01/08/2019
“O que eu estou fazendo é confiar na Constituição brasileira, nas instituições brasileiras. Inclusive nos tribunais brasileiros. Que eles irão proteger o que a Constituição garante, que é a liberdade de imprensa para reportar e informar o público, da forma como estamos fazendo”.
A explicação é do jornalista Glenn Greenwald, fundador e editor do The Intercept Brasil, durante a entrevista coletiva que concedeu, na última terça-feira (30/07), na Sala Belisário de Souza, no 7º andar da sede da Associação Brasileira de Imprensa – ABI.
Seu encontro com jornalistas brasileiros e estrangeiros ocorreu pouco antes de participar do ato em sua homenagem e na defesa da liberdade de imprensa promovido pela Casa do Jornalista e diversas outras entidades, como noticiado em Manifestação na ABI é destaque no exterior
Greenwald fez ainda um alerta aos colegas jornalistas: “Se o Sérgio Moro e o Jair Bolsonaro podem me ameaçar, ou puderem me prender por causa das reportagens que estamos fazendo, eles poderão fazer isso com todos vocês, com todas vocês”
E prosseguiu no seu alerta: “Todos os jornalistas, inclusive os jornalistas que não amam o jornalismo que eu faço, ou que não amam o The Intercept Brasil, têm a responsabilidade de denunciar as ameaças que Sérgio Moro e Jair Bolsonaro estão fazendo, porque se eles podem fazer isso comigo eles poderão fazer com jornalistas em todas as redações. Assim a democracia vai acabar. Eu acho que a situação é grave”.
Depois de deixar claro que seu trabalho não tem como alvo principal atingir alguém, mas sim defender a democracia brasileira, a transparência, através da liberdade de imprensa, lembrou que dois órgãos de comunicação que apoiavam o então juiz Sérgio Moro e a Operação Lava Jato já pediram o afastamento do juiz e condenaram suas práticas à frente da 13ª Vara Federal de Curitiba.
“Um jornal de direita, o Estadão, disse que ele deveria renunciar ao seu cargo público porque nossas revelações foram bem graves. Nossa parceira jornalística é também uma revista da direita que apoiava Sérgio Moro e a Lava Jato, durante os últimos cinco anos – a revista Veja. Ela também, depois que olhou para essas evidências, também disse que o comportamento do Sérgio Moro é totalmente grave, anti-ético, ilegal, nas palavras da revista Veja”.
Ao defender as publicações do The Intercept com transcrições dos diálogos entre procuradores da República, juízes e delegados federais da Operação Lava Jato, Greenwald explicou que não se trata de um trabalho ideológico ou político.
“Nada do que estamos fazendo é sobre ideologia, nem um partido, nem um prisioneiro, nem um político. Todas as coisas que estamos fazendo é em defesa da democracia, da transparência, de uma imprensa livre e o direito dos jornalistas para levar transparência para as pessoas mais poderosas no país”.
Ele garantiu que desde o início sabia dos riscos que iria correr, inclusive de ser preso. Mas prometeu que continuará no Brasil dando continuidade às reportagens, hoje desenvolvidas com a ajuda da equipe do The Intercept.
“Quando o presidente da República está lhe ameaçando, três dias consecutivos, usando seu nome, como Jair Bolsonaro está fazendo contra mim, obviamente o risco é sério, de eu poder ser preso. Eu sei disso. Nós sabemos disso, desde o começo”.
Explico porque que, podendo sair do país e dar continuidade às reportagens sem correr risco, prefere ficar no Brasil:
“Eu tenho um passaporte norte-americano que me permite ir para o aeroporto, nesta hora, e sair deste país. Ir para os Estados Unidos ou Europa e fazer todas essas mesmas reportagens, usando a Internet. Mas eu não estou saindo, não estou usando esse passaporte. Nós sabemos. Desde o começo, que o que estamos fazendo vai muito além de questões de Sérgio Moro ou da Lava Jato…”
Para ele, deixar o Brasil seria o mesmo que abrir mão da luta pela democracia e liberdade de imprensa.
“Nós sabemos que a luta que estamos iniciando é a luta em defesa da democracia, em defesa de uma imprensa livre. Se eu saísse do Brasil, (…) já perderia essa luta. Por causa disso eu estou ficando, com confiança na Constituição brasileira e nas instituições brasileiras. Inclusive nos tribunais brasileiros”.
Sua confiança é que o Poder Judiciário irá “proteger o que a Constituição garante, que é a liberdade de imprensa para reportar e informar o público da forma como estamos fazendo”.
Abaixo apresentamos o vídeo da integra da entrevista gentilmente cedido pela TVCRIO – TV Comunitária do Rio de Janeiro, que ocupa o canal 6 da NET-Rio.