Jurandyr Noronha lança livro no Rio


27/04/2012


O jornalista, cineasta, pesquisador e escritor Jurandyr Noronha, um dos grandes nomes da cinematografia nacional, lançou o livro “Bravos Companheiros”, na noite desta quinta-feira, dia 26, na Livraria da Travessa, em Ipanema, Zona Sul do Rio. Prestigiaram o evento parentes, amigos e colegas de trabalho do autor, entre os quais os jornalistas Fernando Sampaio, Iarli Goulart e Eugênio Fernandes, integrantes da primeira geração de profissionais da TV brasileira.
 
—Trabalhei com Jurandyr Noronha na TV Tupi entre 1955 e 1959, como auxiliar de câmera. Há mais de trinta anos nós não tínhamos contato. Fiquei sabendo do lançamento do livro e fiz questão de participar. Eu e o Iarli Goulart, aqui presente, fizemos parte da grande equipe de reportagem chefiada po Maurício Dantas, com Ortiz Rúbio como subchefe. Ele ficou conhecido por ter filmado a própria morte. Tudo aconteceu no Campo dos Afonsos, onde Ortiz estava fazendo imagens para uma matéria sobre a Esquadrilha da Fumaça que seria veiculada no noticiário “Repórter Esso”. Nas câmeras antigas quando você olhava através da lente, não via mais nada em volta. Foi quando a ponta da asa do avião pilotado pelo comandante Braga sofreu um pequeno declive e cortou a cabeça do Ortiz, recordou Fernando Sampaio.  
 
Apesar da dedicação precoce ao cinema, Jurandyr também atuou no telejornalismo, ressaltou Sampaio:
—Foi uma satisfação enorme reencontrar o Jurandyr lúcido aos 96 anos de idade. Quando trabalhamos juntos ele já era um homem de cinema, mas trabalhava também na área de reportagem. Nessa época não existia videotaipe; era uma máquina de corda e o filme virgem tinha que ser revelado. Era preciso acender tampinhas com álcool para secar o filme. Uma época de muita dificuldade, mas maravilhosa. O repórter escrevia e filmava. Tinha que ter inspiração para trabalhar o texto e a imagem. Eu e Jurandir vivenciamos maravilhosos momentos juntos nesta época. Chegamos aqui na livraria brincando para ver se ele conseguia se lembrar de nós, já que faz tanto tempo. Demos algumas dicas e ele lembrou de tudo.
 
Também presente ao lançamento, Iarli Goulart contou que foi montador do primeiro telejornal da TV brasileira, cargo que atualmente é conhecido como editor.
—Trabalhei com os fantásticos Hilton Gomes, Oduvaldo Cozzi e José Maria Scassa, da famosa equipe de jornalismo da pioneira TV Tupi, pois não existia a TV Globo. O que eles fazem hoje com o videotaipe, nós chegamos a fazer no Maracanã. Passávamos as imagens do primeiro tempo do jogo, só os gols, antes do início do segundo tempo. Tudo na base do improviso, pois não havia tecnologia disponível. É sempre um prazer rever os amigos daquela época, especialmente o Jurandyr Noronha, um excelente profissional e colega.
 
O talento, versatilidade e profissionalismo de Jurandir Noronha também foram sublinhados por Eugênio Fernandes, 77 anos, outro companheiro da TV Tupi:
—Trabalhei no Departamento de Reportagem da TV Tupi entre 1955 e 1960. Era o início da TV no Brasil, um setor que oferecia muitas oportunidades. Comecei como auxiliar de arquivo, passei para pau de luz, cinegrafista, e reportagem. Eu e Jurandyr Noronha fizemos parte da primeira geração de profissionais de TV, que, por ainda não ter uma linguagem própria, copiava os padrões do rádio e do teatro. Enfrentávamos muitas dificuldades pois trabalhávamos com câmeras muito pesadas e em número reduzido. Só fazíamos externa para o futebol aos domingos. Contudo, foi uma TV criativa que conseguiu desenvolver processos de execução das tarefas, apesar das péssimas condições de trabalho. A dedicação da equipe era total, com destaque para Jurandyr Noronha, que levou para a tela da TV o olhar do cinema, com idéias, ângulos e planos ousados para a época.
 
