Jornalistas são presos neste domingo, na Turquia, acusados de conspiração


Por Cláudia Souza*

14/12/2014


Centenas de pessoas protestam em frente ao jornal <i>Zaman</>

Centenas de pessoas protestam em frente ao jornal Zaman</> (Foto: AP)

A polícia turca realizou neste domingo, dia 14, uma série de prisões em veículos de comunicação acusados de proximidade com o clérigo muçulmano Fethullah Gulen, 73 anos,  líder espiritual do movimento Hizmet, que está exilado nos Estados Unidos, controla várias mídias, escolas e centros culturais na Turquia.

Alegando tratar-se “de membros de uma rede de conspiração contra o seu governo” o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, ordenou a prisão de 26 pessoas em todo o país.  De acordo com a agência oficial de notícias Anatólia, foram emitidas 32 ordens de prisão. Os detidos são acusados de vários delitos, como “usar intimidação e ameaças”, “formação de quadrilha contra a soberania do Estado”, “falsificação” e “difamação”. O religioso exilado Fethullah Gulen é o principal rival do presidente turco Erdogan.

Antecipando a prisão do jornalista Ekrem Dumanli ,  editor do jornal Zaman,  de maior tiragem no país, cerca de dois mil simpatizantes e jornalistas se concentraram em frente à sede do jornal,  localizada na periferia de Istambul, atrapalhando a entrada da polícia no prédio. Entre os manifestantes estava o ex-astro do futebol turco Hakan Sukur, que já foi deputado pelo partido da situação de Erdogan, antes de se alinhar a Gulen.  Na sede da rede de TV Samanyolu foram detidos diretores de TV, produtores e roteiristas.

Diante do bloqueio dos manifestantes na entrada do jornal, policiais à paisana retornaram horas depois, para efetuar a prisão do do jornalista Ekrem Dumanli, que foi aplaudido pelos simpatizantes enquanto era levado pelas autoridades. Em cenas transmitidas pela TV turca, os simpatizantes gritavam frases como “a imprensa não pode ser calada” e “a Turquia tem orgulho de você”. Em tom desafiador, Dumanli declarou: “que tenham medo os que cometeram um crime – nós não estamos com medo”.

De acordo com Bulent Kenes, editor da versão em inglês do jornal Zaman os  mandados de prisão destacavam  acusações de “formação de quadrilha para derrubar a soberania do Estado”.

Golpe

O ato aumenta a disputa de Erdogan contra seu antigo aliado Gulen, que travam um confronto desde 2013, quando surgiram denúncias de casos de corrupção contra aliados de Erdogan. O processo de corrupção levou à prisão de dezenas de executivos e políticos ligados a Erdogan, na época, primeiro-ministro. Acusado de se tornar cada vez mais autoritário, Erdogan conseguiu interromper as investigações demitindo milhares de policiais e muitos juízes, além de intensificar o controle estatal sobre o poder judiciário e a internet. Na última sexta-feira,  12, o presidente turco alertou para novos ataques contra “as forças do mal de Gulen” e prometeu perseguir seus simpatizantes.

Embora reconhecida pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) como exemplo de democracia muçulmana, a Turquia vem sendo alvo de críticas e acusações de medidas autoritárias determinadas por Erdogan. O conflito interno amplia a influência de suas origens islamistas, e a intolerância aos dissidentes.

Erdogan acusa Gulen de criar uma “estrutura paralela” com seus apoiadores no sistema judiciário, na polícia, e em outras instituições estatais, além de usar sua influência através dos meios de comunicação. O clérigo nega que esteja tentando derrubar o governo de Erdogan.

Recentemente, o presidente turco aumentou o controle do governo sob o judiciário, com uma lei que reestruturou dois dos principais tribunais do país. As acusações de corrupção — apresentadas em dezembro de 2013 — que causaram um escândalo no governo de Erdogan foram retiradas. Acusado de se tornar cada vez mais autoritário, Erdogan conseguiu interromper as investigações demitindo milhares de policiais e muitos juízes, além de intensificar o controle estatal sobre o poder judiciário e a internet. Na última sexta-feira, dia 12, o presidente turco alertou para novos ataques contra “as forças do mal de Gulen” e prometeu perseguir seus simpatizantes.

Gulen, que vive na Pensilvânia nos Estados Unidos,  é acusado de administrar um Estado paralelo, a partir do exterior.

Kemal Kilicdaroglu,  eleito como o sétimo líder do partido republicano do povo, em maio de 2010,  classificou as operações policiais como parte de um processo de golpe:

— Estou ao lado das vítimas, sejam elas quem forem, afirmou Kilicdaroglu.

 *Com agências internacionais, RFI, RSF, O Globo