Hoje é Dia de Livro


02/08/2022


Por Maria Luiza Busse, diretora de Cultura da ABI

Tudo o que você sempre quis saber sobre a urna eletrônica brasileira

Coletânea de depoimentos de servidores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE, do Instituto de Estudos Avançados – IEAv e da Justiça Eleitoral, com os quais a jornalista Fernanda Soares Andrade revela a construção das urnas eletrônicas, inclusive com detalhes de suporte, como instalação de redes e cabos especiais indispensáveis ao funcionamento da máquina que vai registrar e dar o resultado da vontade do eleitor em outubro próximo. O livro passa pela criação da urna em 1995 e avança pelo processo de licitação e entrega dos primeiros aparatos entre janeiro e maio de 1996. Segundo a autora, o Tribunal Superior Eleitoral, quando decidiu implantar o voto eletrônico, buscou o que havia de melhor no ambiente científico brasileiro, no campo do direito e da ciência política, na experiência dos Tribunais Regionais e seus servidores da área de informática, seja em áreas técnicas especializadas, como o INPE e o Ministério da Aeronáutica, através do IEAv, dos 11 serviços de informática do Exército, da Marinha e da Telebras. Em síntese, o importante trabalho de Fernanda mostra como o Brasil se tornou referência mundial na execução de eleições rápidas, transparentes, seguras e que garantem o verdadeiro exercício da democracia para a população brasileira. Uma publicação do Sindicato Nacional dos Servidores Públicos Federais na área de Ciência e Tecnologia do setor Aeroespacial.

Geografia da fome

Neste 2022 em que o país contabiliza 33 milhões de brasileiras e brasileiros sem ter o que comer, faz 76 anos de Geografia da fome, ensaio de Josué de Castro lançado em 1946 sobre o fenômeno da fome que no momento atual volta a se apresentar com um realismo chocante e inaceitável. O estudo abarca a situação da indigência alimentar no continente americano com especial atenção para o caso nacional. Editoras Brasiliense e Círculo do Livro.

Pernambuco de Recife, o médico Josué de Castro desde cedo entendeu que a fome era um problema de política pública social e construiu uma obra sistêmica sobre o tema identificando avanços e retrocessos no processo de garantia do direito à alimentação, previsto no Artigo 25 da Declaração Universal dos Direitos Humanos das Organização das Nações Unidas, ONU, de 1948: “Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e sua família saúde e bem-estar, inclusive alimentação(…). Por seu ativismo no combate à fome, Josué de Castro foi presidente do Conselho Executivo da ONU para para a Agricultura e Alimentação, FAO, onde enfrentou forte oposição dos países desenvolvidos à execução de projetos voltados para o desenvolvimento do terceiro mundo e expressou a frustração com a “ação tímida e vacilante” da agência das Nações Unidas, apesar da alta qualificação de seus técnicos. Foi também embaixador do Brasil junto à ONU. A Academia de Ciências Políticas dos Estados Unidos lhe conferiu o Prêmio Franklin D. Roosevelt. Do Conselho Mundial da Paz recebeu o Prêmio Internacional da Paz e o governo francês o condecorou Oficial da Legião de Honra. Nos anos de 1953, 1963, 1964 e 1965 teve seu nome indicado para o Nobel da Paz.

Por todos os prêmios e reconhecimentos, o golpe de Estado de 1964 cassou os direitos políticos de Josué de Castro. Exilado em Paris fundou e dirigiu o Centro Internacional para o Desenvolvimento e presidiu a Associação Médica Internacional para o Estudo das Condições de Vida e Saúde. Proibido de voltar ao Brasil, deu aula como professor estrangeiro associado no Centro Universitário de Vincennes e da Universidade de Paris, onde trabalhou até sua morte, em 1973. Na certidão de óbito está que a causa foi o coração, mas é tido e havido entre os seus de que foi a saudade do Brasil. O corpo de Josué de Castro está enterrado no cemitério de São João Batista, no Rio de Janeiro.

Da fome à fome: diálogos com Josué de Castro

Por que o Brasil voltou ao Mapa da Fome das Nações Unidas? Em 27 ensaios que dialogam com o estudo inaugural de Josué de Castro, o livro recém lançado oferece um panorama multidisciplinar sobre o flagelo da fome na tentativa de responder à pergunta que se impõe ao longo das 336 páginas: Como uma potência agropecuária, com previsão de safra de 259 milhões de toneladas de grãos para este ano de 2022, mantém 55,2% de sua população em insegurança alimentar? De acordo com as organizadoras Tereza Campello e Ana Paula Bortoletto, não há mistério no paradoxo. A conclusão é que a causa é política. Com argumentos fundamentados em dados, os autores desmontam a propaganda oficial enganosa tanto do governo quanto de parte da imprensa de atribuir a volta da fome no Brasil à pandemia de covid-19 ou à recente guerra na Ucrânia. O problema está no desmonte das políticas públicas intensificado a partir de 2016, com a destituição da presidenta Dilma Rousseff.

Segundo Tereza Campello, ex-ministra de Desenvolvimento Social e Combate à Fome , de 2011 a 2016, “usar a covid-19 para explicar o flagelo da fome que se espraiou pelo território nacional é tentar, mais uma vez, esconder o caráter estrutural e a sua natureza política e econômica baseada em um modelo excludente”, afirma na apresentação do livro a pesquisadora, titular da cátedra Josué de Castro e professora do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas em Saúde da Escola Fiocruz de Governo. Editora Elefante.

História da saúde humana – Vamos viver cada vez mais?

Durante milhares de anos os seres humanos viveram, em média, apenas 30 anos. O aumento da expectativa de vida começou por volta de 1750. Melhoras na alimentação, água potável, saneamento básico e vacinas, foram responsáveis pela duplicação da longevidade nos últimos dois séculos. De 1950 para cá, avanços na área médica e farmacêutica propiciaram um ganho de mais 25 anos de vida. Hoje, a ideia de vivermos mais e bem está ameaçada por problemas ambientais e comportamentais que já causam doenças crônicas e provocam retrocessos na saúde. A pandemia de covid-19 não é resultado do acaso, mas uma ilustração das disfunções das sociedades humanas, principalmente de sua relação com o meio ambiente. Neste livro, o médico francês Jean-David Zeitoun e doutor em epidemiologia clínica pelo Instituto de Altos Estudos Políticos e Ciências Sociais de Paris, dá uma trajetória da saúde humana e alerta para a urgência de pensarmos o mundo que deixaremos às futuras gerações. Editora Contexto.