Os problemas de operacionalidade não se limitavam ao setor técnico e faziam parte também da rotina diária da redação, segundo Eugênio Fernandes:
—Em um determinado período eu e o Jurandyr ocupamos as chefias de pauta e de reportagem em turnos diferentes. Tínhamos de produzir 33 matérias por dia. Era uma loucura. Com o advento das câmeras portáteis, a TV foi para as ruas, ganhou fôlego e velocidade. “Pecado Capital”, dirigida por Daniel Filho, é um exemplo deste momento. A grande virada na qualidade chegou com a introdução da computação gráfica. Vale lembrar, entretanto, que o pioneirismo de Jurandyr Noronha faz dele um dos profissionais mais importantes ainda hoje.
 
Feliz com a presença dos velhos amigos, Jurandyr falou sobre as expectativas em torno do lançamento do livro:
—A noite de autógrafo é muito importante, mas já estou ansioso para receber os comentários dos leitores a respeito de “Bravos Companheiros”, obra para a qual dediquei um trabalho insano de pesquisa no resgate de episódios que definiram as trajetórias do Brasil e do mundo. Valeu a pena.
 
Memória
 
Redator, roteirista, montador e diretor de filmes, Jurandyr Noronha, 96 anos, vem dedicando a sua consagrada trajetória profissional, iniciada nos anos 1940, à valorização e à preservação da cultura e da memória cinematográfica brasileira. Autor de dezenas de filmes e livros sobre a sétima arte, Jurandyr realizou em “Bravos Companheiros” – seu primeiro romance – o acalentado projeto de relatar impressões e experiências a partir dos acontecimentos que marcaram a história do Brasil e do mundo.
 
—Este é um livro simples e direto como o seu autor Jurandyr Noronha. Narra, sem complicações, uma dupla estória que se desenvolve na pacata Remando, mas vem contando, por outro lado, os fatos que marcaram a história do Brasil. A revolta do Forte de Copacabana em 1922 e o tenentismo que daria na Revolução de 30. Por aí passam Prestes, Plínio Salgado, Getúlio, a presença dos pracinhas na Itália e vem ato o sputinik e o nosso futebol de 1958, campeão na Suécia, relata o escritor e imortal Affonso Romano de Sant’anna, no prefácio da obra.
 
Nas palavras do jornalista e poeta Celso Jupiassu, autor do texto de apresentação, com “Bravos Companheiros” e sua simbólica Remanso, Jurandyr Noronha dá vida ao axioma de Tolstoi: ‘se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia.’
—Ele testemunhou os fatos que lhe são contemporâneos e com eles compõe sua narrativa, o que lhe permite transmitir a experiência de um observador privilegiado, capaz de prestar seu depoimento na qualidade de quem realmente viveu para poder contar. Os fatos reais estão enriquecidos pela criação literária, mas são expostos como realmente aconteceram.
 
Personalidades históricas como Washington Luiz, Getúlio Vargas, Santos Dumont e Juscelino Kubitschek conduzem a trama que entrelaça a narrativa dos personagens ficcionais:
—Vultos marcantes da história recente do Brasil estão ao lado do padre, do prefeito, do operário comunista e de outros anônimos moradores da pequena Remanso, que da sua simplicidade observam desenrolarem-se os acontecimentos, os dramas e as tragédias de todo um século: do levante dos tenentes no Forte de Copacabana ao lançamento do primeiro satélite artificial da Terra; passando pela revolução de 1930; o surgimento do avião como meio de transporte; a popularização do rádio e da TV transformando a comunicação de massa; o movimento constitucionalista de São Paulo; os levantes comunista e integralista de 1935 e 1937, a guerra civil espanhola e a Segunda Guerra Mundial, com a participação da FEB nesse conflito; a criação do Estado de Israel; a derrota da seleção brasileira de futebol frente ao Uruguai; a Guerra Fria; o suicídio de Getúlio; a construção de Brasília e o Brasil campeão mundial de futebol, observa  Japiassú.
 
O papel de Jurandyr Noronha como observador e também partícipe dos movimentos em defesa da cultura nacional e das liberdades, é sublinhado por Affonso Romano de Sant’anna:
—Depois de ter visto, ter filmado e ter vivido tudo o que viveu, Jurandyr Noronha decidiu, do alto de seus quase cem anos, entregar-se a essas recordações de um mundo antigo. Para usar uma linguagem cinematográfica, já que não se pode pensar no cinema brasileiro sem Jurandy, ele faz uma espécie de trailer de seu tempo. È o comumente se chama de “testemunha ocular da história”.
 
