“Gripezinha” mata o grande o mestre da Mangueira


27/05/2021


Por Vera Perfeito, conselheira e Diretora de Cultura da ABI


Agoniza mas não morre (de 1979)

Nelson Sargento

Samba,
Agoniza, mas não morre,
Alguém sempre te socorre,
Antes do suspiro derradeiro.

Samba,
Negro, forte, destemido,
Foi duramente perseguido,
Na esquina, no botequim, no terreiro.

Samba,
Inocente, pé-no-chão,
A fidalguia do salão,
Te abraçou, te envolveu,
Mudaram toda a sua estrutura,
Te impuseram outra cultura,
E você não percebeu,
Mudaram toda a sua estrutura,
Te impuseram outra cultura,
E você não percebeu.

Samba,
Agoniza mas não morre,
Alguém sempre te socorre,
Antes do suspiro derradeiro.

Samba,
Negro, forte, destemido,
Foi duramente perseguido,
Na esquina, no botequim, no terreiro.

Samba,
Inocente, pé-no-chão,
A fidalguia do salão,
Te abraçou, te envolveu,
Mudaram toda a sua estrutura,
Te impuseram outra cultura,
E você não percebeu,
Mudaram toda a sua estrutura,
Te impuseram outra cultura,
E você não percebeu.

Uma homenagem da ABI ao grande Nelson Sargento

“Gripezinha” mata o grande
o mestre da Mangueira

Crédito: Edinho Alves, G1

A Mangueira está triste, muito triste, hoje, com a partida de seu grande mestre e presidente de honra Nelson Sargento que não foi só um sambista, mas um sábio, além de cantor, compositor, pesquisador, artista plástico, ator e escritor. Partiu para sempre, aos 96 anos, levado pela “gripezinha” do genocida mesmo depois das duas doses da Coronavac.

Internado desde o dia 21 com coronavírus, o grande Nelson Sargento fez uma de suas últimas aparições em público em 12 de fevereiro, no Museu do Samba, em um ato simbólico em defesa do carnaval. Ele esperava que pudesse desfilar por sua verde e rosa no Carnaval de 2022. Não contava que, mesmo depois de vacinado, a “gripezinha” do Bolsonaro pudesse interromper seus sonhos.

Em seu último aniversário, Sargento recebeu homenagens de grandes nomes da cultura popular em um vídeo com votos de felicidade. Artistas como Mar’tnália, Alcione, Paulinho da Viola, Preta Gil, Tia Surica, Monarco, Regina Casé e Estevão Ciavatta cantaram, cada um em sua casa, o samba Agoniza mas não morre.

 

A carreira de Nelson

Crédito: O Globo

Nascido em 25 de julho de 1924, na Praça 15, região central do Rio de Janeiro, Nelson Mattos ganhou o apelido de Nelson Sargento depois de uma rápida passagem pelo Exército.

Já na adolescência despontou na música, mas apenas com 31 anos que o torcedor do Vasco da Gama compôs seu primeiro trabalho de sucesso. Ao lado de Alfredo Português, em 1955, Sargento escreveu Primavera, samba-enredo que também ficou conhecido como As quatro estações. Até hoje, muitos consideram um dos sambas mais bonitos de todos os tempos.

Nos anos 60, Sargento integrou o grupo A Voz do Morro, ao lado de Paulinho da Viola, Zé Kéti, Elton Medeiros, Jair do Cavaquinho, José da Cruz e Anescarzinho

  • Entre seus parceiros de composição musical, estão Cartola, Carlos Cachaça, Darcy da Mangueira, João de Aquino, Pedro Amorim, Daniel Gonzaga e Rô Fonseca. E entre os grandes sambas dele estão: Agoniza, mas não morre, Cântico à natureza, Encanto da paisagem, Falso amor sincero, Século do samba e Acabou meu sossego.

Cartola, Carlos Cachaça, Darcy da Mangueira, João de Aquino, Pedro Amorim, Daniel Gonzaga e Rô Fonseca foram seus grandes parceiros de composição musical. Nelson sargento escreveu ainda Prisioneiro do Mundo e Um certo Geraldo Pereira.

No cinema, ele atuou nos filmes O Primeiro Dia, de Walter Salles e Daniela Thomas; Orfeu, de Cacá Diegues; e Nélson Sargento da Mangueira, de Estêvão Pantoja. Esse último rendeu ao sambista o prêmio Kikito, no Festival de Gramado, pela melhor trilha sonora entre os filmes de curta metragem.

Nelson Sargento viveu durante longos anos nos morros da cidade do Rio de Janeiro, mudando-se do Morro do Salgueiro para o da Mangueira, aos 12 anos, e militava pelo samba desde os anos 1950, quando o gênero era marginalizado.

Morou em Copacabana por muitos anos e, atualmente, vivia na Tijuca, sendo considerado cidadão do mundo já que sua música é conhecida nas Américas e no Japão. Foi casado com Evonete Belizario Mattos; teve seis filhos biológicos e três adotivos, além de ter criado vários filhos e filhas do coração. O compositor mangueirense possuia, aproximadamente, quatrocentas músicas em seu repertório.