Jornalistas da Folha de S. Paulo se rebelam contra direção do jornal. “Racismo é fato concreto”


19/01/2022


Publicado no portal 247

Abaixo-assinado de protesto de profissionais contra postura de publicação da família Frias foi entregue à direção da Folha de S Paulo com 186 assinaturas

“Nós, jornalistas da Folha aqui subscritos, vimos por meio desta carta expressar nossa preocupação com a publicação recorrente de conteúdos racistas nas páginas do jornal”, diz texto de “Carta Aberta e Jornalistas da Folha à Direção do Jornal”. No final do texto, que é um protesto contundente contra a publicação de artigo do intelectual Antônio Risério em que ele fala de “racismo reverso”, seguem-se assinaturas de 186 profissionais da publicação controlada pela família Frias de Oliveira (também controladora do portal Uol).

“O episódio a motivar esta carta foi a publicação de artigo de opinião intitulado ‘Racismo de negros contra brancos ganha força com identitarismo’ (Ilustrada Ilustríssima, 16/1), em que Antonio Risério identifica supostos excessos das lutas identitárias, que estariam levando a racismo reverso”, escrevem os jornalistas no texto da carta.

“O racismo é um fato concreto da realidade brasileira, e a Folha contribui para a sua manutenção ao dar espaço e credibilidade a discursos que minimizam sua importância. Dessa forma, vai na contramão de esforços importantes para enfrentar o racismo institucional dentro do próprio jornal, como o programa de treinamento exclusivo para negros”, dizem ainda.

Os jornalistas, no abaixo-assinado, deixam claro reconhecerem ser o pluralismo de opinião uma das bases do projeto editorial da Folha. Mas, advertem: “ o jornalismo deve defender, como a verdade e o respeito à dignidade humana. A Folha não costuma publicar conteúdos que relativizam o Holocausto, nem dá voz a apologistas da ditadura, terraplanistas e representantes do movimento antivacina. Por que, então, a prática seria outra quando o tema é o racismo no Brasil?”

Até o momento da publicação deste texto no Brasil 247 a direção do jornal paulista não havia se pronunciado.