Governo argentino encontra arquivos secretos da ditadura no país


Por Cláudia Souza*

04/11/2013


 

Ministro Agustin Rossi apresenta arquivos da ditadura (Foto: AFP)
Ministro Agustin Rossi apresenta arquivos da ditadura (Foto: AFP)

 

O ministro da Defesa da Argentina, Agustín Rossi, anunciou nesta segunda-feira, dia 4, diante das câmeras de televisão, que foram localizadas atas secretas das juntas militares que governaram o país entre 1976 e 1983. Os documentos foram descobertos no porão da sede da Força Aérea, em Buenos Aires, e, de acordo com o Ministério da Defesa, são de “imenso valor histórico”.

— Foram encontrados seis arquivos com os originais das atas da junta militar, incluindo todas as atas secretas de 24 de março de 1976 a 10 de dezembro de 1983, totalizando 280 atas.

De acordo com Rossi, os documentos revelam o suposto vínculo entre os dois principais jornais do país, Clarín e La Nacion, e o regime militar. O ministro sugeriu que a partir desta relação os dois jornais tenham conseguido o controle da empresa Papel Prensa, que fornece papel para jornais do país. Os jornais Clarín e La Nación detêm a maioria das ações da Papel Prensa.

— É a primeira vez que encontramos documentos históricos que abarcam todo o período da ditadura. Estão ordenados por ordem cronológica e confirmam as acusações do governo Kirchner. Entre os papeis, há 13 atas referentes ao Papel Prensa. A venda da empresa esteve diretamente relacionada com a detenção da família Graiver, dona do negócio, afirmou Rossi.

Há indícios de que a única fábrica de papel de imprensa do país foi parar nas mãos do Clarín e do La Nación com o aval da ditadura militar, que seqüestrou, ameaçou e torturou familiares de David Gravier, sócio majoritário, morto de forma misteriosa em agosto de 1976, em um acidente aéreo, após ser torturado para vender a empresa.

As declarações de Rossi foram feitas sete dias após a Suprema Corte de Justiça declarar constitucionais os artigos da Lei de Meios, projeto que, segundo o governo argentino, “democratiza” a imprensa e “acaba com os monopólios” do setor.

Assassinatos

Os arquivos contêm ainda outros documentos e fotos do período entre o golpe de Estado de março de 1976 até o fim do regime militar, em 1983. Durante esse período, 30 mil militantes da oposição foram assassinados ou desapareceram sem deixar vestígios. Até hoje, apenas algumas centenas foram identificados.

Os documentos mostram que a junta militar tinha planos de governo que iam até o ano de 2000. Também foram encontradas no arquivo várias das chamadas “listas negras” de pessoas, classificadas de acordo com quatro níveis de periculosidade. As listas incluem mais de 300 pessoas, sendo que metade são artistas e intelectuais argentinos, entre os quais a cantora Mercedes Sosa, o escritor Julio Cortázar, morto em 1984, a atriz Norma Aleandro e a escritora de livros infantis María Elena Walsh.

Violação

Há dez anos, a anistia para crimes cometidos durante a ditadura foi abolida. Desde então, o judiciário argentino teve que lidar com diversos casos de violação dos direitos humanos e centenas de membros de esquadrões militares foram condenados.

Rossi manifestou a esperança de que os documentos agora encontrados ajudem a esclarecer fatos sobre os procedimentos e a comunicação interna da junta militar. Há anos, as Forças Armadas argentinas são confrontadas com exigências para abrir seus arquivos.

*Com informações da RFI/ AFP/EFE

Veja abaixo a apresentação de Rossi: