Jornalistas solidários à tragédia no Haiti


19/01/2010


A tragédia ocorrida no Haiti segue mobilizando uma série de iniciativas de solidariedade e união para a reconstrução do país e do povo haitiano. Em especial por parte da imprensa de todo o mundo. Os jornalistas brasileiros Aloisio Milani, Rodrigo Savazoni e André Deak acabam de lançar o site Haiti.org.br, com informações e imagens sobre o país devastado pelo terremoto da última terça-feira, 12. 

O conteúdo disponibiliza reportagens, produções multimídia, análises críticas, artigos, entrevistas, documentos e traduções, reunidos por jornalistas independentes, usuários e colaboradores, em português, inglês, francês e espanhol.

O objetivo do projeto é informar a população brasileira e sul-americana sobre o que ocorre no Haiti, com foco na cidadania, política, direitos humanos, economia e cultura. 

— O projeto Haiti.org.br compreende a informação como um direito humano e o jornalismo como um pilar da democracia. Acreditamos que somente por meio de debates plurais e diversos sobre o tema envolvendo os agentes sociais desse processo e da realização de investigações livres, sem vínculos partidários e de interesses prévios, podemos construir um retrato fiel da situação desse país miserável e rico, tão próximo dos brasileiros e sul-americanos, informa o texto de apresentação do site.

Os criadores do portal chamam a atenção para a situação trágica que permeia o Haiti há décadas e que apresenta crescimento exponencial em razão do mais recente desastre.

—A realidade social é crítica por décadas de empobrecimento no Haiti. Os piores índices de desenvolvimento humano pertencem ao país: a expectativa de vida das mulheres é de 56 anos e dos homens 53; 59% dos adultos são analfabetos; o desemprego é crônico; não há escola e hospitais de atendimento gratuito para a maioria da população; a aids atinge 4,5%; uma mãe morre no parto a cada 190 nascimentos; uma em cada oito crianças morre antes dos cinco anos. O orçamento público do Haiti, país classificado como altamente endividado, não supre as necessidades da população.

O projeto de criação do espaço na rede, que contou com o apoio de Repórter Brasil, Oboré (Projetos Especiais) e Casa da Cultura Digital, pretende, entre outras ações, ajudar a construir uma visão da conjuntura sócio-econômica e humanitária atual do Haiti; ser um canal de expressão das diferentes vozes da sociedade, dos governos (sobretudo latino-americanos e caribenhos) e dos organismos internacionais sobre o Haiti, construindo um ambiente plural de debate e reflexão; e ainda estimular o debate sobre o que ocorre no Haiti na imprensa, universidades, entidades de classe e organizações sociais nacionais e internacionais.

Cirurgia

A luta em favor do Haiti também marcou a trajetória do jornalista norte-americano Sanjay Gupta, da rede de TV CNN. Médico do serviço de neurocirurgia de um hospital de Atlanta, nos EUA, Sanjay Gupta atua como repórter especializado na cobertura de assuntos da área médica.

Enquanto ele fazia reportagem sobre o terremoto, uma menina haitiana de 12 anos precisou ser submetida a uma cirurgia para a retirada de fragmentos de cerca de 1,2 cm alojados na cabeça. O procedimento foi realizado dentro de um porta-aviões dos EUA. Como não havia neurocirurgião na equipe, Gupta participou da cirurgia, que acabou sendo filmada pela equipe da CNN.

Na última sexta-feira dia 15, uma equipe do canal de TV australiano Nine Network resgatou uma criança de um ano e meio que estava soterrada há três dias ao lado dos corpos de seus pais, que morreram na tragédia.

O cinegrafista Robert Penfolf contou que ouviu gritos vindos dos escombros, largou a câmera e começou a cavar o local:

—Entre as ruínas apareceu uma menininha. Nunca vou esquecer. Parecia assustada, como se visse o mundo pela primeira vez, afirmou em entrevista ao jornal The Australian.

Segundo a agência EFE, as imagens do resgate mostram ainda Mike Amor, correspondente do canal, alimentando a criança, que estava coberta de poeira.

—O momento era muito mais importante do que a informação. Nunca vivi algo tão bonito desde o nascimento do meu próprio filho, disse Amor.

Também na sexta dia, 15, a jornalista Lilia Teles, correspondente da TV Globo no Haiti, ajudou a salvar a vida da enfermeira Jean Batiste. A repórter e a equipe percorriam as ruas de Porto Príncipe em um veículo pertencente ao Exército brasileiro. Ao perceber a movimentação de populares em um determinado local, Lilia insistiu para que os soldados parassem o veículo. A enfermeira, soterrada há três dias, foi resgatada com vida pelos militares brasileiros.