Governo da Argentina expulsa jornalista britânica


13/12/2017


O presidente da Argentina Mauricio Macri (Imagem: Reprodução)

O governo do presidente argentino, Mauricio Macri, deportou pelo menos duas pessoas antes da reunião da OMC (Organização Mundial do Comércio), que ocorre de 10 a 13 de dezembro, em Buenos Aires. Segundo informações de agências de notícias, a Argentina criou uma lista de 60 pessoas indesejadas no país.

O Ministério das Relações Exteriores justificou a ação e afirmou que essas pessoas “fizeram chamados explícitos por manifestações violentas nas redes sociais, expressando a intenção de gerar intimidação e caos” na Argentina durante o encontro.

O jornal inglês Financial Times informou que a decisão chegou a ser desencorajada pela própria OMC, instituição internacional que atua na fiscalização e regulamentação do comércio mundial. O governo Macri, no entanto, decidiu seguir adiante.

Sally Burch

A jornalista britânica Sally Burch teve que voltar ao Equador, onde vive, no final de semana. “Eu sou uma jornalista britânica e estou sendo proibida de entrar na Argentina”, disse Burch ao jornal inglês “The Guardian”, ainda no Aeroporto de Ezeiza na capital argentina.

“Penso que essa não é uma atitude muito democrática de parte do governo argentino”, disse ela. A jornalista afirmou que, ao desembarcar, foi informada de que seu nome constava numa lista de pessoas não desejadas. Além de Burch, que trabalha para a Agência Latino Americana de Informação, o ativista norueguês Petter Titland também foi impedido de entrar no país.

Ativista norueguês Petter Titland

Titland foi colocado em um voo para o Brasil, sua última parada antes da Noruega. O governo argentino não apresentou publicamente o conteúdo das mensagens postadas por essas pessoas nas redes. Até a tarde de terça-feira (12), nenhum protesto violento foi registrado, apenas a presença de pequenos grupos de pessoas segurando cartazes em pontos de Buenos Aires e de Bariloche.

As medidas foram criticadas por organizações de direitos humanos e representantes de governos europeus. “A decisão argentina, infelizmente, manda um sinal errado”, disse Guri Solberg, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Noruega.

Solberg afirmou ter “dado garantias do comportamento [adequado]” do militante norueguês e da organização à qual ele pertence, afirmando que ele não estava “envolvido em atos violentos”.

Em resposta, o governo argentino divulgou uma nota em afirma ter credenciado “213 organizações não-governamentais e 593 pessoas, enquanto apenas 60 inscritos, de 18 organizações, não foram. O número de credenciados duplica a quantidade dos que participaram das últimas quatro conferências ministeriais” da OMC.

A organização argentina Cels (Centro de Estudos Legais e Sociais) vem questionando o governo Macri sobre como as informações a respeito dos ativistas foram coletadas.  “As decisões tomadas pelo Poder Executivo sobre a participação de determinadas pessoas na reunião da OMC afetam direitos como a liberdade de expressão, a liberdade de opinião e o direito à participação, entre outros”, disse a organização.

“Ao mesmo tempo, a Lei de Inteligência Nacional estabelece que nenhum órgão de inteligência pode ‘obter informação, produzir inteligência ou armazenar dados sobre pessoas por sua raça, fé religiosa, ações privadas, opinião política, adesão ou pertencimento a organizações partidárias, sociais, sindicais, comunitárias, cooperativas, assistenciais, culturais ou trabalhistas, assim como pela atividade lícita que desenvolvam em qualquer esfera de ação’”, concluiu.

Em abril, Buenos Aires já havia sido palco de protestos que coincidiram com a realização de uma reunião internacional chamada “mini-Davos”. Na época, a polícia fez uso da tropa de choque e caminhões com canhões de água contra a multidão que tentou bloquear o trânsito numa avenida central de Buenos Aires.

Em 2018, o país vai sediar o encontro do G20. A reunião ocorre um ano antes das eleições presidenciais em que Macri pretende concorrer à reeleição.