Para ser fiel aos episódios históricos, Jurandyr Noronha conta que dedicou cerca de seis anos à pesquisa:
-Os fatos que marcaram o Brasil e o mundo sempre foram objetos de minha atenção, assim como a luta política no País, da qual participei. Contudo, o resgate histórico na feitura de uma obra é necessariamente árduo e exige disciplina e dedicação. Tudo se torna mais difícil ainda ao lançarmos o livro sem patrocínio. Neste sentido, tive a importantíssima colaboração de minha filha, Gilberta Noronha Mendes, e de meu genro Júlio Helbron.
 
Acervo
 
Nascido em Juiz de Fora, Minas Gerais, em 1916, Jurandyr Noronha iniciou a carreira no cinema pelas mãos de Adhemar Gonzaga, na Cinédia. Ao lado de Humberto Mauro, outro pioneiro, trabalhou no Instituto Nacional do Cinema Educativo. Foi cinegrafista da extinta TV Tupi e do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), durante o  Estado Novo. Atuou em diversas entidades como o Instituto Nacional do Cinema e Embrafilme e em dezenas de produtoras e estúdios.
 
Data do início da carreira o empenho de Jurandyr Noronha na preservação de fontes historiográficas do cinema. Seus esforços incluem a descoberta do filme, feito em Paris, do voo de Santos Dumont no 14-Bis, corroborando o feito inédito, a localização nos arquivos do DIP do filme sobre Lampião rodado no sertão nordestino pelo mascate Sebastião Abrahão, e o resgate dos negativos de “Tesouro Perdido”, de Humberto Mauro.
 
Estes e outras dezenas de filmes e fragmentos originaram os longas “Panorama do Cinema Brasileiro”, com 134 imagens fundadoras de filmes de ficção, “70 anos de Brasil” (1974), com a recuperação dos documentários, e Cômicos + Cômicos(1971), em celebração aos comediantes.
 
O rico acervo, que apresenta a evolução da indústria cinematográfica no País, foi reunido no Museu do Cinema Brasileiro, mantido por Jurandyr em sua residência no Rio de Janeiro. A coleção Jurandyr Noronha, comprada pela Light em 1991 e doada ao MIS em 1997, continha documentários históricos e filmes de ficção em 16mm e 35mm, cenas do cotidiano carioca (Cinelândia em 1920, a Avenida Rio Branco, a Praia do Flamengo, Copacabana e o Carnaval de 1940), fotografias de filmes, de estúdios, de equipamentos, de salas de exibição e de personalidades do cinema nacional e internacional, além de estudos sobre indumentária para o cinema. Posteriormente, o material, dilapidado, foi transferido para os estúdios da Cinédia.
 
Em reconhecimento ao legado do mestre da imagem, o acervo de arquivos sobre o cinema documentário brasileiro do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro (MIS) leva o nome de Jurandyr Noronha.
 
A filmografia de Jurandyr inclui a direção de curtas e médias-metragem como “Uma alegria selvagem”, “A medida do tempo”, “O Cinegrafista de Rondon”, “Oswaldo Cruz”. Como curador, organizou as exposições “75 anos de Cinema”(1970), “Pioneiros do Cinema Brasileiro (Frankfurt – 1994), “200 anos de Indústria no Brasil”(área de cinema – 2007/2008), e “O Rio no Cinema – o Cinema no Rio”(1988), esta última como co-curador.
 
A contribuição do cineasta estende-se ao mercado editorial com os títulos “No tempo da manivela”, “Pioneiros do Cinema Brasileiro”, “A longa luta do cinema brasileiro”, “O Momento Mágico”, “Dicionário do Cinema Brasileiro, de 1896 a 1936 – do Nascimento ao Sonoro”, o mais completo levantamento do cinema silencioso brasileiro, com cerca de 2.500 verbetes, além do CD-Rom “Pioneiros do Cinema Brasileiro”, e o mais recente lançamento, “Bravos Companheiros”.
 
