06/05/2009
Bernardo Costa |
Maurício Murad, Vanessa Riche, Renato Maurício Prado e Maurício Azêdo |
Teve início nesta terça-feira, dia 5, na Sala Belisário de Souza, no 7º andar do edifício-sede da ABI, o ciclo de palestras “Futebol-arte: A arte do futebol”, promovido pelo Grupo de Literatura e Memória do Futebol (MemoFut) e a Associação, com o apoio do Laboratório de História do Esporte e do Lazer (Sport) — vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) — e as editoras LivrosdeFutebol.com e Apicuri.
A mesa do primeiro encontro foi formada por Maurício Murad, especialista em Sociologia do Esporte e professor de Sociologia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj); Renato Maurício Prado, jornalista do Globo e do canal SporTV; e Vanessa Riche, narradora de esportes olímpicos e apresentadora do programa SporTV News.
Na abertura do evento, Maurício Azêdo, Presidente da ABI, sublinhou a vinculação da Associação com o jornalismo esportivo brasileiro:
— Antes da fundação de entidades dos jornalistas esportivos, como a Associação dos Cronistas Esportivos do Rio de Janeiro (Acerj), a ABI abrigou durante muitos anos o antigo DIE (Departamento de Imprensa Esportiva), que era dirigido por uma das figuras que liderava a cobertura esportiva da época, o saudoso jornalista Canor Simões Coelho. Durante décadas, a ABI abrigou esses companheiros, permitindo que se cristalizasse entre nós uma doutrina da cobertura esportiva, com a valorização daquilo que é importante no futebol, o espírito de competição.
Relação
Renato Maurício Prado |
Ao iniciar o debate, Renato Maurício Prado traçou um breve histórico sobre a relação entre jornalismo e futebol, e lembrando que a imprensa foi responsável pela transformação deste esporte em paixão nacional:
— Jornalismo e futebol sempre estiveram juntos. Sempre houve interesse de ambos os lados. No início, o futebol precisava de divulgação e a imprensa de algo que atraísse a atenção do público. Ao longo dos anos essa relação foi mudando. Antigamente, nós, repórteres, assistíamos aos treinos do gramado e depois entrevistávamos os jogadores. A relação era muito mais próxima, mais leve. Hoje em dia, esta relação é mais fria, mais profissional. Os assessores de imprensa praticamente dão entrevistas no lugar dos jogadores.
Vanessa Riche criticou a atuação dos jornalistas durante as entrevistas coletivas com jogadores e técnicos de futebol:
— Os repórteres fazem uma análise imensa do jogo e depois formulam a pergunta a partir da opinião deles sobre a partida. Muitas vezes o entrevistado se limita a dizer sim ou não, ou ainda que o repórter já respondeu a própria pergunta. Já trabalhei em diversas editorias, e quando fui para o futebol isso me assustou um pouco.
Para Renato, este problema está vinculado ao fato de as entrevistas coletivas serem transmitidas ao vivo:
— Nesta situação, o repórter quer aparecer, quer ser solista, o que prejudica muito as reportagens do dia seguinte.
Vanessa Riche |
Celebridades
Em seguida, Vanessa questionou o fato de a mídia transformar a vida particular do jogador em notícia. Segundo a jornalista, há um exagero por parte dos meios de comunicação em dar destaque ao cotidiano do atleta fora de campo.
Renato, por sua vez, acredita que a privacidade do atleta deve ser preservada, desde que não atrapalhe o desempenho em campo:
— Se o cara vai para noitada um dia antes do jogo, ou durante uma competição importante, como um boêmio qualquer, claro que isso vai atrapalhar sua atuação, já que seu instrumento de trabalho é o corpo. Quando isso acontece, nós devemos noticiar sim. Agora, se o jogador comete excesso durante as férias, não devemos noticiar.
Violência e imprensa
Maurício Murad |
Maurício Murad, autor do livro “Violência e futebol: Dos estudos clássicos aos dias de hoje”, publicado pela Faculdade Getúlio Vargas (FGV), afirmou durante o encontro que o Brasil é o campeão de mortes nos estádios, e que grande parte dos óbitos são registrados entre torcedores desvinculados das torcidas organizadas. Para Murad, a mídia deveria repercutir esta questão:
— Existem ações da mídia que ajudam a minimizar a violência, e outras que incentivam e valorizam a violência na primeira página, não dando crédito aos setores das torcidas organizadas que defendem a pacificação. Esses setores sempre solicitam espaço na mídia, mas não conseguem. Isto é conseqüência da cultura de uma sociedade que acredita que o que vende é a violência. Aqueles que lutam para contê-la não têm mérito. Estas questões dependem muito da consciência dos jornalistas.
Murad finalizou destacando algumas iniciativas que poderiam contribuir para a redução da violência nos estádios de futebol do Brasil:
— Os meios de comunicação devem denunciar a impunidade, e a inércia da própria polícia. É preciso divulgar projetos como o de ingressos promocionais para mulheres, crianças, idosos e deficientes; e a gravação de depoimentos de grandes ídolos dos clubes, pois a palavra de um grande ídolo vale mais para a torcida do que mil policiais. Acho que com tudo isso a imprensa deve contribuir.
Veja a programação completa:
No próximo mês: JUNHO |
Dia: 2 Tema: Futebol e Samba Palestrantes Celso Branco (UFRJ) Eraldo Leite (Rádio Globo) |
JULHO |
AGOSTO |
Dia: 7 Palestrantes Victor Melo (UFRJ) Guilherme Roseguini (TV Globo) |
Dia: 4 Ronaldo Helal (UFRJ) Álvaro de Oliveira Filho (CBN) |
SETEMBRO |
OUTUBRO |
Dia: 8 Cláudio Tozzi (artista plástico) Luiz Camilo Osório (Unirio) Bianca Ramoneda (Globo News) |
Dia: 6 Tema: Futebol e História Max Gehringer (CBN) Ricardo Pinto (Sport UFRJ) Cléber Machado (TV Globo/Sportv) |
NOVEMBRO |
DEZEMBRO |
Dia: 3 Palestrantes João Saldanha Filho (coreógrafo) Nízia Villaça (UFRJ) Sandra Moreyra (TV Globo) |
Dia: 1 Palestrantes José Miguel Wisnik (USP) Victor Adler (UERJ) Marcelo Barreto (Sportv) |