Jornalistas exigem punição para Requião


26/04/2011


Os Presidentes do Comitê de Imprensa do Senado, Fabio Marçal, e do Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal, Lincoln Macário, e o advogado Klaus de Melo, da OAB-DF, protocolaram uma representação junto à Mesa Diretora do Senado, na Secretaria-geral da Casa, contra o parlamentar Roberto Requião (PMDB-PR), que arrancou o gravador das mãos do repórter Victor Boyadjian, da Rádio Bandeirantes, ao ser questionado se abriria mão do pagamento da aposentadoria de R$ 24 mil que recebe como ex-Governador do Paraná.
 
“Já pensou em apanhar, rapaz? Já pensou em apanhar? Me dá isso aqui. Não vai desligar mais p… nenhuma. Vou ficar com isso aqui”, disse Requião ao pegar o gravador.
 
O pedido de adoção de medidas previstas no Regimento, por quebra de decoro parlamentar são: advertência ou censura, oral ou escrita, suspensão e perda do mandato.

—As medidas disciplinares previstas no regimento [do Senado] são a advertência e a censura oral ou escrita. As duas que nós acreditamos que têm mais relação com o caso. Ainda está prevista no regimento a perda de mandato, mas quem tem que fazer este juízo é o Conselho de Ética para onde [a representação] será encaminhada. O Presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), poderia também advertir ou censurar o parlamentar, disse Lincoln Macário.

 
Nesta terça-feira, 26, Sarney considerou uma “questão de temperamento” a atitude do colega de partido e Presidente da Comissão de Educação do Senado:
— Não há qualquer conotação de que se trate de uma agressão à liberdade de imprensa ou de trabalho. Essas coisas às vezes acontecem independente até mesmo da vontade das pessoas. Não posso emitir conceito de valor contra um colega por quem eu tenho o maior respeito e que tem uma vida pública grande neste país.
 
Para Macário, a melhor solução seria um pedido de desculpas de Requião:
—Acreditamos que o Senador ainda não se deu conta da dimensão de seu ato, é um péssimo exemplo que ele passa para a sociedade e para milhares de pessoas que o têm como referência e que votaram nele. É a sociedade que vai estar prejudicada a partir do momento que as autoridades se acharem no direito de cassar os gravadores. Agora, depois de dar uma entrevista, arrancar o gravador de um jornalista é uma demonstração clara de censura que, esperamos, permaneça naquele período sombrio que esperávamos ter ultrapassado.
 
No Plenário, o Senador Roberto Requião (PMDB-PR) afirmou nesta terça-feira, 26, no que o episódio está sendo contado de forma equivocada pela imprensa. Rebateu as afirmações de que teria tomado o gravador numa atitude de censura ao repórter, e lembrou que postou a íntegra da entrevista em seu site pessoal:
—Eu apenas retirei o gravador para evitar que ele editasse o conteúdo.
 
Segundo Requião, o repórter questionava com o intuito de acuá-lo, “no estilo de programas como Pânico e CQC”. Requião reconheceu que perdeu a paciência com o repórter que, segundo ele, insistia em repetir a pergunta que já teria sido respondida por ele. Comparando o fato àquele em que Jesus Cristo perde a paciência com os mercadores às portas do Templo, ele disse que “muitas vezes a indignação é santa”.
 
Ainda de acordo com o Senador, a entrevista do repórter inicialmente tinha objetivo de arrancar dele críticas ao Governo de Dilma Rousseff e sua política econômica. No decorrer da conversa, a pergunta sobre a pensão de ex-governador do Paraná teria aparecido. 
—A Bandeirantes veio com uma encomenda para me irritar. Fui alvo de uma provocação programada e reagi com indignação.
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Requião contou que, quando era Governador, ficou sete anos e três meses sem dar entrevistas ao vivo porque era pressionado, “num regime de chantagem” pela imprensa a abrir os cofres do governo em contratos de publicidade para não receber críticas dos meios de comunicação.
 
Requião citou ex-governadores do seu estado “e mais uma boa dúzia de parlamentares do Plenário que também recebe [pensão]”. E afirmou que a imprensa muitas vezes trata questões como esta de maneira “absolutamente provocadora e irresponsável”. Ele acrescentou que a crítica ao recebimento da pensão constrangeu o também senador Pedro Simon “até o desespero, por receber R$ 11 mil quando funcionários do seu gabinete recebiam duas ou três vezes mais”.

Devolução
 
Requião devolveu o cartão de memória do gravador, mas apagou o conteúdo da gravação. Maurício Tadeu, filho do parlamentar, fez a entrega ao repórter, e, quando questionado porque o pai não fez a devolução, disse que Requião não estava no gabinete.  
 
No Twitter, Requião confirmou que apagaria a entrevista: “Acabo de ficar com o gravador de um provocador engraçadinho. Numa boa, vou deleta-lo”. “Deletei entrevista dada a reporter agressivo e a catigoria se alvoroça”. “Sou dono da minha entrevista e da minha opinião”, escreveu logo depois.
 
O senador disse ainda pelo microblog que estava sendo alvo de “agressão e provocação e tentativa de linchamento”. “Minha história e meu currículo suportam com facilidade. Boa discussão”.
 
*Com O Globo, G1.