Epopéia
Ubiratan, personagem principal do livro morre poucos dias antes da epopéia dos 18 do Forte, segundo o autor:
—É quando um civil, Octávio Corrêa, no portão do velho quartel pediu um fuzil para acompanhá-los. Seriam todos, civis e militares, irmanados, companheiros, “bravos companheiros”, na luta pela libertação nacional. Daí o título “Bravos Companheiros”.
 
Os fatos sucedem-se na obra, explica Jurandyr, marcando a história do País e do mundo:
—A 7 de Setembro de 1922, ocorre a primeira rádio transmissão; os brasileiros nunca haviam visto um rádio receptor. E o que ouvem, estupefatos, são os acordes do Hino Nacional e a palavra de Epitácio Pessoa, presidente da República. Em Remanso, cidadezinha símbolo do interior do Brasil, viviam muitas personagens: Doutor Vasconcelos, seu Jacob com dona Bluma cuidando de uma pequena loja; Maria Rosa, uma linda mulata que entregava as refeições preparadas por Dona Quitéria, sua mãe; Nicola, um ferroviário e a sua enorme e lendária “Fazenda Bar Querer”, padre Mozael, Lúcia, Ewandro. “Bravos Companheiros” é um grande mural.
 
As idéias de esquerda haviam chegado a Remanso por intermédio de Donato, colega de Nicola, como ele ferroviário. Por ambos são impressos os primeiros panfletos do Partido Comunista, começando a aparecer por todo o município.
—Em 1925, sai o jornal A Classe Operária, clandestinamente distribuído. Ubiratan, aos 4 anos de idade, sua mãe ao lado, ensaia os primeiros passos no Largo da Matriz. É formada a Coluna Miguel Costa – Luiz Carlos Prestes: 1600 homens percorrem 24 mil quilômetros em guerrilha que enfrenta a falta armamento e de munição. Internam-se todos na Bolívia. Os jornalistas Barreto Leite Filho Rafael Corrêa de Oliveira fazem reportagens com o líder da Coluna e seus comandados. É quando Astrogildo Pereira oferece a Prestes um exemplar de “O Capital”, de Karl Marx.
 
Com o romance tórrido entre o fotógrafo Isaac e Maria Rosa, se estreitam os dramas pessoais com o coletivo, lembra o autor.
—A essa época é promulgada a “Lei Celerada” e suspensas todas as garantias constitucionais e censura à imprensa. O cidadão Conrado Niemeyer apontado pela Polícia Política como implicado no fornecimento de explosivos para atentados terroristas teria saltado por uma janela da 4ª Delegacia e morrido. O Globo denunciou em detalhes o que constatara o médico-legista: costelas quebradas e a cabeça aparentando sinais de violência. E concluía: “A solução fora suicidar o preso?”
 
Fraudes
 
Em 1927, tem início a primeira linha regular de aviação comercial no Brasil, ligando Porto Alegre ao Rio de Janeiro, com influência marcante em Remanso:
—Padre Mozael, obscurantista e retrógado, é substituído por Padre Flávio. Este pertence à Ala Progressita da Igreja e debate com Nicola, com citações de ambos e São Francisco de Assis e Karl Marx. E havia também a imprescindível Gazeta de Remanso.
 
A sucessão presidencial empolga o País, ansioso por reformas, sob a influência dos 18 do Forte, desde 1922. As chapas eram de Washington Luiz e de Getúlio Vargas, conta Jurandyr:
—A 1º de março de 1930, a contagem dos votos. Fraudes às escâncaras. Com o prestígio advindo da Coluna convidam Prestes para o comando militar da revolução, e lança o manifesto declarando-se comunista. A 3 de outubro eclode o movimento nas cidades de Porto Alegre, Belo Horizonte. A 24 de outubro de 1930, a capital do País amanhece sob intenso canhoneio. A cidade do Rio de Janeiro, após uma morte prenunciadora de graves acontecimentos, teve conhecimento de que ruíra a 1ª República. Também Remanso amanhece sob o estrondar de foguetes. Ubiratan, aos nove anos de idade, testemunha o acontecimento histórico.
 
Como num caleidoscópio, os fatos transmudam-se incessantemente “em Bravos Companheiros”:
-Agora oficial do Exército, Evandro casa-se com Lúcia, e é transferido para São Paulo. Na Serra da Mantiqueira, no Túnel, com o sacrifício de ambos os lados, há imensa vigia. Emprego da aviação em larga escala: bombardeio da Usina da Light, na Serra do Cubatão. Bloqueio do Porto de Santos pelos governantes com o emprego de destroyers e cruzadores. O Rio Grande do Sul com o fogo das baterias antiaéreas fere de morte a aviação constitucional tornando-a mesmo inoperante. Guardadas as proporções, tudo lembrava a 1ª Guerra Mundial.
 
