Jornalista lança exposição na ABI


27/06/2011


O jornalista e artista plástico João Baptista de Freitas, 70 anos, lançou nesta terça-feira, dia 28, na ABI, uma exposição de pinturas e desenhos que retratam paisagens rurais e elementos da fauna e da flora brasileira.  A mostra, em exibição até o dia 30, no 9º andar do edifício-sede da ABI, das 14h às 18h, é parte do projeto Livros de Parede-Varal de Quadros, criado pelo jornalista. 

João Baptista nasceu na cidade de Miracema, na Região Noroeste Fluminense do Estado do Rio de Janeiro, e já na infância se identificou com o estilo de vida no campo:

—Durante toda a minha infância morei na cidade, mas freqüentei muito a área rural. Algumas pessoas de minha família tinham terras onde eu adorava passar as férias. Plantei a primeira semente aos seis anos de idade. Aprendi a cultivar com extrema facilidade e plantei de tudo, nos mais diferentes lugares, inclusive em outros países que visitei.
 
Na adolescência, João Baptista completou os estudos em Juiz de Fora, Minas Gerais, e decidiu fazer o curso de Direito:
—Eu tinha 17 anos quando descobri que sabia escrever. Meu irmão, José Itamar de Freitas, leu meus textos e me incentivou a trabalhar na imprensa. Ele estudou Direito para atender a vontade de nossos pais, mas acabou construindo uma grande trajetória no jornalismo. Me mudei para o Rio de Janeiro e cursei a faculdade de Jornalismo. Consegui o primeiro estágio na Tribuna da Imprensa. Em 1964, ingressei no Jornal do Brasil. Em função da ditadura, havia muita censura às matérias de política e economia. Com a criação da editoria Cidade, eu pude revelar o meu olhar caipira sob a cidade grande. Descobri mais de 30 famílias de agricultores no Pico da Pedra Branca, na Zona Oeste do Rio, e ainda criadores de gado zebu na Avenida Brasil, criadores de cavalo em Guaratiba, também na Zona Oeste. Eram pessoas que nunca tinham ido à praia e falavam com sotaque da roça, apesar de serem cariocas. Elas representavam um outro mundo dentro da cidade do Rio de Janeiro. Também fiz matérias sobre o vulcão do Parque do Mendanha, em Nova Iguaçu, e fui atrás de uma onça que apareceu na mesma região.
 
Neste período, saudoso do contato mais próximo com a natureza, João Baptista começou a pintar os primeiros quadros:
Sou autodidata. Minhas primeiras pinturas retratam as memórias da minha infância rural que incluem as mulheres dos colonos das fazendas, a sede da Fazenda Floresta, uma das primeiras a serem fundadas em Miracema, a vida pacata, sem televisão, rádio e outros recursos, o bambuzal simbolizando o cenário de solidão, os hábitos e costumes da vida no campo, o Pico de Desengano e a Árvore do Arco, dois cartões postais de Santa Maria Madalena, município o estado do Rio, onde tenho um sítio.
 
Especializado em pautas sobre meio ambiente, João Baptista trabalhou como repórter do JB na região amazônica entre 1977 e 1984:
—Fiz muitas matérias na região. Convivi com várias tribos, como os Ticunas, que ficaram perdidos a partir da influência do homem branco, e os Carajás.
 
O cenário de beleza e também de devastação passou a ser o tema das pinturas e desenhos de João Baptista:
—Comecei a desenhar somente aos 28 anos, também na condição de autodidata. Tive duas rezadeiras na infância, e uma delas, Sofia, era cega. Enquanto me benzia, Sofia falava sobre a importância das plantas, dos poderes das ervas medicinais e das ervas feiticeiras. Recordando esses ensinamentos, fiz os meus primeiros desenhos. Com a lembrança de Sofia surgiram imagens de pássaros e aves, como quero-quero, joão-de-barro, canários, tucanos, garrinchas, entre outros animais que tiveram impressionante adaptação às metrópoles. O quero-quero, por exemplo, é uma figura folclórica nos campos de futebol. De vez em quando aparece um em busca dos insetos que se avolumam sob a luz dos refletores. Há ainda o pássaro encantado, cujo canto eu ouvi durante toda a minha infância, mas só consegui ver o pássaro pela primeira vez aos 65 anos de idade.
 
Em meados da década de 90, João Baptista comprou o sítio Águas Claras, em Santa Maria Madalena, motivado pelo amor à natureza:
—O sítio tinha apenas duas árvores jovens e três adultas. Hoje, 12 anos depois, são 54,5 hectares com seis nascentes, um riacho, um pequeno açude, 1.500 pés de eucaliptos, 200 bananeiras, 40 abacateiros, 50 amoreiras, 20 limeiras, laranjeiras, mexeriqueiras e limoeiros, 150 pés de café, seis jabuticabeiras, 140 pés de pupunha, açaí, araçá, cajá, carambola, grumixama, morango silvestre. Sempre visito as árvores que plantei para conversar com elas e registrar a evolução. Depois que comprei o sítio e me aposentei, dediquei meu tempo livre à pintura e ao desenho. Como os amigos me incentivaram a divulgar este trabalho, criei há quatro anos o projeto Livros de Parede-Varal de Quadros, de incentivo à leitura e à preservação do meio ambiente. Organizo exposições itinerantes, palestras, sessões de leitura e sorteio de livros em pequenas comunidades para chamar a atenção de pessoas de todas as idades para a importância do meio ambiente. Durante a realização desses eventos, os participantes apresentam números de dança, canto, música e debatem assuntos relacionados à ecologia. É justamente este trabalho que estou tendo a oportunidade de apresentar na ABI.DIV>