“Jornalistas não morrem; ficam encantados”


23/06/2020


Jornalistas não morrem; ficam encantados. A frase, inspirada no discurso de posse de Guimarães Rosa na Academia Brasileira de Letras, em novembro de 1967, homenageia os mais de 60 jornalistas que morreram no Brasil durante a pandemia; muitos porque contraíram a covid 19 e outros acometidos por outras doenças.

“A pessoas não morrem; ficam encantadas. A gente morre é para provar que viveu”, conclui o escritor, diplomata e médico mineiro, autor de Grande Sertão Veredas. Inusitadamente, João Guimarães Rosa nos deixou três dias após a posse na ABL.

Duas dessas “viagens inesperadas” envolveram pessoas vinculadas à ABI. O jornalista Jarbas Domingos Vaz, 85 anos, membro do conselho fiscal desta Associação e benemérito da Portela, sua escola de samba de coração. Compôs a diretoria da ABI quando a presidência era ocupada por Maurício Azedo. Jarbas começou a carreira no final de década de 1950 como repórter de polícia na Última Hora, de Samuel Wainer. Atuou também nos jornais Correio da Manhã e O Fluminense e na TV Globo.

Também em maio faleceu o diretor cultural Jesus Chediak, 78 anos, deixando um enorme legado de contribuições ao teatro, cinema e à cultura em geral do país. Mineiro de Belo Horizonte e ex-professor da Universidade Federal da Bahia, Chediak era jornalista, cineasta e produtor teatral, além de curador da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado do Rio. Ele também foi secretário de Cultura da Prefeitura de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. O município de Duque de Caxias decretou luto oficial de três dias em respeito ao diretor da ABI.

Um caso marcante durante a quarentena foi o blogueiro e líder comunitário Leonardo Pinheiro, de 39 anos, na cidade fluminense de Araruama, na Região dos Lagos. Ele mantinha o portal de notícias Voz Araruamense e foi morto a tiros por quatro homens quando fazia entrevistas no bairro de Parati, no dia 13 de maio. Leonardo era pré-candidato a vereador.

Cabe registrar ainda a morte de Aldir Blanc Mendes, 78 anos, um dos maiores compositores da música popular brasileira, grande letrista, poeta e cronista do Rio de Janeiro, particularmente da boemia da Zona Norte. E de Sérgio Sant’anna, carioca de Laranjeiras, também aos 78 anos, contista com diversos livros publicados e professor universitário.

O portal Jornalistas e Cia publicou levantamento em maio informando que 64 jornalistas haviam falecido nos últimos dois meses no Brasil. Abaixo uma pequena referência a alguns desses profissionais que fizeram História no jornalismo brasileiro. Os textos, reportagens, livros, aulas, comentários e poemas ajudaram a colocar mais volumes na memória desta biblioteca dinâmica chamada cultura brasileira. Por isso, todos eles são eternos.

Rio de Janeiro

Lalo Leal, nosso conselheiro em São Paulo, lembrou da morte do Nirlando Beirão, 71 anos, vítima de Ela (Esclerose Lateral Amiotrópica).

“Luto”:  Mineiro de Belo Horizonte, Nirlando Beirão era reconhecido como dono de um dos melhores texto do nosso jornalismo. Era editor-chefe da revista Carta Capital, tendo iniciado sua carreira na “Última Hora”, em 1967. Participou do lançamento de várias publicações como Caras, Senhor, Forbes Brasil e Wish Report. Trabalhou em Playboy e Veja, onde foi editor de política. Foi também colunista de O Estado de São Paulo e da Record News. Publicou com Washington Olivetto o livro “Corinthians, É preto no Branco” lançado em 2012 e, em 2019, diagnosticado com ELA  (Esclerose Lateral Amiotrófica). Contou um pouco da sua vida e da relação com a doença no livro “Meus começos e Meu Fim”. Nirlando era casado com a dramaturga Marta Góes, tinha uma filha, Júlia e dois enteados jornalistas: Antonio Prata e Maria Prata. Morreu em São Paulo, no dia 30 de abril, aos 71 anos.

 Argeu Affonso, 87 anos. Carioca, trabalhou 40 anos no jornal O Globo, onde fez praticamente de tudo, de repórter a secretário de redação. Era o copidesque da coluna de Nelson Rodrigues e durante muitos anos foi responsável pela coluna “O Globo há 50 anos”. Trabalhou ainda como comentarista esportivo na Rádio Mauá. Sócio benemérito do Fluminense Football Club e coautor do livro sobre o centenário do clube de Laranjeiras.

Luiz Edgard de Andrade, 88 anos. Cearense, conquistou o Prêmio Esso de Jornalismo em 1969, com a matéria “Psicanálise: remédio ou vício?”, publicada no jornal Última Hora. Trabalhou como repórter na Revista O Cruzeiro, editor internacional do Jornal do Brasil, colunista de O Pasquim, editor-chefe do Jornal Nacional e chefe de redação na TV Manchete

José Augusto Nascimento, 57 anos, editor de imagens do SBT

Robson Thiago de Mesquita, 43 anos, repórter cinematográfico do SBT

São Paulo

Gilberto Dimenstein, 63 anos. Trabalhou como repórter da Folha de S. Paulo, fundador do site Catraca Livre, presidente da Orquestra Sinfônica de Heliópolis. Vencedor do Prêmio Jabuti na categoria de não ficção com o livro O cidadão de papel, sobre o desrespeito aos direitos humanos.

Luiz Maklouf, 67 anos. Era repórter do jornal O Estado de S. Paulo desde 2016. Ao longo de sua carreira, teve passagens por diversos veículos, como os jornais Resistência, Movimento, Folha de S. Paulo, Jornal do Brasil, Jornal da Tarde e também pelas revistas Época e Piauí.

Santa Catarina

Renan Antunes de Oliveira, repórter, 70 anos, vencedor do Prêmio Esso em 2004, com a reportagem “A tragédia de Felipe Klein”, publicada no jornal Já, de Porto Alegre, ex-vice-presidente do Sindicato de Jornalistas de Santa Catarina e ex-diretor  da Fenaj..

Maranhão

Roberto Fernandes, 61 anos, apresentador do programa Ponto Final na Rádio Mirante AM e comentarista político na TV Mirante, afiliada da Rede Globo de  Televisão. Formado em Jornalismo pela UFMA, também trabalhou na Rádio Educadora AM, onde começou como comentarista esportivo.

 Alfredo  Menezes, 72 anos,   também atuava na Rede Mirante de Comunicação. Trabalhou 37 anos no jornal O Estado do Maranhão, onde foi colunista de esportes.

 João Batista de Abreu, conselheiro da ABI e professor do curso de Jornalismo da Universidade Federal Fluminense