Assim como as idéias de direita, as de esquerda também chegavam a Remanso. Com Plínio Salgado e militares de várias cidades brasileiras, da Ação Integralista Brasileira (AIB), exemplo do clima que vivia o Brasil, ocorre a chamada Batalha da Praça da Sé, esclarece o autor:
—A luta se estende pelo Largo João Mendes, Convento do Carmo, início da Avenida Rangel Pestana, Avenida Brigadeiro Luis Antônio, Largo de São Bento e Praça Ramos de Azevedo. Mário Pedrosa, intelectual trotskista, ferido a bala, contorceu-se em dores em meio à praça. Com cerca de 10 mil camisas-verdes e seus paramiltares, a atriz Lélia Abramo, de armas na mão e em posição de perigo atira sem cessar. E na ação o militante comunista Noé Gertel e a cronista Eneida. Quatro horas de tiroteio até que cessaram o pandemônio que atemorizou a cidade de São Paulo. Feridos e sacrifícios de vidas de ambos os lado.
 
Outro episódio de destaque se desenrola a partir de 1º de setembro de 1939, quando Inglaterra e França declaram guerra à Alemanha.
—Adolf Hitler lança-se à maior de suas insanidades. Isaac, na Casa da Música, ao ouvir um retrospecto dos fatos do dia, apressa-se a telefonar para seu Jacob e dona Bluma, judeus como ele e poloneses. A 30 de setembro de 1939, o “Graf Spee”, na altura de Pernambuco, afunda o cargueiro “Clement”.  Em Remanso, Ubiratan e Julieta resolvem fazer um piquenique, porque não dizer, uma “gazeta”. Sentiam-se extasiados. Era o Éden, segundo a Bíblia o paraíso terrestre. Amaram-se. Nossos navios viajavam iluminados apesar da guerra nos mares. A 12 de fevereiro de 1942, o primeiro torpedeamento: 54 mortos.
 
Não tardou que, em grande número, começassem a aparecer cadáveres pelas praias nordestinas, frisa Jurandyr:
-Sem cessar os ataques 574 mortos no mar: Comoção popular. Toda a Remanso, todo o Brasil Ubiratan lidera o movimento estudantil.  Cedendo ao clamor popular, a 22 de agosto de 1942, o Brasil declara guerra à Alemanha e Itália. Ubiratan alista-se no Exército, incorporado ao “Sacrifício”. Às 7h da manhã de 29 de novembro de 1944 tem início a ofensiva. Sob a chuva torrencial, durante todo o percurso do combate, sem cessar, o desfile comovedor dos petroleiros conduzindo mortos e feridos.
 
Para tentar evitar um inverno ainda mais rigoroso, o 5º Exército ordenou nova tentativa de conquistar o Monte Castelo:
-Dez, quinze graus abaixo de zero. Congelado de frio, deitado na neve, numa depressão do terreno, Ubiratan vê os caminhos que deveria subir. Em primeiro plano o cano de seu fuzil e a baioneta calada. Vindo e voltando as lembranças de Remanso. Era 24 de dezembro, véspera de Natal.
 
Enquanto o 1º RI avança, descreve Jurandyr, Ubiratan e seus companheiros são envolvidos pelo sibilar dos projeteis, pelo estrondo das granadas da 9ª Artilharia, sob o comando do general Oswaldo Cordeiro de Faria:
—O barulho dos rasantes do 10º Grupo de Aviação de Caça é ensurdecedor. Todo o potencial brasileiro está empregado. É incoercível o avanço dos “pracinhas”… Ubiratan avança, avança, e à pequena distância do topo é atingido por um tiro de fuzil e morre. Seus companheiros continuam. Nos postos de comando, na retaguarda, os operadores de rádio emocionam-se ao ouvir, por vozes brasileiras, que a batalha estava definitivamente terminada. Mas esta história não para por aí. Com “Bravos Companheiros” tive a feliz oportunidade de reviver episódios tão importantes sempre com o desejo de que a humanidade não incorra mais em erros.