Grandes Reportagens ganha independência


05/09/2008


Uma revista para falar dos grandes temas da humanidade, associados também ao processo de crescimento dos grandes centros urbanos. Esta foi a saída que o jornal O Estado de S.Paulo encontrou para abordar de forma mais intensa e analítica impactos sociais e ambientais e as demandas decorrentes da maciça ocupação populacional das maiores cidades do mundo.

Assim nasceu a revista Grandes Reportagens, lançada em novembro do ano passado como encarte do Estadão. O primeiro número foi “Amazônia”, com destaque para o impacto ambiental provocado pela devastação da floresta e o que tem sido feito para ajudar sua preservação:
— Essa edição tentou responder se, e como, ainda é possível salvar a Amazônia — diz a editora-executiva Mariangela Hamu. — Nossos repórteres visitaram a região durante semanas, para mostrar o que está e o que não está sendo feito para proteger a floresta. A repercussão indica que nossos objetivos foram amplamente alcançados.

O sucesso foi tão grande que a revista ganhou nova tiragem de 380 mil exemplares, esgotada rapidamente. E gerou um debate, promovido pelo jornal paulista, do qual participaram o ex-Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior Luiz Fernando Furlan, a ex-Ministra do Meio Ambiente Marina Silva e o ex-Secretário do Meio Ambiente do Amazonas Virgílio Viana. Inspirou também uma mostra fotográfica sobre a floresta, exibida em São Paulo e em Washington, EUA. E o conteúdo da reportagem teve acesso aberto no portal www.estadao.com.br.

Mariangela explica por que o jornal escolheu o formato revista para produzir suas reportagens especiais:
— Achamos que era o ideal para acolher textos mais longos, fotos e arte, entre outros materiais. Tudo começou com o desejo de oferecer ao leitor temas especiais, analisados com a profundidade que a correria diária, obviamente, não permite.

Megacidades

O segundo número de Grandes Reportagens chegou recentemente às bancas, por R$ 9, tendo como tema “Megacidades”. Segundo Mariangela Hamu, este trabalho levou a equipe de reportagem “a explorar as maiores manchas urbanas do mundo”, como São Paulo, Moscou, Londres, Xangai, Mumbai, Lagos, Nova York e Cidade do México:
— Queríamos mostrar como as cidades mais populosas estão resolvendo seus problemas e planejando o futuro.

Maior centro urbano da América do Sul, o município de São Paulo ganhou destaque especial na edição, com matérias sobre os principais problemas enfrentados pelo paulistano, tais como engarrafamentos e poluição e deficiência no abastecimento de água e no sistema de coleta de lixo.

O resultado deixou todos na redação satisfeitos e serviu de base para as sabatinas que o Estadão realizou com os candidatos à Prefeitura de São Paulo, no fim de agosto. O conteúdo da revista tem ajudado também a editoria Nacional na elaboração de uma série de reportagens sobre eleições, que serão publicadas todas as segundas-feiras, até o próximo dia 29. A meta do Grupo Estado é que, a partir de 2009, sejam publicados quatro números de Grandes Reportagens por ano.

Equipe

Cerca de 30 profissionais trabalharam na produção das duas primeiras edições da revista. Para fazer a cobertura de “Megacidades”, a equipe do Estadão percorreu três municípios brasileiros e nove no exterior, ao longo de três meses. O próximo número sairá em novembro, mas a editora-executiva diz que ainda não tem tema definido.

Além de Mariangela Hamu, responsável pela coordenação do projeto, a equipe fixa é formada pelos editores Viviane Kulczynski, Rosângela Petta e Sérgio Pompeu; o diretor de arte Fábio Sales; os editores de fotografia Wilson Pedrosa, Juca Varela e Eduardo Nicolau e um grupo de editores-assistentes.

Segundo Mariangela, o projeto editorial contou com a supervisão do Diretor de Conteúdo do Grupo Estado, Ricardo Gandour, e do editor-chefe, Roberto Gazzi. Integram a equipe de reportagem os jornalistas Lourival Sant´Anna, Herton Escobar, Carlos Marchi, Eduardo Nunomura, Roldão Arruda, Bruno Paes Manso, José Maria Tomazela, Adriana Carranca, Tânia Monteiro (em São Paulo); João Domingos (Brasília); e Fernando Dantas e Márcia Vieira (Rio de Janeiro).

Em conjunto com as matérias, os assuntos destacados pela revista contam com a análise de diversos especialistas. No caso de “Megacidades”, colaboraram o urbanista norte-americano Mike Davis e a socióloga holandesa Saskia Sassen: ele tem um pensamento crítico sobre os processos de urbanização mal planejados e escreveu o livro “Planeta favela” (Boitempo Editorial, 2006), sobre os cenários de pobreza em que vive a maioria da população dos grandes centros no século XXI; ela é especialista em economia e análises de fenômenos de globalização e migração urbana e introdutora do conceito de cidade global.

Mariangela afirma que Grandes Reportagens “é um produto editorial fadado à perenidade” e que valoriza qualitativamente o jornalismo do Estadão, tornando-o “mais analítico e interpretativo” — solução defendida pelo repórter Lourival Sant’Anna para os jornais, devido à velocidade das novas mídias:
— A revista continuará sendo um produto editorial de qualidade e de fôlego — garante a editora-executiva. — Essa é a nossa determinação, o nosso objetivo. Nosso público-alvo é o leitor que se interessa por trabalhos mais profundos e analíticos. A recepção entre alunos e professores foi ótima. Temos recebido convites para participar de debates em universidades e escolas públicas e privadas.