Há 75 anos, o primeiro título profissional


07/11/2008


O tão conhecido e praticado amadorismo “marrom” chegou ao fim em 1933. Não era segredo para ninguém que vários clubes gratificavam seus jogadores por vitórias com os chamados bichos. América, Bangu e Fluminense defendiam o profissionalismo, enquanto o Botafogo era a favor do amadorismo, porque nem todos os seus jogadores aceitariam se profissionalizar.

Os clubes favoráveis ao profissionalismo fundaram a Liga Carioca, deixando o Botafogo sozinho na Amea (Associação Metropolitana de Esportes Atléticos).

As colocações do Bangu nos dois últimos anos da década de 1920 (4o lugar ao lado do Fluminense, em 29; e 4o lugar, em 30, junto com o São Cristóvão) e nos dois primeiros anos da década seguinte (3o lugar, em 31; e 4o lugar, empatado com o São Cristóvão, em 32) prenunciavam que uma conquista maior estava próxima.

Disputaram o campeonato carioca de 1933, na Liga, América, Bangu, Bonsucesso, Flamengo, Fluminense e Vasco.

O Bangu estreou contra o América, no dia 7 de maio de 1933. A vitória por 6 a 2, no campo do adversário, foi além da expectativa. Sete dias depois, novamente como visitante, os alvirrubros venciam o Fluminense por 2 a 0, com Paiva Sobral, Santana, Tião, Plácido, Ladislau, Sá Pinto, Euclides, Mádio, Vivi e Mário (Foto 01). Na 3a rodada, veio o empate frente ao Vasco, em Álvaro Chaves. No campo do América, o Bangu derrotou o Bonsucesso por 4 a 3, num jogo difícil. Com o Flamengo, encerrando o turno, o Bangu empatou de 2 a 2.

A única derrota aconteceu na abertura do segundo turno, em São Januário, por 3 a 0, diante do Vasco. A goleada frente ao Bonsucesso por 5 a 0, no campo do América, manteve a confiança do time. A grande vitória contra o Flamengo por 3 a 1, no campo do Fluminense, era a confirmação de que o Bangu tinha futebol para ser campeão.

Confiança

A única derrota aconteceu na abertura do segundo turno, em São Januário, por 3 a 0, diante do Vasco. A goleada frente ao Bonsucesso por 5 a 0, no campo do América, manteve a confiança do time. A grande vitória contra o Flamengo por 3 a 1, no campo do Fluminense, era a confirmação de que o Bangu tinha futebol para ser campeão.

Faltavam apenas dois adversários: Fluminense e América. O tricolor estava com seis pontos perdidos, dois atrás do Bangu. A vitória dava aos bangüenses o título antecipado.

No dia 12 de novembro de 1933, sob a arbitragem de Alderico Sólon Ribeiro, no campo da Rua Álvaro Chaves, os comandados de Luiz Vinhaes conquistaram o primeiro título carioca de profissionais.

A entrada em campo foi saudada por um foguetório indescritível — o primeiro em um estádio de futebol — que deixou surpresos todos os torcedores que lotaram as dependências das Laranjeiras. O primeiro a pisar em campo foi Sá Pinto, capitão do time, seguido de Euclides e Médio. O resto do time veio atrás, saudando a torcida com os braços levantados.

A vitória por 4 a 0 sobre o Fluminense foi indiscutível. Construíram o placar Ivan (contra) e Tião, no primeiro tempo, e Plácido e Tião, na fase final.

O Bangu venceu com Euclides, Mário e Camarão; Ferro, Santana e Médio; Paulista, Ladislau, Tião, Plácido e Orlandinho. Destacamos Ladislau e Médio, irmãos de Domingos da Guia; Tião, artilheiro do campeonato com 13 gols; e Plácido Monsores, que também vestiu a camisa do América, do Madureira e do Santos.

Cobertura

O Jornal dos Sports, que fez a cobertura da recepção aos campeões, em Bangu, publicou na sua edição de 14 de novembro, dois dias depois da conquista do título:
“Quando chegaram a Bangu os campeões cariocas, palmas, gritos e vivas eram ouvidos por todos os cantos. Um barulho verdadeiramente ensurdecedor.

          Capitão Ricão

Já passavam das 19h30 quando o carro em que ia o Dr. Ary Franco chegou a Bangu, seguido pelo cortejo dos demais jogadores.

A multidão se dividiu em duas alas. Os carros passavam no meio. E cada jogador era alvo da exteriorização da alegria daquele povo que esperava o campeonato há 29 anos…

Bangu todo se movimentou na noite de anteontem. E nem podia deixar de ser assim. A população inteira queria saudar os campeões. Queria vê-los de perto, como se fossem pessoas estranhas ao lugar. Não era o Ladislau, o Plácido, o Santana, o Médio, o Camarão, o Euclydes, o Orlandinho, o Paulista, o Tião, o Ferro, o Mário que ali vinham. Não, não eram eles. Eram sim os 11 campeões que voltavam a Bangu, que traziam para Bangu a supremacia do futebol profissional, no seu primeiro ano de existência.”

No dia 15 de novembro, no campo do Fluminense, onde três dias antes conquistara o título de campeão carioca, o Bangu encerrou sua campanha com chave de ouro, ao golear o América por 7 a 3.

Invicto

O Bangu atravessou todo o turno invicto, perdendo apenas para o Vasco no returno, tão entrosado estavam os jogadores, fruto de um trabalho iniciado por volta de 1928 ou 1929 pelo Capitão Ricão. Apenas Sobral e Tião chegaram de fora: o primeiro, do América e o segundo, do Del Castilho. Os demais eram pratas da casa desde o infantil.

Militar servindo o Exército, o Capitão Ricão, na posição de Diretor de Esportes do clube, armou e treinou esse time, entregando-o, depois, a Luiz Vinhaes. Vinhaes dirigira a seleção brasileira na memorável conquista da Copa Rio Branco de um ano antes, derrotando os campeões olímpicos e mundiais de futebol, os uruguaios, dentro do Estádio Centenário em Montevidéu.

Os integrantes do elenco do Bangu que conquistou há 75 anos o primeiro título carioca de profissionais foram: Luiz Vinhaes (técnico), Sobral, Paulista, Ladislau, Tião, Plácido, Gentil, Dininho, Orlandinho, Tenente Barbosa (preparador físico); Paiva, Ferro, Santana e Médio; Buza, Mário, Euro, Euclides, Nilton, Sá Pinto, Camarão e Vivi.