Jornalista folião: além da cobertura de Carnaval


13/02/2013


Links ao vivo dos blocos, cobertura dos desfiles das escolas de samba e plantão nas redações enquanto o País cai na folia. O Carnaval é uma época atribulada na já agitada rotina dos jornalistas, mas nem por isso esses profissionais deixam de encontrar uma brecha para aproveitar o reinado de Momo. Por todo o Brasil, são vários os blocos carnavalescos organizados por jornalistas, como o “Pauta que Pariu”, de Santa Catarina; o “Matou a Pau…ta”, do Ceará; o “Filhos da Pauta”, de Goiás; ou o “Imprensa que Eu Gamo”, que completou em 2013 seus 18 anos arrastando 10 mil foliões no Rio de Janeiro. Mas há quem prefira aproveitar seu momento de folga para desfilar na Avenida defendendo a escola de coração.
 
É o caso de João Tavares, da rádio Bradesco Esportes FM, do Rio de Janeiro. Apesar de escalado para trabalhar durante o Carnaval, já que a emissora oferece uma programação 24 horas de noticiário esportivo, o repórter dedicou seu sábado para desfilar pelo quarto ano consecutivo na Ala dos Devotos do Império Serrano, na companhia de outros jornalistas. Tavares já havia defendido as cores da verde-e-branco de Madureira em outras duas ocasiões, 2004 e 2005, e também desfilou pelo Salgueiro em 2001, pela Unidos de Santa Cruz em 2006 e 2007, e pela União da Ilha em 2008.
 
“Sempre gostei de Carnaval. Desde criança, gostava de acompanhar os desfiles pela TV e dar as notas de cada quesito em cada escola. Gostava de jogar serpentina da minha varanda, e mais velho frequentava os blocos e ensaios de escolas de samba”, relembra o jornalista. “Hoje, infelizmente, pela vida corrida que nós jornalistas temos fica difícil ir à quadra do Império, que eu ainda não tive oportunidade de ir desde que foi reformada, em meados de 2012. Agora é mais difícil ainda, já que estou com filho pequeno e minha esposa espera mais outra na barriga”, conta.
 
Apesar de mais de 10 anos de Sapucaí, Tavares ainda lembra do frio na barriga de sua estreia no Salgueiro, em que a escola trouxe à Avenida o enredo sobre o Pantanal e terminou em 4º lugar. “Desfilei ao lado do meu pai, que adorava a festa e desfilava todo ano no Salgueiro. Como foi em 2001, ano do tricampeonato do Flamengo com gol do Pet, no Desfile das Campeãs eu dava parte da minha fantasia pra quem eu visse com a camisa do Flamengo. Terminei o desfile só de calça”, comenta.
 
Emoção da estreia também viveu a editora do Bom Dia Brasil da TV Globo Minas, Lídia Procópio, esse ano. A jornalista aproveitou a oportunidade para também desfilar pelo Império Serrano, cujo enredo homenageou a cidade mineira de Caxambu, onde residem vários de seus parentes. “Apesar de ser mangueirense de coração, eu vim com vários familiares desfilar na ala que homenageia o Hotel Caxambu, que é de propriedade de um primo meu. Eu queria que minha filha pudesse estar aqui comigo, mas eu descobri tarde que é preciso uma autorização do Juizado para desfilar, que demora 10 dias para ser emitida”, explica. E completa: “Acho que todo brasileiro deveria desfilar no Carnaval do Rio pelo menos uma vez na vida”.   
 
Lidia, que tem experiência na cobertura do carnaval das cidades históricas de Minas Gerais, conta que já conhecia o carnaval de Salvador, mas demorou para desfilar no Rio por conta das escalas de trabalho. “Não é todo o Carnaval que eu tenho oportunidade de tirar folga. Geralmente, quem consegue dispensa nessa época, trabalha na Semana Santa, ou vice-versa. E depois que minha filha nasceu, também foi mais difícil vir. Agora que ela está maior, estou animada para matar essa vontade que tenho desde criança, quando via pela televisão esse espetáculo enorme”.
 
No coração da escolaDIV>

 
Já para a jornalista Adriana Vieira, editora responsável pelas edições de Minas Gerais e Espírito da Folha Dirigida, se dividir entre Carnaval e trabalho não se limita aos quatro dias da festa. A carioca atualmente é ritmista da Imperatriz Leopoldinense e no Império da Tijuca, onde toca chocalho, e meses antes do Carnaval precisa participar dos ensaios das duas escolas.
 
“Eu ainda trabalho como assessora do Império da Tijuca. A maratona é exaustiva. Tudo começa em maio com a escolha do enredo, depois vem apresentação dos sambas, eliminatórias e as proximidades do desfile. Os ensaios da Imperatriz Leopoldinense também começam em maio. O problema é conciliar as duas que ensaiam aos domingos no mesmo horário, é uma correria só”, afirma.
 
Ela explica que conta com o apoio dos colegas de jornal para dar conta das duas atividades. “É fácil conciliar o trabalho, desde que não seja dia de fechamento, pois algumas vezes eu tenho que chegar mais cedo para sair mais cedo. Todos no jornal sabem que sou sambista e depois de cada desfile, escrevo no jornal interno sobre meu desempenho na Sapucaí”, explica Vieira. “Meu chefe também é meu parceiro, já que às vezes preciso sair cedo para gravar ou fazer algum show com a bateria”, completa a jornalista, que também desfila no carnaval de San Luis, na Argentina.
 
Adriana conta que sempre amou carnaval e desde 1995 desfila na Sapucaí por escolas do Grupo Especial e do Grupo de Acesso. “Fiz minha estreia no Sambódromo defendendo o Império da Tijuca, que faz parte do Grupo de Acesso. Na década de 1990, o grupo de Acesso não era tão valorizado. Em 2009, no Império da Tijuca, passei a fazer parte da bateria Sinfonia Imperial, do mestre Capoeira, como ritmista tocando chocalho. Este ano, 2013, eu vou desfilar como assessora de imprensa da escola”, conta.
 
A jornalista, que também desfilou em escolas do Grupo Especial, em alas da comunidade da Viradouro, Porto da Pedra, Vila Isabel e Unidos da Tijuca, entrou na bateria da Imperatriz em 2012. Ela afirma que hoje a diferença entre um grupo e outro são muito pequenas. “Hoje o Grupo de Acesso é mais divulgado e valorizado. Os ensaios tanto de um quando de outro são idênticos, as mesmas cobranças. O que muda no desfile é o tempo, uma passa em 55 minutos e, a outra, em 82. Mas a emoção é a mesma e a responsabilidade também”, aponta.