Governo Federal anistia perseguidas políticas em comemoração ao Dia Internacional da Mulher


Por Cláudia Souza*

10/03/2014


Sessão especial de Anistia do Ministério da Justiça(Foto: Weldson Medeiros/G1)

Sessão especial de Anistia do Ministério da Justiça(Foto: Weldson Medeiros/G1)

Em sessão especial para homenagear o Dia Internacional da Mulher, quatro vítimas da ditadura receberam nesta sexta-feira, dia 7, pedidos de desculpas do Estado brasileiro por violências e perseguições sofridas durante a repressão militar.

A jornalista Lúcia Leão, a advogada Aglaete Nunes Martins, a professora universitária Maria do Rosário da Cunha Peixoto, e a psicanalista Lúcia Maria de Cerqueira Antunes Borges Rodrigues vão receber indenizações relativas aos prejuízos materiais que sofreram devido à perda de empregos, exílio e prisão por motivos políticos.

Os processos foram julgados pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça. A ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci, disse durante o evento que todas as instituições públicas devem contribuir para desvendar crimes cometidos durante o regime militar (1964-1985).

— Todas as instituições brasileiras têm de tomar para si a responsabilidade moral e ética de dar as mãos e contribuir para desvendar os crimes, que, até então, ficavam só entre os familiares e nós, ex-presas.

Aglaete Nunes Martins foi a primeira a depor. Ela contou que seu escritório no Centro do Rio de Janeiro foi invadido e destruído em 1984, por agentes do extinto Departamento de Ordem Política e Social (Dops), que procuravam uma gráfica clandestina responsável, segundo eles, por impressão de material subversivo. Ela foi processada pela Justiça Militar com base na Lei de Segurança Nacional. Aglaete disse que até hoje sofre restrições devido a este processo.

Maria do Rosário da Cunha Peixoto, da Universidade de São Paulo (USP), trabalhava na Secretaria de Educação de Minas Gerais, em 1969, quando foi presa, em 15 de junho do mesmo ano, e só ganhou a liberdade em maio de 1970, tendo sofrido torturas durante o período em que esteve detida. Ela disse que foi forçada a pedir demissão devido aos constrangimentos sofridos no trabalho, teve dificuldade para conseguir emprego e praticamente viveu na clandestinidade, até ser acolhida pela USP.

Lúcia Maria de Cerqueira Antunes Borges Rodrigues narrou à Comissão de Anistia que com o golpe militar de 31 de março de 1964, seu marido, então superintendente de Reforma Agrária em Pernambuco, foi para o interior tentar organizar uma resistência armada, que acabou fracassando. Ele perdeu o cargo e o emprego de professor universitário, o que a obrigou a trabalhar no Senac pernambucano. Devido às perseguições sofridas pelo marido, o casal fugiu para o Paraguai, onde o marido conseguiu ser contratado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (Bid) para trabalhar nos Estados Unidos. O casal retornou ao Paraguai e conseguiram voltar ao Brasil após a promulgação da Lei de Anistia.

A jornalista Lúcia Leão foi presa aos 16 anos, em São Paulo, e passou mais de 30 dias no DOI-Codi de São Paulo, na época comandado pelo então coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra. Lúcia disse que foi molestada algumas vezes durante o tempo em que ficou presa, e que testemunhou muitos atos de violência contra outros presos. Depois de libertada, ela não conseguiu estudar em São Paulo e se mudou para o Rio de Janeiro, indo mais tarde para Brasília, onde trabalha na imprensa.

*Com Agência Brasil