei Lucio Vallejo Balda a 18 meses de prisão por divulgar documentos confidenciais da Santa Sé.

O tribunal condenou também a especialista italiana em relações públicas Francesca Chaouqui a 10 meses de prisão com sursis e absolveu Nicola Maio, colaborador de Vallejo, por não ter cometido o delito.

O processo foi aberto em 24 de novembro e suscitou controvérsia pelo fato de serem julgados dois jornalistas italianos, autores de livros sobre a corrupção na Cúria Romana, baseados em e-mails, gravações e vários documentos.

Acusações de chantagem e de atentado à liberdade de imprensa, pirataria cibernética, sexo: todos esses ingredientes engrossaram o caso que embaraçou o Vaticano. “Nós fomos indiciados porque fizemos bem o nosso trabalho de jornalistas”, declarou Nuzzi. “O Vaticano foi corajoso”, considerou por sua vez Fittipaldi pouco após o anúncio do veredicto.

Contudo, o tribunal não hesitou em condenar Balda, que dirigia uma comissão sobre as finanças do Vaticano e que está na origem dos documentos vazados, e Chaouqui, membro desta mesma comissão.

“Em nome de Sua Santidade”

O tribunal, que pronunciou o veredicto “em nome de Sua Santidade o papa Francisco” não seguiu as recomendações da procuradoria que pediu três anos e nove meses de prisão para Chaouqui e três anos e um mês de prisão para Balda. Também havia pedido uma pena com sursis contra um dos dois jornalistas, Gianluigi Nuzzi.

Balda, de 55 anos, que foi colocado sob liberdade condicional na segunda-feira depois de vários meses de detenção, poderia, portanto, voltar para a prisão após a sentença contra a qual ainda pode recorrer. O advogado de Chaouqui disse à imprensa que iria avaliar se vai ou não recorrer.

A justiça do Vaticano finalmente absolveu Nicola Maio, um colaborador do bispo Balda por falta de delito.

O caso foi revelado no início de novembro com a prisão do prelado espanhol, acusado, com Chaouqui, de 34 anos, de ter enviado aos jornalistas documentos confidenciais sobre as finanças do Vaticano.

Estes jornalistas se apoiaram nestes documentos para escrever seus livros, “Caminho da Cruz” e “Avarizia” (avareza), sobre a persistência de falhas e má gestão financeira no Vaticano, apesar da reforma promovida pelo papa Francisco.

O processo, iniciado em 14 de novembro, ganhou contornos dramáticos rapidamente.

Francesca Immocalata Chaouqui conquistou o centro do palco na pequena sala de audiências, defendendo-se com virulência das acusações contra ela e acertando as contas com o bispo Balda, em um psicodrama com pitadas de chantagem e sexo.

A jovem, especialista em comunicação, grávida durante grande parte do processo, nega com veemência ter tido relações sexuais com o prelado espanhol, ao contrário do que alegou diante de seus juízes. “Não, eu nunca tive relações sexuais com ele. Sua mãe dormia no quarto enquanto ele me fazia confidências sobre seu ambiente sexual”, declarou a acusada, contando uma noite em um hotel em Florença em 2015.

Chaouqui, muitas vezes nervosa e inquieta durante o julgamento, sugeriu que o prelado espanhol teria lhe contado sobre suas relações homossexuais.

No entanto, para Balda, Chaouqui é uma manipuladora perigosa, que o chantageou.

E embora tenha admitido que entregou aos repórteres senhas e documentos confidenciais, alegou que o fez sem estar “totalmente lúcido”, sob o estresse psicológico de sua ex-colega.

Este novo escândalo, verdadeira Via Crucis para o Vaticano, surgiu após um primeiro “Vatileaks” em 2012, sob Bento XVI. O mordomo do papa emérito também havia sido condenado a 18 mesmes de prisão por ter divulgado documentos confidenciais, antes de ser agraciado pelo pontífice.

*Informações de O Globo