Futebol e o cinema nacional em debate na ABI


08/07/2009


Victor Andrade de Melo, Guilherme Roseguini e José Carlos Asbeg

Jornalistas, associados e o público em geral prestigiaram o terceiro encontro do ciclo de palestras “Futebol arte: A arte de futebol” realizado na noite desta terça, 7, na ABI, instituição promotora do evento juntamente com o Grupo de Literatura e Memória do Futebol (MemoFut), o Laboratório de História do Esporte e do Lazer da UFRJ (Sport), o canal SporTV e as editoras Livrosdefutebol.com, e Apicuri. 

Formaram a mesa de debates sobre o tema “Futebol e cinema”, o historiador e professor da UFRJ Victor Andrade de Melo, o jornalista Guilherme Roseguini e o cineasta José Carlos Asbeg. 

O evento, que acontece na primeira terça-feira de cada mês, tem por objetivo reunir jornalistas, acadêmicos e artistas para debater o esporte a partir de ângulos distintos como o samba, a dança, as artes plásticas, a literatura e o cinema. 

O jornalista José Rezende, Coordenador do Centro Histórico-Esportivo da ABI, deu início ao encontro com a projeção do filme “Garrincha, alegria do povo”(1963), de Joaquim Pedro de Andrade. 

Logo após a exibição, o jornalista Guilherme Roseguini abriu o debate chamando a atenção para o sucesso dos filmes nacionais que abordam a temática do futebol.

O historiador e professor Victor de Melo, Coordenador do Laboratório de Esporte e Lazer da UFRJ (Sport), lembrou que a parceria futebol-cinema gerou bons filmes, que, entretanto, não obtiveram retorno comercial: 
— Esses filmes não alcançaram sucesso de bilheteria. Porém, para o pesquisador, aquele que quer ver o futebol no cinema para interpretar o Brasil — já que o registro cinematográfico fica para a história — acredito que esta interação tenha dado um resultado positivo. 

Autor dos livros “Cinema e esporte: Diálogos” e Esporte e cinema: Novos olhares”, Vítor destacou que o primeiro filme a apresentar o futebol no roteiro data do ano de 1931. 
— A partir daí, as portas foram abertas para outras produções, com destaque para “Rio 40º”, de Nelson Pereira dos Santos, um filme importante para a cinematografia nacional, que tem o Maracanã como cenário em quase um terço da trama. 

O cineasta José Carlos Asbeg, diretor do documentário “1958: O ano que o mundo descobriu o Brasil”, ressaltou, com bom humor, que o seu filme não obteve retorno de bilheteria. Para Asbeg, o fracasso comercial das produções brasileiras sobre futebol estão vinculadas a questões culturais e não ao tema: 
— Na época das chanchadas, os filmes alcançavam grande sucesso de público. As pessoas iam muito ao cinema ver os filmes brasileiros. Depois, a estética do Cinema Novo afastou um pouco esta audiência, que gostava de dar risada de si mesma, de seus costumes, mas tinha resistência em refletir sobre sua própria realidade. Este afastamento encontra eco nos dias atuais. Cerca de 80 milhões de brasileiros foram ao cinema no ano passado, mas somente 10% desse total para ver os filmes nacionais. 

Citando “O corintiano”, de Mazzaropi, obra que alcançou retorno comercial, Victor de Melo afirmou que o tema futebol não faz sucesso no cinema porque o espectador está ausente do espetáculo: 
— No estádio, a arquibancada influi no resultado de uma partida, tem uma participação muito ativa. Isto não ocorre no cinema, pois a platéia assiste passivamente ao filme. O público que lota os estádios, acaba não enchendo as salas de cinema, já que os filmes apresentam um roteiro definido, que pode ser previsível, enquanto o futebol é invariavelmente imprevisível. 

Preconceito 

Victor sublinhou ainda que, durante um determinado período, o tema futebol, por ser popular, foi deixado de lado por cineastas, jornalistas e acadêmicos:
— Na imprensa, o futebol foi inicialmente encarado como futilidade. Nas universidades, era inconcebível que um historiador ou um sociólogo se debruçasse sobre o esporte para entender melhor a sociedade. Mas isto vem mudando com o tempo. 

Segundo José Carlos Asbeg, o fato de o futebol ter sido utilizado politicamente durante a ditadura militar para incentivar o sentimento ufanista da nação e desviar a atenção da sociedade dos problemas internos do País, pode ter contribuído para o afastamento do público: 
— Lembro que durante a Copa do Mundo de 1970 muitas pessoas chegaram a torcer contra o Brasil para não fazer o jogo dos militares. 

Ficção 

A dificuldade para a realização de filmes de ficção sobre futebol foi um ponto abordado pelos palestrantes, ao final do evento. 
—Manter a espontaneidade de um drible durante uma encenação é algo quase impossível se de conseguir. “Pelé eterno”, de Aníbal Massaini, é um documentário de qualidade, mas que apresenta resultado primário na cena de um gol, devido aos problemas de marcação cênica de uma partida, avaliou Asbeg. 

Victor de Melo citou “Fuga para a vitória”, de John Huston, no qual o ator Sylvester Stallone interpreta um jogador de futebol: 
— O resultado da encenação foi tão ruim que o roteiro teve que ser mudado. O Stallone passou a ser o goleiro para que o resultado não fosse tão artificial. 

Para Guilherme Roseguini, “Linha de passe” e “O ano em que meus pais saíram de férias”, dirigidos, respectivamente, por Walter Salles e Cao Hamburger, são exemplos de obras recentes nas quais as cenas de partidas de futebol foram reproduzidas com êxito. 

No encerramento do debate, os participantes sortearam livros sobre o tema para a platéia.