Isidro Graiver, um dos membros da família proprietária da única fábrica argentina de papel-jornal, Papel Prensa, negou, nesta quarta-feira, dia 25, as denúncias da Presidente da Argentina, Cristina Kirchner, de que a empresa foi comprada ilegalmente pelos jornais argentinos Clarín e La Nación, durante a ditadura militar (1976-1983).
Nesta terça-feira, 24, em pronunciamento em rede nacional de rádio e TV por mais de 30 minutos, Kirchner anunciou que levará à Justiça o relatório oficial que aponta as supostas irregularidades na compra da empresa por parte dos dois jornais de maior circulação do país, e críticos do governo.
A Presidente anunciou ainda que apresentará um projeto de lei para transformar a produção e a comercialização de papel-jornal em setor “de interesse nacional”, o que criaria um marco regulatório específico e estabeleceria uma comissão parlamentar para fiscalizar as operações da Papel Prensa.
Fundada em 1972 com o objetivo de livrar a imprensa local da importação de papel, a Papel Prensa produz três quartos do papel-jornal consumido no país e é parcialmente controlada pelos jornais Clarín (com 49% das ações) e La Nación (22,49%). Outros 27,46% são do Estado argentino de forma direta, mais 0,62% através da agencia oficial Télam.
O Governo acusa os dois jornais de exercerem hegemonia no mercado por terem vantagens competitivas, como preço e disponibilidade, sobre os demais veículos.
“Realizamos as vendas de bens de nossos ativos nas melhores condições que pudemos obter, sem ameaças ou extorsões e em liberdade”, disse Graiver, em comunicado. Ele foi o responsável por levar adiante a operação de venda da fábrica no fim de 1976.
Kirchner denunciou que a venda teria acontecido sob ameaças do regime militar a Lidia Papaleo de Graiver, viúva do banqueiro e dono da Papel Prensa, David Graiver (irmão de Isidro), morto em um acidente aéreo em agosto do mesmo ano.
A ditadura militar prendeu Lidia e outros membros da família em 1977 e apreendeu seus bens por acusação de que o grupo Graiver administrava dinheiro de Montoneros, guerrilha formada por grupos nacionalistas de esquerda do Partido Justicialista (peronista). Lídia chegou a ser torturada e estuprada, antes de receber pena de 15 anos de prisão.
Graiver ressaltou na nota desta quarta-feira que a venda da Papel Prensa foi concluída em 2 de novembro de 1976 e que ele foi sequestrado e levado a uma prisão clandestina da ditadura meses depois, em 15 de março de 1977. “A simples comparação das datas me exime de qualquer comentário”, afirmou. Isidro disse ainda que o governo democrático de Raúl Alfonsín indenizou a família Gravier em 1985, incluindo o valor recebido pela compra da papeleira.
O comunicado foi publicado na edição desta quarta-feira dos dois jornais envolvidos, junto a um documento legal no qual a filha de David de Gravier, María Sol, afirma não ter nenhum motivo para reclamar dos dois jornais.
Os dois jornais publicaram hoje um editorial no qual asseguram que “a Justiça não encontrou vínculo algum entre a detenção dos Graiver e a Papel Prensa” e denunciaram um plano do governo para assumir a companhia.
*Com informações da agência EFE.